
A folha de longbottom em O Senhor dos Anéis é canábis?
O que fumam as personagens em O Senhor dos Anéis? Gandalf, Bilbo, Merry, Pippin e até Saruman parecem apreciar a enigmática Longbottom Leaf. Mas será que ficam realmente sob efeito dela? Descubra tudo aqui.
Durante anos, uma pergunta tem divertido os fãs de O Senhor dos Anéis: estarão os hobbits da Comarca e Gandalf simplesmente a fumar erva comum ou há algo mais nos seus cachimbos? A atmosfera é inegável: as cenas de fumo são marcadas por tranquilidade, com Bilbo a fazer anéis de fumo à porta de casa, Merry e Pippin a descobrirem barris da erva em Isengard, e Saruman até acusa Gandalf de ter a mente embotada por causa dela.
Esta teoria ganhou força sobretudo entre os adeptos da trilogia cinematográfica, levando muitos a crer que Tolkien terá insinuado algo mais ilícito no seu universo fantástico. Mas existe realmente algum indício disso, ou será apenas uma leitura moderna sobre um costume outrora inocente?
A resposta exige uma análise ao universo criado por Tolkien, especialmente ao que foi dito nos próprios livros. Ao contrário dos filmes, que abrem espaço para diferentes interpretações, os textos originais são surpreendentemente claros.
Como é usada a folha de Longbottom em O Senhor dos Anéis?
O "erva-de-cachimbo" surge frequentemente nas obras de Tolkien, sendo particularmente associada aos hobbits e aos seus inseparáveis cachimbos. A primeira vez que a vemos é em O Hobbit, quando Bilbo Baggins desfruta de um raro momento de calma e reflexão, pouco antes da chegada inesperada de Gandalf.
Este hábito repete-se ao longo de O Senhor dos Anéis. Frodo, Sam, Merry e Pippin aparecem a fumar em várias ocasiões. Quando a narrativa se torna mais sombria, o gosto pela erva-de-cachimbo adquire um tom nostálgico—um elo com o lar, o Shire, e com a simplicidade de uma vida distante da guerra e das trevas.
Talvez o episódio mais marcante ocorra em As Duas Torres, quando Merry e Pippin, após a Batalha de Isengard, tropeçam em barris de erva-de-cachimbo entre os escombros de Orthanc. Em pleno caos, encontram conforto neste símbolo tão familiar da sua terra natal. O quadro é memorável: dois hobbits a rir e a fumar no meio de uma fortaleza em ruínas, como se desafiassem o ambiente sombrio à sua volta.
No entanto, este hábito não pertence apenas aos hobbits. Gandalf raramente dispensa o seu cachimbo, e até Aragorn é conhecido por apreciar este prazer ocasionalmente. A erva-de-cachimbo faz parte da cultura de toda a Terra Média. Existem diferentes variedades—Old Toby, Southern Star, Longbottom Leaf—todas cultivadas no Southfarthing. O Longbottom Leaf, vindo da aldeia de Longbottom, é reputado como o melhor de todos, produto de gerações de dedicação ao cultivo.
Tolkien dedicou até um ensaio curto, "Sobre a Erva-de-Cachimbo", como apêndice em O Regresso do Rei, relatando a sua história em detalhe. Segundo a narrativa, a erva chegou ao Shire através de Tobold Hornblower de Longbottom, por volta do ano 2670 da Terceira Era. Rapidamente conquistou popularidade e tornou-se parte essencial dos costumes hobbit.
Afinal, o que é o Longbottom Leaf?
Embora a ideia de existirem canábis na Terra Média possa ter divertido muitos leitores, Tolkien sempre foi bastante explícito quanto à natureza do pipe-weed. Em "O Hobbit", a substância é identificada como tabaco. Já em "O Senhor dos Anéis", Tolkien refere-se ao seu nome científico, Nicotiana, o mesmo género a que pertencem as plantas de tabaco reais.
Isso elimina grande parte das dúvidas levantadas pelo texto. Se é certo que Tolkien raramente utiliza classificações botânicas modernas para as plantas da Terra Média (quase sempre cria nomes próprios), o tabaco é uma exceção clara. Ele queria que os leitores percebessem que não havia segundas intenções—não era uma alusão disfarçada a algo mais forte. Era para ser visto como algo conhecido e inofensivo.
