5 factores essenciais que influenciam a disponibilidade de nutrientes na canábis

5 Fatores-chave que influenciam a disponibilidade de nutrientes na canábis

Steven Voser
Steven Voser
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Que importância atribui à fertilização no cultivo de canábis? Para a maioria dos cultivadores, a resposta será provavelmente "muito importante". No entanto, a fertilização é apenas um dos elementos que determinam a quantidade de nutrientes que as plantas conseguem absorver do solo. Neste artigo, analisamos em detalhe cinco fatores que têm grande impacto na disponibilidade de nutrientes para a canábis.

Muitos cultivadores iniciantes de canábis acabam por centrar toda a sua atenção na fertilização. No entanto, alimentar as plantas vai muito além de simplesmente aplicar fertilizantes. Ao longo deste artigo, explicamos cinco dos fatores mais relevantes que influenciam a disponibilidade e absorção de nutrientes pelas plantas de canábis. Continue a ler para descobrir quais são.

1. Temperatura

Disponibilidade de nutrientes no cannabis: Temperatura

A temperatura no seu espaço de cultivo, seja numa tenda, no interior ou no jardim, tem um papel determinante na saúde das suas plantas de canábis. De modo geral, a canábis desenvolve-se melhor com temperaturas diurnas entre os 20 e os 30°C e temperaturas noturnas entre os 17 e os 20°C. Sempre que a temperatura desce abaixo ou sobe acima destes valores, vários processos biológicos essenciais ao crescimento saudável da planta começam a ser prejudicados. Temperaturas inadequadas no local de cultivo interferem, por exemplo, na atividade microbiana e micorrízica do substrato, na temperatura da água (o que influencia outros processos fisiológicos na planta) e na atividade enzimática dentro do próprio organismo do vegetal.

Como a temperatura influencia a atividade microbiana e micorrízica

Quando as temperaturas estão baixas, o ciclo microbiano e micorrízico do azoto e do fósforo diminui significativamente. Isto é especialmente relevante, uma vez que o ciclo microbiano do azoto é responsável por mais de metade da absorção de azoto nas plantas, e os fungos micorrízicos são essenciais para a absorção de nutrientes (sobretudo fósforo) e água. A produção microbiana de azoto atinge o seu pico entre 24–35 °C.

Pensa-se que a actividade micorrízica reduza consideravelmente abaixo dos 15 °C (Gavito et al., 2005). Tanto a actividade dos microrganismos como a dos fungos micorrízicos também diminui substancialmente quando as temperaturas ultrapassam os 35 °C. Sem o apoio destas bactérias e fungos, as plantas expostas a temperaturas desfavoráveis ficam incapazes de absorver correctamente nutrientes ou água, independentemente da quantidade de fertilizante aplicada ao solo semanalmente.

Como a temperatura influencia a água, a fotossíntese, a respiração e outros processos

A temperatura na sua estufa ou jardim influencia diretamente a temperatura da água presente no substrato e no organismo da planta. Isto, por sua vez, tem um impacto direto sobre a velocidade a que as suas plantas realizam a fotossíntese, respiram e transpiram. Quando as temperaturas são mais elevadas, aumenta também o ritmo de transpiração e a absorção quer de água quer de nutrientes. Em contrapartida, temperaturas mais frias reduzem estas taxas. Se o frio for extremo, pode mesmo dificultar o transporte dos nutrientes (uma vez que os iões são transportados pela água). Os estomas, essenciais para a fotossíntese, também se tornam menos eficientes em ambientes frios.

Como a temperatura influencia a atividade enzimática

As enzimas desempenham um papel fundamental nas reações químicas das plantas, influenciando de forma significativa o seu desenvolvimento e estado de saúde. Tal como sucede com microrganismos, fungos e até a própria água, a actividade enzimática está fortemente condicionada pela temperatura. Se observarmos a actividade das enzimas mediante diferentes temperaturas, verificamos que esta segue um padrão em curva: à medida que a temperatura aumenta, também aumenta a actividade, uma vez que tanto as enzimas como os seus substratos movem-se mais depressa e reagem com maior eficiência. No entanto, acima de certos limites de temperatura, a actividade enzimática cai de forma abrupta até desaparecer.

