Steven Voser

Jornalista de cannabis nomeado para os prémios Emmy

Steven Voser

Última actualização: 1 Março 2024

Revisto por:

Arno Hazekamp

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O THCV é um canabinoide distinto que tem vindo a conquistar o seu espaço em óleos e vaporizadores. Mas que benefícios poderá trazer? Continue a ler para conhecer melhor este composto bifásico. Embora a investigação sobre canabinoides decorra há décadas, só recentemente ganhou maior impulso, à medida que o consumo de canábis se legaliza em vários países. Para além dos canabinoides mais conhecidos, como o THC e o CBD, o menos famoso THCV está a conquistar interesse. Apesar de ser diferente do THC, apresenta um certo efeito psicoativo próprio e pode desempenhar um papel relevante no bem-estar integral. Descubra mais sobre o que torna o THCV verdadeiramente especial.

O que é a tetrahidrocanabivarina (THCV)?

A THCV, conhecida como tetrahidrocanabivarina, é um canabinoide presente nos tricomas da planta de canábis, à semelhança de outros compostos da mesma família. O seu processo começa com o CBGV-A (ácido canabigerovarínico), um precursor que, através de enzimas localizadas nos tricomas, é transformado em THCV-A (ácido tetrahidrocanabivarínico) e outros canabinoides. Para que o THCV-A se converta em THCV, é necessária a descarboxilação, um processo que consiste em aplicar calor aos canabinoides — tal acontece, por exemplo, ao fumar, vaporizar ou utilizar canábis na confeção de cannabutter.

A THCV destaca-se de outros canabinoides devido a algumas características particulares. Em especial, possui efeitos psicoativos semelhantes aos do THC — algo pouco comum noutras substâncias da mesma classe — ainda que apresente um perfil suficientemente distinto, tornando-a interessante por direito próprio.

THCV vs THC

Dado que os nomes são tão semelhantes, é natural questionar-se se existe realmente alguma diferença entre o THC e o THCV. Do ponto de vista químico, distinguem-se apenas por um pequeno detalhe: o THCV apresenta uma cadeia lateral com 3 átomos de carbono, enquanto o THC possui uma cadeia lateral com 5 átomos de carbono na mesma posição da molécula. Ambos os canabinóides partilham componentes semelhantes (Radwa, Chandra, Gul & ElSohly, 2021). Apesar desta semelhança, existem diferenças marcantes entre o THCV e o THC:

• O efeito do THCV é frequentemente descrito como estimulante e mais claro mentalmente do que o proporcionado pelo THC, embora tenha uma duração mais curta. Há quem acredite que o THCV só manifesta os seus efeitos ao influenciar a ação do THC, ajudando, por exemplo, a "suavizar" determinados efeitos do THC.
• Pensa-se que o THCV ajude a reduzir o apetite, enquanto o THC é conhecido por estimulá-lo. Isto faz do THCV uma opção potencialmente interessante para a gestão do peso, embora a investigação nesta área ainda seja limitada (ver "THCV e o sistema endocanabinóide").
• O ponto de ebulição do THCV é de 220°C, ao passo que o do THC está nos 158°C. Este dado é relevante para quem prefere vaporizar uma variedade rica em THCV.

O que faz o THCV no organismo?

Já conhecemos os canabinóides há algum tempo, mas só a partir da década de 1980 é que começámos realmente a compreender como diferentes compostos atuam no nosso organismo. Com a descoberta dos recetores canabinóides e das substâncias que formam o sistema endocanabinóide, os investigadores puderam começar a desvendar os seus efeitos fisiológicos.

O sistema endocanabinóide é responsável por regular várias funções essenciais do corpo, como o sistema imunitário, o sono, o humor e a perceção da dor, entre outras. O nosso organismo produz canabinóides próprios — chamados "endocanabinóides" — que se ligam a dois tipos principais de recetores, designados CB1 e CB2. Certos canabinóides presentes na planta da canábis também conseguem ligar-se a estes recetores, provocando alterações relevantes em diferentes processos fisiológicos. Por exemplo, o THC liga-se sobretudo aos recetores CB1 no cérebro, sendo este o mecanismo associado ao efeito psicoativo típico.

