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How Should We Name Cannabis Strains In The Future?
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Como devemos nomear as variedades de cannabis no futuro?

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Vivemos atualmente uma autêntica era do "velho oeste" no que diz respeito ao mercado legal e semi-legal de canábis. Em nenhum outro aspecto se nota tanto o caos, a criatividade e a inteligência da cultura da canábis como na originalidade dos nomes das variedades. Mas à medida que a canábis se torna cada vez mais aceite pela sociedade, será que vamos precisar de criar um novo sistema de nomenclatura?

Todos temos aqueles nomes de variedades que nos ficam na memória—o clássico Sour Diesel, a lendária White Widow, ou a enigmática Northern Lights. Mas afinal, como surgem estes nomes?

Para percebermos a resposta, é preciso recuar no tempo até às origens da nomeação das variedades e analisar como este hábito evoluiu ao longo dos anos.

História da nomeação das variedades de cannabis

HISTÓRIA DA DENOMINAÇÃO DAS VARIEDADES DE CANÁBIS

A designação de variedades começou na década de 1960, quando produtores viajaram mundo fora à procura de genética de qualidade, respondendo à crescente procura na altura. As primeiras variedades recebiam os nomes das regiões de origem — como Panama Red, Durban Poison, Afghan Kush, Columbian Gold, entre outras.

Com o passar do tempo, as espécies foram cruzadas para melhorar os efeitos, o sabor, a resistência a pragas e a produtividade. As novas gerações passaram a ter nomes mais criativos: alguns inspirados pelos efeitos, como Blue Dream, Painkiller XL ou Blue Mystic. Outros ganharam nomes de acordo com o aroma e sabor, como Sour Diesel, Blueberry e Skunk. Também existem variedades nomeadas em homenagem a celebridades, personagens de ficção ou ícones do universo canábico, como Jack Herer ou Bruce Banner.

Quando duas variedades se cruzam para dar origem a uma nova, o nome da descendência costuma combinar de forma engenhosa elementos dos nomes dos progenitores. Blueberry e White Widow, por exemplo, deram origem à White Berry. Mad Scientist cruzada com Time Wreck tornou-se Dr. Who. Granddaddy Purple e Haze deram origem à conhecida Purple Haze.

Problemas com o sistema de nomes atual

PROBLEMAS COM O ATUAL SISTEMA DE NOMES DE CANNABIS

Como já deve ter percebido, os produtores utilizam alguns critérios ao escolher nomes para as variedades, mas, no geral, o processo é bastante aleatório. Por vezes, isto até tem algum charme, sobretudo quando surgem nomes criativos e inteligentes, como os mencionados acima, mas pode ser menos interessante quando optam por designações como Purple Monkey Balls, Abusive OG ou Cat Piss (todas existindo de facto).

Mesmo quando são escolhidos bons nomes, a ausência de regras claras pode gerar bastante confusão. Por vezes, trata-se apenas de uma coincidência inocente — como quando variedades sem qualquer relação acabam com nomes semelhantes —, mas também pode ser intencional. Nos anos 90, por exemplo, apareceram várias genéticas com a palavra “Diesel” no nome, dando a entender, erradamente, que eram parentes da famosíssima Sour Diesel. Para piorar, nada impede que um produtor pouco ético dê o nome de uma variedade mais popular e valiosa à sua própria criação.

Dado o crescimento exponencial da produção de cannabis e a enorme diversidade de genéticas vindas de todo o mundo, há cada vez mais vozes dentro da comunidade que defendem a necessidade de implementar um sistema de nomenclatura mais padronizado para as variedades de cannabis.

Jorge Cervantes e a evolução rumo a uma genética padronizada

JORGE CERVANTES E O CAMINHO PARA A PADRONIZAÇÃO DAS GENÉTICAS

Jorge Cervantes é um renomado autor e investigador na área do cultivo de cannabis. O seu primeiro livro, “Horticultura de Marijuana Indoor”, foi distinguido com o prémio Gold Benjamin Franklin em 2015 e encontra-se traduzido em seis línguas. Cervantes destaca o trabalho da Phylos Bioscience, uma empresa sediada no Oregon que, segundo ele, poderá liderar o futuro ao nível da padronização genética da cannabis.

