NPK: qual a proporção ideal para cultivar canábis
Se está a começar no cultivo de canábis, ou se tem tido dificuldades com carências de macronutrientes, não está sozinho. Por vezes, até o excesso de fertilizante pode comprometer o seu cultivo. Independentemente do substrato escolhido, as plantas de canábis necessitam dos nutrientes adequados, nas fases certas do seu desenvolvimento. Elimine as incertezas e colheitas abaixo do esperado com o nosso guia sobre NPK.
Alimentar plantas de canábis pode parecer simples, mas muitos cultivadores iniciantes deparam-se frequentemente com problemas devido a uma gestão inadequada da nutrição. Surpreendentemente, é mais comum dar nutrientes a mais do que a menos.
No entanto, a informação é a chave para o sucesso. Conhecer as proporções certas de NPK para cada fase do ciclo de vida da canábis permite-lhe optimizar a saúde e a produção das suas plantas.
Guia simples das proporções de fertilizante NPK para marijuana
Os nutrientes são um elemento fundamental no cultivo de canábis. O trio de macronutrientes—azoto (N), fósforo (P) e potássio (K)—são essenciais para o desenvolvimento saudável da marijuana, tal como acontece com a maioria das plantas.
Durante o ciclo de vida da canábis, não é possível aplicar sempre o mesmo rácio de nutrientes NPK. As necessidades variam conforme a fase de desenvolvimento e os processos aos quais a planta direciona a sua energia.
Descubra mais sobre a função de cada nutriente para a planta de canábis na secção ‘Detalhes por Nutriente’ do nosso guia de cultivo.
Rácios de fertilizante NPK para canábis consoante o estádio de crescimento
Fertilizar plantas de canábis não se resume apenas a adicionar nutrientes ao solo e esperar que cresçam saudáveis. Para tirar o máximo partido das plantas, é essencial ajustar o rácio NPK de acordo com cada fase do ciclo de vida da canábis.
Fase de plântula
Apesar de esta fase trazer alguns desafios, a fertilização não é um deles. Qualquer boa terra deve ter todos os nutrientes de que uma plântula necessita para crescer saudável. Tentar fertilizá-la nesta fase é mais provável que a prejudique do que beneficie, podendo até provocar a sua morte prematura.
Nesta altura, o melhor é não exagerar nos cuidados; deixe-a desenvolver-se praticamente sozinha!
Fase vegetativa
Assim que a planta entra na fase vegetativa, começa a necessitar de mais nutrientes. Durante este período, o ideal é procurar um equilíbrio de azoto (N), fósforo (P) e potássio (K) na proporção de 3:1:1. No entanto, isso não significa que deva aplicar, obrigatoriamente, um fertilizante com essa exata composição.
Na verdade, a maioria dos substratos já contém azoto suficiente para suportar as primeiras quatro semanas de crescimento vegetativo. Por este motivo, é recomendável ajustar a aplicação de nutrientes conforme as necessidades reais do solo, tendo em atenção o NPK disponível no mesmo.
É sempre preferível fornecer menos nutrientes do que exagerar na dosagem, pois um pequeno défice é muito menos prejudicial do que o excesso. Se o solo for de boa qualidade, muitas vezes um fertilizante com proporção 1:1:1 — com quantidades iguais de cada macronutriente — será suficiente.
Fase de floração
À medida que as plantas de canábis passam da fase vegetativa para a floração, as necessidades de macronutrientes alteram-se significativamente. Nesta altura, deve-se mudar para adubos próprios para floração e ajustar a proporção NPK.
Durante as primeiras semanas de floração, uma relação NPK como 1:3:2 é bastante eficaz; mais perto do final do ciclo, recomenda-se passar para 0:3:3. Na última semana, realize uma lavagem com água pura ou uma solução de limpeza suave para melhorar o sabor final da colheita. Depois disso, está na altura de colher.
