Cannabis a nível celular
Cultivar canábis pode rapidamente deixar de ser apenas um passatempo interessante para se transformar numa verdadeira viagem ao universo da botânica. Basta folhear um manual de ciências para perceber que as plantas são organismos vivos incrivelmente complexos. Ter uma noção, mesmo que básica, de como funcionam as plantas a nível celular, vai ajudar-te a perceber melhor aquilo de que elas precisam.
Segue este guia para aprofundares os teus conhecimentos sobre a fisiologia das plantas. Vais ver que vale a pena! Da próxima vez que entrares na tua sala de cultivo, não estarás apenas a olhar para uma massa de folhas verdes — mas sim para milhões de células a funcionarem em sintonia com um objectivo comum: produzir flores resinosas e potentes!
Enquanto cultivadores, costumamos preocupar-nos com aspetos como iluminação, ventilação, variedades, nutrientes e técnicas de cultivo. Contudo, poucos se dedicam a compreender a biologia e os processos celulares da planta. Pode parecer-te pouco relevante perceber estes processos quando cultivas canábis, mas ter conhecimentos básicos sobre o funcionamento interno da planta vai tornar-te num melhor cultivador, já que tudo o que fazes tem primeiro impacto ao nível celular. Ao compreenderes melhor estas funções, consegues ajustar as condições do teu cultivo para que a planta cresça com mais vitalidade e eficiência.
Neste artigo, vamos abordar os vários processos que acontecem ao nível celular e de que modo influenciam o funcionamento da planta. Muitos destes conceitos já ouvimos nas aulas de biologia, mesmo que agora estejam um pouco esquecidos. Vais ver que não é tão complicado como parece e, ao entenderes melhor a biologia da tua planta, só tens a ganhar.
Membrana e citoplasma
Todas as células possuem uma membrana celular. Esta estrutura é formada por uma dupla camada de lípidos e proteínas que reveste a célula, funcionando como uma barreira seletiva: controla rigorosamente que substâncias entram e saem. Imagine a célula como um castelo e a membrana como o fosso envolvendo-o — apenas pela ponte levadiça poderão passar determinadas moléculas. O oxigénio, a água e o dióxido de carbono cruzam facilmente esta barreira, enquanto iões, hidratos de carbono e aminoácidos necessitam de proteínas específicas na membrana para regular a sua passagem.
Além disso, a membrana celular atua no transporte de materiais dentro da célula e na eliminação de resíduos para o exterior, através de processos chamados endocitose e exocitose. É ainda fundamental para a comunicação e sinalização entre células, permitindo que a planta reaja adequadamente, por exemplo, regulando a transpiração ou ajustando a temperatura interna.
No interior da membrana encontra-se o citoplasma, a substância que preenche a célula. O citoplasma é principalmente composto por água e serve de meio onde se dispersam as organelas (ou pequenos órgãos celulares).
Cloroplastos e mitocôndrias
Os cloroplastos são os responsáveis por fornecer energia à planta através da fotossíntese (quem nunca ouviu falar disto?). A fotossíntese consiste na conversão de energia luminosa em energia química, produzindo oxigénio e compostos orgânicos ricos em energia. Estes orgânulos têm cor verde e encontram-se em todos os tecidos verdes da planta, absorvendo a luz para este processo. Assim, a energia é armazenada para ser utilizada posteriormente.
As mitocôndrias são conhecidas como as "centrais energéticas" da célula. São elas que transformam essa energia armazenada em energia química utilizável, fornecendo cerca de 90% da energia necessária para a célula sobreviver! Esta energia é essencial tanto para o crescimento da planta de canábis como para a produção de flores grandes e densas. Como se pode ver, a relação entre cloroplastos e mitocôndrias é fundamental para a fotossíntese.
Retículo endoplasmático, ribossomas, nucléolo e complexo de Golgi
Todas as células possuem um retículo endoplasmático (RE). Este trabalha em conjunto com os ribossomas e o aparelho de Golgi. O RE é uma rede de membranas existentes no citoplasma e encontra-se ligado ao núcleo. A superfície rugosa do RE deve-se à presença dos ribossomas. Estes ribossomas têm como função principal a produção constante de proteínas, as quais se formam no nucléolo, localizado dentro do núcleo.
A parte mais suave do RE armazena essas proteínas. Posteriormente, estas áreas de armazenamento desprendem-se e dirigem-se ao aparelho de Golgi, onde as proteínas sofrem um processamento adicional. O aparelho de Golgi embala as proteínas em vesículas delimitadas por membranas, antes de as enviar para a membrana celular. Por este motivo, o aparelho de Golgi é frequentemente comparado a uma estação de correios, pois embala e etiqueta os materiais que são depois distribuídos para as diferentes zonas da célula onde são necessários.
VACÚOLOS
Os vacúolos são pequenas bolsas de armazenamento presentes nas células. No seu interior, encontram-se sobretudo água, nutrientes e resíduos acumulados. Estes compartimentos são essenciais para apoiar a planta, e o seu papel na estrutura do vegetal é visível a olho nu.
Ao exercerem pressão sobre a parede celular, criam a chamada pressão de turgescência, tornando a planta mais firme. Quando existe falta de água, os vacúolos encolhem e a planta murcha. Ao ser novamente regada, os vacúolos voltam a encher-se e recuperam a sua forma, ajudando a planta a manter-se ereta. Assim, os vacúolos têm um papel relevante na resposta da planta às variações de água no substrato. Através do funcionamento dos vacúolos, pode observar-se a quantidade de água necessária à sua planta.
Núcleo e ADN
O núcleo é o centro de comando da célula — funciona como o seu cérebro. É responsável por coordenar e regular todos os processos celulares. Além disso, o núcleo alberga toda a informação genética (ADN). O ADN contém o código genético para cada célula da planta, sendo idêntico em todas elas, mas determinados genes podem ser ativados ou desativados. Isto determina a função que cada célula irá desempenhar.
Na sua formação, as células têm potencial para se diferenciar em qualquer tipo celular. Podem especializar-se como células da folha, da raiz ou de armazenamento. As hormonas vegetais e os açúcares produzidos pela planta modificam o ADN, conduzindo à especialização destas células.
Hormonas
Todos os tecidos da sua planta de cannabis são compostos por milhões de células. Para que tudo funcione de forma eficiente, estas células precisam de comunicar entre si. É aqui que entram as hormonas, que desempenham o papel de mensageiras.
Por vezes, uma célula precisa de ser redirecionada para uma nova função. Isto acontece, por exemplo, ao tirar estacas para clonagem. As hormonas transmitem à planta a informação de que necessita de desenvolver novas raízes para absorver água e nutrientes, levando à formação de células que se transformarão em células radiculares. Além disso, as hormonas indicam à planta que deve utilizar as suas reservas até que as novas raízes estejam formadas. Este é apenas um exemplo de como as hormonas funcionam como mensageiras internas, permitindo à planta adaptar-se a circunstâncias extremas.