A Phylos Bioscience dedica-se à "certificação genética para a cadeia de fornecimento de cannabis" e está a criar um detalhado mapa interativo e aberto das relações genéticas do cannabis. Além disso, realizam testes de ADN em variedades, permitindo que produtores, comerciantes e consumidores confirmem a autenticidade do produto que têm em mãos.

Cervantes afirma: “Admiro realmente o trabalho desenvolvido pela Phylos Bioscience. Estão a recolher informação de inúmeras fontes e, ao fazê-lo, beneficiam todos os intervenientes. Penso que toda a gente deveria aderir ao registo do genoma.”

Acrescenta ainda: “Se não houver uma organização efectiva das variedades, não há consistência possível. Vende-se um produto que não está registado. Isso podia ser aceite antes, mas hoje os requisitos são muito mais exigentes.”

Uma solução para padronizar os nomes das variedades?

Phylos Galaxy Map

A possibilidade de realizar um mapeamento genético preciso impedirá os cultivadores de alegarem que uma variedade é diferente daquilo que realmente é. Esta tecnologia pode também abrir caminho para uma nomenclatura mais padronizada. O mapa galáctico da Phylos propõe uma solução: agrupar as variedades em "clusters" de acordo com os marcadores genéticos partilhados. Será este o futuro de um sistema de nomes padronizados? No futuro, os produtores terão de sequenciar a sua variedade antes de poderem usar designações como “Kush”, “Diesel” ou “Jack” nos nomes?

Poderá a legislação dos direitos de autor vir a ter um papel mais relevante na nomeação das variedades de canábis? Já existem precedentes nesta área, como no caso da GSC, anteriormente conhecida como Girl Scout Cookies. Os criadores foram obrigados a alterar o nome devido a ameaças legais lançadas pelas Girl Scouts of America. Não seria difícil imaginar uma situação onde os criadores registam nomes e vendem direitos sobre parte dessas designações. Atualmente, já se observa alguns cultivadores a associarem o nome da empresa às suas versões de certas variedades. O próximo passo poderá ser a proteção legal dos próprios nomes das variedades.

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É possível imaginar cenários ainda mais rígidos, em que os próprios laboratórios de genética atribuem nomes às variedades, com base em fórmulas científicas totalmente padronizadas. Por exemplo, os laboratórios poderiam devolver plantas aos produtores com uma breve nota: “Parabéns. Criou a Blue Kush 38-D.” Isto poderia retirar parte da diversão ao processo, mas a verdade é que resultaria numa maior defesa dos consumidores.

Isto levanta outra questão importante: quem iria aplicar estas normas? A própria indústria regular-se-ia, ou caberia ao governo essa responsabilidade? Caso não haja uma solução dentro do setor, o acesso cada vez maior a testes genéticos pode facilmente originar conflitos legais: um cliente compra White Widow, descobre que afinal não contém genética de White Widow, processa a loja, que por sua vez processa o produtor. Este tipo de problemas pode resultar na imposição de regras governamentais para a designação das variedades de canábis. Quem já viu debates políticos sobre a canábis sabe que essa situação dificilmente será a ideal. Por isso, talvez seja a altura de a indústria definir regras claras para os nomes e a genética das variedades, enquanto ainda pode fazê-lo.

Adam Parsons
Adam Parsons
Adam Parsons é jornalista profissional especializado em canábis, copywriter e autor, integrando há vários anos a equipa da Zamnesia. Responsável por abordar uma vasta gama de temas, desde o CBD aos psicadélicos, entre outros, Adam dedica-se à criação de artigos de blog, guias e à exploração contínua de uma oferta de produtos cada vez mais diversificada.
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