O fósforo e o potássio determinam, respectivamente, a quantidade e o tamanho das flores. Assim, o objetivo principal deve ser reduzir gradualmente o azoto ao mesmo tempo que se aumenta o fósforo e o potássio. Demasiado azoto durante o final da floração compromete a qualidade da colheita, tornando o fumo áspero e menos agradável. Nas 3 a 4 semanas finais, elimine totalmente o azoto.
Fertilizante NPK orgânico versus sintético
Cedo ou tarde, de forma consciente ou não, terá de optar entre fertilizantes orgânicos ou sintéticos para a sua plantação. Esta escolha tem impacto tanto a nível ambiental como no próprio desenvolvimento das plantas.
Então, qual deve escolher?
Vantagens dos fertilizantes orgânicos
Os fertilizantes orgânicos apresentam várias vantagens face aos sintéticos:
- Não originam resíduos tóxicos
- Promovem um ambiente saudável no solo
- São absorvidos gradualmente pelas plantas
- Reduzem o risco de sobrecarga de nutrientes ou bloqueio
- Podem ser muito económicos, ou mesmo gratuitos, caso opte por produzi-los em casa
- Versatilidade na absorção: Os fertilizantes granulados (como o composto, estrume, etc.) libertam-se lentamente. Em contrapartida, os líquidos têm uma disponibilidade mais imediata e podem ser absorvidos rapidamente, especialmente quando aplicados através de pulverização foliar.
Tendo em conta estas características, os fertilizantes orgânicos tornam a produção muito mais sustentável. Além disso, o risco de bloqueio de nutrientes é menor quando opta por alimentar as suas plantas de canábis com nutrientes orgânicos.
Vantagens do fertilizante sintético
Os fertilizantes sintéticos existem por uma razão e oferecem algumas vantagens em relação às soluções orgânicas:
- Absorção rápida
- Proporções exatas de nutrientes
- Fácil acesso e preço reduzido
Como são produzidos artificialmente, os fertilizantes sintéticos apresentam proporções rigorosas de NPK, permitindo aos cultivadores um controlo mais preciso sobre a fertilização. No entanto, a menos que conheça em detalhe as necessidades de cada variedade que cultiva, dificilmente conseguirá adaptar perfeitamente as doses, tornando este benefício menos relevante para a maioria das pessoas.
A absorção rápida faz com que os fertilizantes sintéticos sejam indicados para corrigir rapidamente carências nutricionais, mas também aumenta o risco de bloqueio dos nutrientes nas plantas.
Como usar fertilizante NPK para cultivar canábis
Como referido anteriormente, os cultivadores que utilizam terra não precisam de fertilizar durante a fase de plântula. Normalmente, adicionar microrganismos benéficos e enzimas é suficiente. Estes elementos promovem o desenvolvimento das raízes e facilitam a disponibilidade dos nutrientes presentes no solo.
Algumas variedades, sobretudo as indica, costumam responder melhor a doses mais elevadas de fertilizante; quanto maior a presença de sativa, menores são as necessidades em nutrientes. Os híbridos situam-se num ponto intermédio, podendo demonstrar preferência por doses mais leves ou mais elevadas.
A melhor forma de saber exatamente o que uma variedade precisa é através da experiência prática no cultivo dessa estirpe.
Aplicar uma alimentação intensiva—ou seja, fornecer fertilizantes completos e complementares, como estimuladores de floração nas alturas certas—pode resultar em colheitas mais produtivas, mas apenas se a genética da planta demonstrar boa resposta a este regime exigente. Em alternativa, opte por um plano de fertilização equilibrado, ajustando sempre as doses para atingir o ponto ideal de nutrição.
Quem já tentou reforçar cannabis de qualidade duvidosa com aditivos e potenciadores sabe que, no fim, é um desperdício de tempo e dinheiro. A genética será sempre o principal fator a determinar não só a quantidade, mas também a potência da colheita. Mesmo que faça tudo certo, eventualmente irá deparar-se com os limites que as próprias plantas impõem. Progrida nas doses de forma gradual e atenta, acompanhando a reação das plantas a cada etapa. Não existem atalhos para este processo.
