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A erva tranquila: o que aconteceu à kava kava?
3 min

A erva tranquila: o que aconteceu à kava kava?

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O Kava Kava tem sido utilizado tanto de forma recreativa como medicinal há milhares de anos, mas, na última década, tem recebido apenas críticas negativas. O que levou a esta mudança e quais são, afinal, os verdadeiros riscos?

Entre os povos indígenas das ilhas do Pacífico Sul, o consumo de Kava Kava é uma tradição que remonta a milénios. A raiz seca é preparada numa bebida não alcoólica, conhecida por promover relaxamento, melhorar o humor e até estimular a dimensão afrodisíaca. Este ritual é tipicamente partilhado em grupo, seja num convívio após o trabalho ou em encontros sociais maiores. Em resumo, o Kava é sinónimo de momentos sociáveis e agradáveis.

Até há poucos anos, o Kava foi um dos suplementos de plantas mais procurados na Europa e nos Estados Unidos, sendo frequentemente recomendado por médicos de medicinas alternativas para o alívio da ansiedade, distúrbios do sono e alterações de humor. No entanto, em 2001, surgiram subitamente preocupações quanto à sua segurança, com relatos a associarem o seu consumo a danos hepáticos. Na Europa, deixou rapidamente de estar disponível e passou a ser uma substância controlada, interrompendo-se as vendas. Apesar disso, a validade desta proibição tem gerado bastantes dúvidas, já que até 2001 não existiam casos reportados de problemas no fígado e, mesmo após investigações posteriores, não se conseguiu comprovar uma ligação. Mas antes de explorarmos esta polémica, vale a pena conhecer melhor esta planta.

A história do Kava

A história da Kava no Pacífico Sul está intimamente associada ao prazer sensorial e à sexualidade. Existem inúmeras lendas acerca do seu surgimento entre os diferentes povos da região, mas muitas delas relatam encontros sensuais com a planta. Entre estas histórias, a mais conhecida narra o seguinte:

Há muitos séculos, duas irmãs estavam a lavar inhames silvestres junto à costa das ilhas que hoje conhecemos como Vanuatu. Sem o saberem, um viajante tinha chegado uns dias antes e escondido naquele local uma variedade especial de Kava. Enquanto lavavam os inhames, a planta brotou inesperadamente, tocando de forma delicada uma das irmãs numa zona íntima. Surpreendida pelo prazer, questionou-se sobre a origem daquela sensação, dando assim início à descoberta da Kava. Curiosas, as irmãs examinaram a planta, levaram-na para casa e começaram a cultivá-la em segredo no seu jardim durante vários anos.

Naquela época, utilizavam-se apenas variedades selvagens de Kava, que ora provocavam alegria, ora dores de cabeça – o que tornava o seu consumo imprevisível. Quando a Kava das irmãs amadureceu, apresentaram-na à sua comunidade e anunciaram: "Quem provar esta Kava, nunca mais quererá a selvagem. Esta Kava traz o maior dos prazeres".

Naturalmente, a curiosidade tomou conta de todos. Escolheu-se uma jovem virgem para preparar a bebida, servida depois aos homens do povoado. O prazer que sentiram confirmou que esta era, de facto, a verdadeira Kava. A partir desse momento, as irmãs continuaram a multiplicar a planta original, tornando-se na fonte da Kava que, ainda hoje, é consumida em todo o mundo.

Afinal, porquê tanto entusiasmo?

Embora o Kava Kava seja consumido há milhares de anos sem registos de efeitos adversos relevantes, surgiram recentemente relatos que associam esta planta a casos de insuficiência hepática e hepatotoxicidade. Como consequência, vários países passaram a impor restrições ao seu uso.

Existem duas razões principais para os danos hepáticos reportados. Primeiro, de forma tradicional, apenas as raízes da planta são utilizadas na preparação da bebida, sendo que as partes superiores, como folhas e caules, são conhecidas como tóxicas e nunca são empregues. No entanto, alguns fornecedores, em busca de lucro rápido, começaram a comercializar também estas partes indesejáveis, ignorando os riscos para a saúde. Relatos das ilhas Fiji indicam que empresas europeias adquiriram grandes quantidades de folhas e caules de Kava, contrariando assim os métodos tradicionais. O resultado foi a entrada no mercado de alguns lotes considerados problemáticos.

O segundo ponto prende-se com um estudo germano-suíço que analisou 30 casos de possível toxicidade hepática associada ao consumo de Kava, culpando rapidamente a planta pelos efeitos nocivos. No entanto, esta investigação apresentava sérias falhas metodológicas, já que não excluiu participantes com histórico de consumo elevado de álcool ou de medicamentos sujeitos a receita médica, ambos com reconhecido impacto negativo na função hepática. A combinação destes fatores com Kava nunca é recomendada, pelo que as conclusões do estudo devem ser vistas com reservas. Há quem defenda mesmo que houve uma intenção deliberada de afastar do mercado uma erva muito eficaz, algo que poderá ter incomodado certos grupos da indústria farmacêutica.

Em resumo, a proibição do Kava resulta da combinação de diversos fatores: desde o patrocínio do estudo por uma empresa farmacêutica, passando pela utilização indevida de folhas tóxicas nas preparações, até à inclusão de indivíduos já com problemas de fígado. Apesar destas críticas evidentes, o estudo acabou por servir de principal fundamento para a proibição do Kava em grande parte da Europa.

Afinal, o Kava é seguro?

A erva tem sido utilizada de forma segura ao longo de milhares de anos, sem registos de toxicidade. Apenas um estudo, manifestamente com limitações graves, colocou em causa este perfil de segurança. Desde que seja preparada adequadamente e não exista previamente qualquer lesão hepática, há poucos indícios de que a Kava seja perigosa. Tal como acontece com tudo, o abuso ou o uso irresponsável da Kava pode trazer riscos. Contudo, quando consumida de forma responsável e moderada, a Kava é uma opção segura para relaxar e descontrair.

Steven Voser
Steven Voser
Steven Voser é um jornalista independente especializado em canábis, com mais de seis anos de experiência a escrever sobre todos os aspetos da planta: desde os métodos de cultivo, às melhores formas de consumo, passando ainda pelo dinâmico setor e pelo complexo enquadramento legal que o envolve.
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