2. Nível de pH

Disponibilidade de nutrientes na canábis: nível de pH

Há uma razão evidente para os cultivadores experientes de canábis monitorizarem regularmente o pH (também chamado de “potencial de hidrogénio”, que indica, de forma simples, a quantidade de iões de hidrogénio no solo ou em soluções). Regra geral, a canábis prefere solos ligeiramente ácidos, com um pH entre 6,0 e 7,0. Em sistemas hidropónicos ou sem solo, o intervalo ideal situa-se entre 5,5 e 6,5. Manter o pH adequado é essencial por vários motivos, mas tem um impacto particularmente importante na disponibilidade de nutrientes, influenciando assim a capacidade da planta de se alimentar.

A importância do pH na absorção de nutrientes

Os desequilíbrios de pH estão entre as principais causas de carências de nutrientes, bloqueio de nutrientes e excesso de nutrientes na canábis. Quando o pH do solo desce abaixo do intervalo ideal referido acima, a atividade microbiana altera-se e a maioria dos nutrientes (sobretudo cálcio, magnésio e fósforo) deixa de estar disponível para as plantas. Por outro lado, elementos como o alumínio e o manganês tornam-se mais presentes em solos ácidos e podem ser tóxicos. Se o pH do solo subir acima dos 6,5–7,0, o fósforo e a maioria dos micronutrientes deixam de ser absorvidos pela planta.

Disponibilidade de nutrientes em função do pH

Nota sobre cultivo biológico e não biológico

O cultivo biológico de canábis está a ganhar cada vez mais adeptos. Apesar de poder parecer um processo complexo, pode, na verdade, simplificar várias das etapas mais exigentes do cultivo, como o controlo do pH. Utilizar fertilizantes líquidos pode parecer fácil, mas acertar nas doses certas pode ser um desafio, sobretudo para quem está a começar nesta área.

Ao optar desde o início por um substrato biológico e enriquecê-lo com fertilizantes naturais como composto, húmus de minhoca, estrume e farinha de ossos ou peixe, cria-se um ambiente naturalmente rico em bactérias e fungos benéficos, como as micorrizas. Com estes microrganismos presentes, as plantas recebem os nutrientes de forma gradual e ficam mais protegidas contra pragas habituais e doenças comuns.

A importância da análise do solo e da água

Monitorizar e registar regularmente o pH é essencial para detetar precocemente possíveis desequilíbrios. É, sem dúvida, indispensável medir o pH do solo, mas também deve garantir que verifica (e corrige, se necessário) o pH da água. Quando a água entra no solo, pode dissolver minerais presentes, transformando-os em iões que as plantas conseguem absorver. Por outro lado, também pode arrastar minerais para fora do solo, comprometendo a quantidade de nutrientes disponíveis para as plantas e alterando o pH do substrato.

Para evitar desequilíbrios de pH, recomendamos que monitorize o pH do solo de forma consistente ao longo de todo o ciclo da cultura. No caso da água utilizada para rega, normalmente basta medir o pH no início do cultivo, pois tende a manter-se estável. No entanto, é importante verificar o pH da solução nutritiva antes de alimentar as plantas. Vale a pena, ainda, medir o pH do excesso de água que sai pelo fundo dos vasos, já que este valor reflete o que realmente se passa na zona das raízes.

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A importância de um bom composto

A utilização de fertilizantes químicos tem sido uma escolha habitual entre os cultivadores de canábis, mas os métodos biológicos estão cada vez mais em voga. Uma forma simples de apostar em práticas orgânicas é adquirir ou produzir o seu próprio composto. O composto apresenta naturalmente um pH entre 6,5 e 7,0, ideal tanto para a canábis como para a maioria das outras plantas. Além disso, solos enriquecidos com fertilizantes orgânicos, como o composto, conseguem reter e absorver iões de hidrogénio sem alterar significativamente o pH—um fenómeno conhecido entre jardineiros como "efeito tampão". Os solos biológicos possuem ainda mais catiões nutritivos, garantindo uma reserva constante de nutrientes prontos a serem absorvidos pelas plantas quando necessário.

3. Aeração do solo

Disponibilidade de nutrientes para canábis: Aeração do solo

A aeração do solo é um fator fundamental para determinar os nutrientes aos quais as suas plantas têm acesso. Assim como muitas outras espécies, a canábis desenvolve-se melhor em solos bem arejados, e existem várias razões para isso. Antes de mais, este tipo de solo facilita a troca de ar e água, além de criar condições ideais para o desenvolvimento de microrganismos benéficos e atividade micorrízica.