THCV e o sistema endocanabinóide

Apesar de ter sido identificada já em 1973, a THCV permanece uma das canabinóides menos faladas. Os estudos sobre esta substância são escassos e, ao contrário do THC ou do CBD, raramente é abordada nos meios de comunicação ou discutida publicamente. Só agora, impulsionada pelo recente crescimento do sector da canábis, a THCV começa a ganhar notoriedade.

Resultados laboratoriais apontam que, em doses baixas, a THCV atua como antagonista dos recetores CB1, ou seja, inibe os efeitos do THC — uma característica partilhada também com o CBD. Contudo, quando administrada em doses mais elevadas, funciona como agonista desse mesmo recetor, produzindo efeitos semelhantes aos do THC. Em resumo, a THCV pode tanto reduzir como potenciar os efeitos psicoativos da canábis, dependendo da quantidade utilizada.

Esta ação singular da THCV tem levado a investigação a explorar o seu potencial em vários domínios, entre eles:

• Supressão do apetite: O THC é reconhecido pela sua capacidade de estimular o apetite (quem já sentiu os “munchies” sabe perfeitamente do que se fala). No entanto, estudos sugerem que a THCV pode provocar o efeito inverso, ajudando a suprimir o apetite (Abioye A et al., 2020).
• Regulação do humor: Observou-se que a THCV pode ter um efeito relaxante, contribuindo para acalmar o nervosismo e a agitação. Este benefício parece estar relacionado com a ativação aprimorada dos recetores 5-HT1A no cérebro (Marek et al., 2010), importantes na gestão do humor.

Outros estudos procuram ainda perceber se a THCV poderá ter vantagens para a saúde física, mas estas investigações estão numa fase bastante inicial. À medida que surgirem novos dados, é provável que o futuro da THCV seja cada vez mais promissor.

A THCV provoca efeitos psicoativos?

Como referido, os efeitos do THCV variam consoante a dose. Em doses mais elevadas, o THCV pode de facto proporcionar uma sensação agradável de euforia. O efeito produzido por este canabinóide é descrito como mais estimulante e lúcido do que o provocado pelo THC, sendo por isso uma opção interessante para quem quer sentir um ligeiro efeito, mas continuar a desempenhar as suas tarefas diárias. O THCV também pode potenciar certas sensações do THC, como a euforia e o aumento do foco mental, ao mesmo tempo que ajuda a atenuar o stress, ansiedade ou paranoia associados a doses elevadas de THC.

Outro ponto a destacar é que, ao contrário do THC, o THCV não estimula o apetite. Para quem deseja controlar o peso, este pode ser um efeito bastante benéfico. No entanto, para utilizadores que sofrem de problemas relacionados com a alimentação, as variedades com THCV podem não ser as mais adequadas. Finalmente, importa referir que o efeito do THCV se manifesta mais rapidamente, mas tende a desaparecer em metade do tempo em comparação com o THC. Por isso, as variedades ricas em THCV são ideais para quem procura uma experiência mais curta.

Qual é a melhor forma de consumir THCV?

A THCV é um canabinóide secundário que normalmente aparece apenas em quantidades mínimas em algumas variedades de canábis. No entanto, há marcas que desenvolvem comestíveis e gomas enriquecidos com extrato de canábis rico em THCV. Sugerimos a utilização destes produtos para garantir uma experiência mais autêntica e fiável quanto aos verdadeiros efeitos da THCV.

A THCV é legal?

A legalidade dos canabinóides difere significativamente de região para região, já que tanto governos federais como estaduais possuem definições próprias de cannabis e métodos distintos para identificar os seus principais compostos. Nos Estados Unidos, por exemplo, o THCV é legal a nível federal, desde que seja extraído do cânhamo industrial. Já o THC não é permitido. Se pretende experimentar THCV, informe-se primeiro sobre a legislação aplicável na sua área.

THCV: Um canabinóide a ganhar destaque

THCV: Um canabinóide promissor

A THCV é um canabinóide raro que se encontra em quantidades muito pequenas em algumas genéticas modernas de cannabis. Estudos indicam que pode desencadear efeitos psicoativos, embora estes sejam menos intensos e duradouros do que os do THC. A investigação sobre este novo canabinóide também aponta para potenciais benefícios para o bem-estar, mas são necessários mais dados científicos para compreender realmente o impacto da THCV no organismo humano.