Que nutrientes necessitam as plantas de cannabis autoflorescentes?
Com o desenvolvimento das variedades de canábis autoflorescentes, cada vez mais cultivadores escolhem estas plantas pela sua facilidade e rapidez de cultivo. Mas afinal, como alimentar estas plantas? E quais as proporções ideais de NPK para as autoflorescentes?
Devido às características únicas de cada variedade e ao baixo consumo de nutrientes das plantas com predominância ruderalis, não existe consenso quanto à dose ideal de fertilizantes para as autoflorescentes. Contudo, sabe-se de forma generalizada que necessitam de menos nutrientes do que as variedades fotoperiódicas.
O mais indicado é começar por aplicar metade ou até um quarto da dose recomendada para plantas fotoperiódicas. Se após algumas aplicações notar sinais de carência, pode então aumentar gradualmente a quantidade. As plantas de Ruderalis são geneticamente adaptadas para sobreviver em ambientes adversos, o que as torna especialmente resistentes e capazes de prosperar com poucos recursos.
No que toca às proporções exatas de nutrientes para as autoflorescentes, é seguro utilizar as mesmas que usaria para fotoperiódicas, apenas ajustando a quantidade total em baixa.
Solo vs hidroponia
Cultivar canábis num sistema hidropónico implica uma abordagem de alimentação ligeiramente distinta.
É fundamental ter em mente que o substrato é inerte. Ou seja, se não adicionar fertilizante, a água não fornece os nutrientes necessários às plantas – ao contrário de um solo fértil. Além disso, enquanto o solo retém naturalmente os fertilizantes, na água (especialmente quando renovada), isso não acontece.
Neste contexto, terá de fertilizar as plantas com mais regularidade em cultivo hidropónico. Contudo, como não existe um tampão natural como o solo, é fundamental evitar excessos na dosagem de nutrientes. Por outro lado, a alimentação deve começar já na fase de plântula, utilizando cerca de 25% da dose recomendada.
Solo vs fibra de coco
A fibra de coco apresenta-se de forma semelhante à hidroponia. Ao contrário do solo, a fibra de coco não contém nutrientes naturalmente, o que pode obrigar a adicionar fertilizantes desde o início, logo na fase de plântula. Contudo, é essencial verificar a composição do substrato utilizado: enquanto a fibra de coco pura é inerte, existem misturas que, por vezes, contêm muitos nutrientes. Nesse caso, um excesso de fertilização pode facilmente prejudicar uma planta jovem.
A importância do pH e dos micronutrientes
Os macronutrientes referem-se às necessidades essenciais de NPK das plantas, mas o cultivo de cannabis requer também diversos outros nutrientes. Os micronutrientes são igualmente fundamentais e devem estar integrados no programa de fertilização das suas plantas. Além disso, para a absorção eficiente dos nutrientes pelas raízes, é imprescindível garantir que o pH do substrato e da solução nutritiva esteja devidamente ajustado.
A sílica poderá vir a ser considerada um macronutriente essencial no futuro, pois exerce um papel importante no fortalecimento das paredes celulares. Mais ainda, produtores profissionais da América do Norte têm vindo a associar o uso de sílica a uma maior produção de tricomas.
Praticamente todas as marcas de fertilizantes de renome oferecem suplementos para suprir as necessidades de micronutrientes. Estes produtos apresentam normalmente rácios NPK tipo 0.1, 0.2, etc. Se utilizar substratos de elevada qualidade, grande parte dos oligoelementos de que a cannabis precisa já estará presente. Caso contrário, pode sempre reforçar com chá de melaço uma vez por semana.
É sobretudo no cultivo em coco e hidroponia que se torna necessário recorrer a estes suplementos. Nestes casos, ter uma embalagem de cálcio e magnésio (Ca/Mg) à disposição é fundamental.
