Miguel Antonio Ordoñez

Jornalista freelancer especializado em canábis

Miguel Antonio Ordoñez

Última actualização: 21 Dezembro 2020

Hoje em dia, praticamente todos os bancos de sementes de canábis oferecem sementes autoflorescentes juntamente com as suas variedades fotoperiódicas. Estas sementes não são apenas uma curiosidade; existem dezenas de variedades muito apreciadas por cultivadores amadores em todo o lado. Mas afinal, o que são sementes de canábis autoflorescentes? Em que diferem das outras sementes de canábis? E por que motivo se tornaram tão populares? Vamos descobrir!

O que é a canábis autoflorescente?

A cannabis autoflorescente destaca-se pela sua capacidade de florescer independentemente do ciclo de luz. Ou seja, não segue a alteração natural das estações, pois começa a florir de acordo com a idade da planta. Esta característica diferencia-a da cannabis fotoperiódica, que requer uma transição para um ciclo de luz de 12/12 horas para iniciar a floração. Para os cultivadores, isto é especialmente prático, pois permite manter o mesmo ciclo de luz estável até à colheita.

Outra particularidade das autoflorescentes é o seu tamanho compacto. Normalmente, estas plantas não ultrapassam os 50–100cm, tornando-as ideais para cultivo em espaços interiores reduzidos. Além disso, as autos têm um crescimento rápido, sendo possível colher em cerca de 70 dias após a sementeira.

História da cannabis autoflorescente

Se está curioso sobre a origem desta novidade, basta olhar para a Cannabis ruderalis! Esta é uma subespécie selvagem, normalmente encontrada na Sibéria e noutras zonas de clima semelhante. Embora muitos conheçam as variedades indica e sativa, este terceiro elemento mantém-se mais discreto, devido ao seu porte reduzido e produção menos generosa. No entanto, distingue-se pela sua capacidade de crescer rapidamente e de forma independente do ciclo de luz. Até em regiões quase árticas, onde quase não há pôr do sol, consegue desenvolver-se em pleno.

Com o objetivo de integrar estas características nas suas variedades fotoperiódicas, vários cultivadores começaram a cruzar genéticas de ruderalis no início da década de 70. Para grande entusiasmo, descobriram que era possível manter praticamente o mesmo teor de THC e rendimento das variedades tradicionais, ganhando ainda a vantagem da floração automática e um crescimento mais célere.

Apesar de terem sido necessários muitos anos de seleção genética, atualmente as autoflorescentes conseguem facilmente competir com as variedades fotoperiódicas. Em alguns casos, até as superam em potência e sabor. E, claro, destacam-se pela rapidez, permitindo colher várias vezes no mesmo ano. Não é de admirar que sejam hoje sementes de canábis muito procuradas por cultivadores em todo o mundo.

Como são criadas as sementes de canábis autoflorescente?

Tendo tudo isto em conta, pode estar a perguntar-se como poderá criar as suas próprias sementes autoflorescentes. Existem, na verdade, duas opções ao seu alcance.

Método #1 Cruzamento com canábis autoflorescente

As sementes autoflorescentes podem ser obtidas a partir de qualquer variedade de canábis autoflorescente (com predominância de ruderalis). É fundamental utilizar sementes regulares (não-feminizadas), pois assim garante-se uma proporção equilibrada de plantas masculinas e femininas. Porque é que este equilíbrio é importante? Ao contrário dos cultivos tradicionais em que se pretende apenas colher as flores, aqui são necessários machos para polinizar as plantas fêmea e obter novas sementes autoflorescentes. Ao permitir que cresçam juntos, irá colher uma grande quantidade de sementes na altura da colheita.

Método #2 Cruzamento de variedades fotoperiódicas com ruderalis

Criar a sua própria variedade requer mais tempo e dedicação, mas é um processo extremamente gratificante! Para desenvolver versões autoflorescentes de variedades fotoperiódicas, a técnica recomendada é o cruzamento seletivo. Os primeiros descendentes deste cruzamento provavelmente não serão autoflorescentes. Contudo, ao longo das gerações, a presença do gene responsável pela autofloração começará a surgir e será transmitida para as gerações seguintes. Como existe uma probabilidade de 50% do gene ser transmitido, e é necessário que tanto o macho como a fêmea o possuam, a hipótese de obter plantas autoflorescentes na geração seguinte ronda os 25%.

Aperfeiçoar a sua variedade de canábis: seleção e retrocruzamento

Se quer realmente obter sementes especializadas, recomendamos experimentar a seleção intencional. Este método consiste em escolher apenas as melhores plantas, tendo em conta critérios como sabor, potência e produtividade. Isole os exemplares seleccionados das restantes plantas e faça a polinização num ambiente controlado, como uma tenda ou sala de cultivo. Pode demorar várias gerações até alcançar resultados significativos, mas é a forma mais eficaz de criar uma variedade de alta qualidade.

No que diz respeito ao retrocruzamento, trata-se de cruzar os melhores resultados das combinações anteriores com a sua variedade fotoperiódica original. A cada nova geração, as características desejadas tornam-se mais evidentes nas plantas resultantes. Continue este processo até à terceira geração, altura em que, normalmente, cerca de 100% das sementes produzidas serão automáticas.

Vantagens e desvantagens das sementes autoflorescentes

Tal como outras variedades, as autoflorescentes apresentam vantagens e desvantagens próprias. O melhor para si dependerá de vários factores, como o ambiente de cultivo, expectativas pessoais e preferências. Vamos analisar os principais prós e contras das sementes de canábis autoflorescente:

Vantagens:

• Adaptam-se bem a condições menos ideais. São normalmente resistentes ao frio e a flutuações de temperatura, bem como ao bolor, o que torna as autos excelentes para cultivo exterior em climas frios e húmidos.