Solo bem arejado favorece a troca saudável de ar e água

Os solos bem arejados permitem uma circulação natural de água e ar em redor das raízes. Para crescerem saudáveis, as plantas de canábis necessitam de absorver oxigénio atmosférico através do sistema radicular. Ao mesmo tempo, libertam CO₂ para o solo, que tem de ser depois dissipado para a atmosfera. Este intercâmbio de gases ocorre eficazmente em solos bem arejados. Em contrapartida, quando o solo é compacto e pouco arejado, as raízes deixam de conseguir absorver o oxigénio necessário, o que trava o seu crescimento e compromete a saúde geral da planta. Da mesma forma, o CO₂ pode acumular-se no solo em vez de ser libertado, causando desequilíbrios. Além disso, solos compactos dificultam a capacidade das plantas em absorver água e nutrientes, restringindo o seu desenvolvimento.

Benefícios para a atividade microbiana e micorrízica

Os níveis elevados de oxigénio que se encontram naturalmente nos solos bem arejados trazem benefícios tanto para a actividade microbiana como micorrízica. Tal como acontece com a maioria dos seres vivos, os microrganismos e fungos benéficos referidos anteriormente necessitam de oxigénio para sobreviver e se multiplicar. Em 2022, um grupo de investigadores chineses publicou os resultados de uma experiência de campo de três anos realizada em plantações de bambu. O objectivo foi analisar os efeitos da arejamento do solo nestas plantações e os dados revelaram que este procedimento não só aumentou significativamente os níveis de oxigénio, como também melhorou a disponibilidade de nutrientes. Este efeito potenciou, por sua vez, a actividade tanto das bactérias como das enzimas ligadas à absorção de nutrientes — especialmente, o azoto e o potássio (Qian et al., 2022).

4. Composição mineral e orgânica do solo

Disponibilidade de nutrientes no cultivo de canábis: composição mineral e orgânica do solo

Outro fator fundamental que influencia a disponibilidade de nutrientes para canábis é a composição do solo. Solos que apresentam maior electronegatividade e maior área superficial detêm uma maior capacidade de troca catiónica (CTC). Solos bem revolvidos e arejados apresentam mais área de contacto do que solos mais compactos e comprimidos. Recordando conceitos de química, a maioria dos solos possui carga negativa, enquanto a maioria dos nutrientes essenciais apresenta carga positiva. Esta combinação permite que os nutrientes se fixem às partículas minerais e à matéria orgânica presentes no solo, evitando que sejam facilmente arrastados pela água da chuva, por exemplo.

Para que as plantas consigam absorver nutrientes do solo, ocorre uma troca catiónica — uma reação química na qual os iões presentes nas raízes da planta são trocados por iões presentes no solo (por exemplo, a troca de um ião de hidrogénio por um de potássio). Solos com maior CTC necessitam de ser fertilizados com menos frequência, mas em quantidades superiores; já solos com CTC baixa beneficiam de fertilizações mais leves mas mais regulares, para garantir que os nutrientes estão sempre acessíveis às plantas.

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5. Humidade do solo

Disponibilidade de nutrientes no solo: Humidade

Por fim, um dos principais elementos que influencia a disponibilidade de nutrientes no solo é a humidade. A quantidade de água presente pode aumentar ou diminuir a capacidade de absorção de nutrientes, ao afetar o pH, o fluxo dos nutrientes e a pressão das raízes. Quando na proporção adequada, a água ativa reações químicas essenciais e ajuda a libertar nutrientes dos componentes do solo. Por outro lado, o excesso de água pode arrastar nutrientes como o nitrato e o fósforo para fora do solo, já que, sendo cargas negativas, não conseguem aderir a partículas igualmente carregadas negativamente. Além disso, quando falta água, as bactérias do solo deixam de produzir azoto aproveitável, o que pode também afetar a atividade das micorrizas.

A natureza complexa da disponibilidade de nutrientes no cultivo de canábis

Como pôde perceber ao longo deste artigo, a nutrição das plantas vai muito além da simples fertilização. Embora não tenhamos conseguido aprofundar todos estes temas neste texto, esperamos ter esclarecido a vasta gama de fatores que podem influenciar a disponibilidade de nutrientes e reforçado a importância de optimizar cada um destes elementos da melhor forma possível.

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