Não se esqueça de manter o pH entre 5,5 e 6,0 para sistemas de coco e hidro, e entre 6,0 e 6,5 para cultivo em terra. Ajuste estes valores a cada rega. Considere investir num medidor de pH ou optar por nutrientes com ajuste automático de pH, para garantir fiabilidade. Agora, mãos à obra rumo a uma colheita de excelência.
Como identificar problemas com o rácio NPK na cannabis
Se cultivares frequentemente, é bastante provável que te depares com problemas relacionados com nutrientes em algum momento. Ser capaz de reconhecer estes sinais desde cedo é fundamental para conseguires reverter a situação e garantires uma boa colheita.
Uma dica para quem está a dar os primeiros passos: embora possa parecer boa ideia alimentar excessivamente as plantas, na esperança de que cresçam mais rápido, essa é, provavelmente, a principal razão dos problemas em cultivos de iniciantes — juntamente com o excesso de rega. As plantas tendem a lidar melhor com uma quantidade moderada de nutrientes do que com o excesso.
Carência de nutrientes
Se as plantas de canábis não recebem nutrientes suficientes, poderão desenvolver deficiências nutricionais. Outra possível causa é o bloqueio de nutrientes (sobre o qual falaremos já de seguida).
Os sinais mais comuns de deficiência de nutrientes incluem:
- Folhagem seca
- Folhas amarelas ou acastanhadas
- Caules descolorados
No geral, as deficiências de nutrientes são simples de corrigir: basta alimentar as plantas! No entanto, evite exageros. Aumente gradualmente a quantidade de nutrientes e elas irão recuperar sem dificuldades. Uma dose repentina e excessiva não lhes trará benefícios.
Sobrealimentação
O excesso de fertilização ocorre, sobretudo, quando se utilizam adubos sintéticos, uma vez que estes são facilmente absorvidos pelas plantas.
Os principais sinais de excesso de nutrientes são:
- Folhas com aspecto queimado e descoloração amarela ou castanha
- Pontas das folhas curvadas para cima
- Bordos queimados
Para corrigir esta situação, não basta interromper a fertilização. É necessário lavar a terra com água neutra até eliminar todos os nutrientes em excesso. Depois, deve reajustar o pH do solo e retomar a fertilização, mas aplicando uma dose inferior de adubo!
Bloqueio de nutrientes
O bloqueio de nutrientes ocorre quando as raízes da planta deixam de conseguir absorver os nutrientes presentes no solo. Este problema surge frequentemente por excesso de nutrientes ou devido a um desequilíbrio do pH.
Os sintomas do bloqueio de nutrientes são idênticos aos de uma carência nutricional, o que pode confundir facilmente. Se identificar erradamente o problema como uma deficiência e aumentar a fertilização, quando na verdade se trata de um bloqueio de nutrientes, poderá agravar ainda mais a situação.
Nestes casos, o procedimento recomendado é o mesmo para ambas as situações: comece por lavar bem o solo com água, ajuste o pH, e só depois retome a fertilização. Assim, conseguirá resolver tanto as carências nutricionais como o bloqueio de nutrientes.
O essencial: Não exagere!
236e6662-c6e4-4e85-b540-f022062484f6
No que diz respeito à nutrição das plantas de canábis, o melhor é mesmo não exagerar. Como pode verificar, as consequências de uma alimentação insuficiente são facilmente reversíveis e raramente colocam em risco a saúde das plantas — exceto se ficarem durante muito tempo sem nutrientes. Já o excesso de fertilização traz complicações bem mais difíceis de resolver e, normalmente, resulta em danos mais graves para as suas plantas.
O ideal é começar por doses baixas e aumentar gradualmente, observando sempre as pistas que as plantas lhe dão sobre as suas necessidades. Ao adotar esta abordagem, garante que proporciona tudo o que elas precisam, torna-se um cultivador mais experiente e o processo de cultivo transforma-se numa experiência muito mais gratificante.