• São extremamente fiáveis no cronograma. As autoflorescentes crescem durante 3 a 4 semanas e depois entram automaticamente na fase de floração, permitindo planear facilmente as colheitas, já que sabe exactamente quando semear e colher.

• Têm um ciclo de vida mais curto do que as plantas fotoperiódicas, possibilitando colheitas mais rápidas. Também é possível realizar várias colheitas numa só época, semeando de forma escalonada.

• São plantas de pequena dimensão que encaixam facilmente em espaços reduzidos (tendas pequenas, varandas, terraços, etc.), ideais para microcultivos e também para quem procura discrição ao cultivar ao ar livre.

• Necessitam de menos nutrientes do que as grandes plantas feminizadas fotoperiódicas, o que resulta numa poupança económica.

• Não é necessário mudar o fotoperíodo, tornando-as perfeitas para quem está a começar.

Desvantagens:

• As colheitas tendem a ser mais pequenas comparativamente às variedades fotoperiódicas.

• Podem apresentar um teor de THC inferior em relação a outras variedades fotoperiódicas.

• Apresentam uma janela limitada de duas semanas para técnicas de treino, o que dificulta processos mais agressivos (poda, fimming, topping, etc.). Algumas técnicas de treino suave são possíveis—mas faça-o com cuidado.

• Não é possível tirar clones das autoflorescentes.

• Precisam de mais horas de luz para resultados ideais, o que pode aumentar o custo da electricidade.

Aspectos a ter em conta ao cultivar canábis a partir de sementes autoflorescentes

As plantas autoflorescentes distinguem-se das variedades fotoperiódicas femininas, e isso reflete-se nos cuidados específicos de cultivo que exigem. Eis algumas sugestões para garantir que as tuas autoflores crescem com saúde e produzem o máximo:

• Opta por uma variedade cujo ciclo de crescimento e floração se adapte ao teu calendário. Lembra-te que as autoflores começam a florir automaticamente, ou seja, não consegues prolongar a fase de vegetação. Assim que plantares a tua semente, a planta estará pronta aproximadamente em 70 dias, independentemente dos ajustes que tentes fazer. Planeia o teu cultivo tendo isto em conta.

• Reduz a dose de nutrientes! As autoflores precisam de muito menos fertilizante do que as plantas femininas fotoperiódicas de maior porte. Por norma, basta fornecer-lhes cerca de 50%, ou mesmo apenas 25%, da dose habitual recomendada.

• Evita o transplante das tuas autoflores. O transplante pode provocar stress nas plantas, atrasando ou até interrompendo o crescimento – e as autoflores não têm tempo de recuperar desses percalços. Por isso, semeia diretamente no vaso final. Recomendamos vasos de tecido como o Vaso de Tecido Geotêxtil Zamnesia com 11 litros. Estes vasos favorecem o desenvolvimento saudável das raízes e praticamente eliminam o risco de excesso de rega.

• Confirma que o espaço de cultivo tem altura suficiente para o desenvolvimento total das tuas plantas, visto que não conseguirás treinar os ramos. Consulta as descrições das variedades para saberes qual a altura máxima esperada.

• Podes manter as autoflores sob praticamente qualquer regime de luz; alguns cultivadores preferem 24/7, mas o ciclo de 20/4 (20 horas luz, 4 horas escuridão) é o mais comum. Assim consegues colheitas mais generosas, ao mesmo tempo que poupas energia durante as horas extra de escuridão.

Maximizar a produção da tua canábis autoflorescente

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As colheitas das tuas variedades autoflorescentes ficam aquém do esperado? Vê estas dicas para potenciares a produção de flores:

• Evita fertilizar em excesso! Ao contrário do que se possa pensar, mais nutrientes não se traduzem em maiores flores ou produções superiores. As autoflorescentes têm raízes mais pequenas e são facilmente sobrecarregadas. Se fores além do necessário, as plantas podem sofrer ou adoecer.

• Garante que o pH e os nutrientes estão nos níveis certos. Em terra, assegura que o pH da água/solução de nutrientes está entre 6,0 e 7,0. Ajusta conforme necessário.

• Proporciona 19–20 horas de luz por dia. Aproxima a fonte de luz das plantas para aumentar a intensidade, ou considera uma luz mais potente no teu espaço de cultivo.

• Evita qualquer tipo de stress nas tuas autoflorescentes! Evita transplantes, técnicas de treino agressivas, cortes ou podas. Se for mesmo preciso treinar, recorre apenas a métodos suaves como o LST (low stress training).

• Usa um substrato bem arejado. As autoflorescentes precisam de um solo ainda mais solto do que as fotoperiódicas feminilizadas. Se o substrato for muito compactado, as raízes não se desenvolvem bem, e humidade estagnada devido à má drenagem pode causar vários problemas. Se necessário, mistura perlita (10–15%) para otimizar as condições.

• Cultiva em "sea of green" (SOG) para rentabilizares ao máximo o espaço. Com o seu tamanho reduzido, as autoflorescentes funcionam muito bem neste método—coloca várias plantas pequenas na área de cultivo para maximizar o rendimento global. Utiliza vasos quadrados para ocupares todo o espaço disponível na tenda ou sala de cultivo. Assim, compensas facilmente o menor volume de produção por planta individual.