Vale ainda referir que, no universo de Tolkien, fumar nunca é retratado de forma negativa ou irresponsável. É frequentemente associado a momentos de reflexão, sabedoria e convívio. Seja Bilbo a usufruir de um instante de tranquilidade, ou Gandalf e Théoden a partilharem um cachimbo após uma batalha, a folha está sempre ligada à serenidade e não ao descontrolo.
Dito isto, existe ainda um certo respeito à sua volta. A Longbottom Leaf, em particular, é muito apreciada. Os celeiros de Saruman em Isengard estão surpreendentemente bem abastecidos, algo que leva Gandalf a sugerir que talvez Saruman tenha desenvolvido um gosto pessoal pelos produtos do Shire—uma pequena expressão de inveja ou um vício discreto que cresce à medida que a sua escuridão se adensa.
A Longbottom Leaf é erva nos filmes?
Enquanto Tolkien distingue de forma clara no seu texto original, a adaptação cinematográfica de Peter Jackson opta por uma abordagem mais ambígua. O termo “erva de cachimbo” nunca é realmente explicado nos filmes. Não há qualquer menção à Nicotiana nem ao tabaco; tudo permanece indefinido, permitindo assim aos espectadores actuais tirarem as suas próprias conclusões.
Esta indefinição parece intencional. Basta analisar o ambiente das cenas em que a erva de cachimbo surge: o ritmo é calmo, há um toque de fantasia e certa indulgência; as personagens libertam o fumo de forma exagerada, suspiram de alívio e as conversas tornam-se quase oníricas. E há ainda aquela frase emblemática de Saruman para Gandalf, em «A Irmandade do Anel»: “O teu apreço pela folha dos pequenos claramente te afectou a mente.” Proferida com desdém, soa a crítica a quem exagerou um pouco nos consumos.
Junte-se a isto o comportamento de Merry e Pippin depois do saque a Isengard — estão descontraídos, bem-humorados, entretidos a comer, fumar e rir sem reservas. Embora não estejam declaradamente "alterados", nota-se uma mudança de ânimo. Estes momentos deixam espaço para diferentes interpretações, sobretudo para os públicos de hoje, mais familiarizados com a cultura do cannabis do que com o tabaco de cachimbo inglês do início do século XX.
Jackson e os argumentistas, provavelmente, perceberam que esta ambiguidade divertiria os fãs, e ao evitar referências claras ao tabaco, deixaram o público livre para imaginar o que bem entender sem assumir uma posição.
Tolkien consumiu cannabis?
Não existem indícios de que J.R.R. Tolkien tenha consumido ou sequer experimentado cannabis. Segundo as suas cartas e biografias, era um homem de gostos simples: apreciava chá, cerveja, os seus passeios e, acima de tudo, o seu cachimbo. Ao longo de grande parte da vida, foi fumador de cachimbo e o seu apreço pelo tabaco ficou bem registado.
Para além disso, Tolkien demonstrava uma grande consideração pelas tradições e pela ordem. A sua visão da Comarca baseava-se fortemente nas suas próprias recordações da Inglaterra rural, antes da Primeira Guerra Mundial — um local cheio de pequenos prazeres, hábitos reservados e rotinas de aldeia. O gosto dos hobbits pelo tabaco é um reflexo deste universo; representa uma certa tranquilidade e dignidade, longe do espírito de rebeldia.
Embora hoje em dia associemos o ato de fumar cachimbo a substâncias mais fortes, para Tolkien, esse hábito estava profundamente enraizado nas normas do seu tempo. Não há qualquer indicação de que pretendesse referir-se a outra coisa que não fosse tabaco, quando mencionava o "pipe-weed".
Longbottom Leaf em O Senhor dos Anéis: quem nos dera que fosse cannabis!
Pode não ser canábis, mas a Longbottom Leaf ocupa, ainda assim, um lugar especial no coração dos fãs. Seja como metáfora para a paz, nostalgia ou apenas um hábito peculiar dos Hobbits, representa algo central no universo criado por Tolkien: a importância dos pequenos prazeres, mesmo em tempos de guerra e escuridão.
Nos livros, não há dúvidas — trata-se de tabaco. Mas nos filmes, a ligeira mudança de tom deixa espaço para interpretações. As cenas têm um encanto próprio e a ambiguidade faz claramente parte da diversão. Se alguns espectadores preferirem imaginar Gandalf a experimentar algo mais forte, os filmes não os desencorajam de todo. Por isso, apesar de não ser realmente erva, a discussão acaba por fazer parte da cultura dos fãs. Talvez até faça sentido — afinal, a Terra Média é vasta, cheia de camadas e detalhes a descobrir.
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