
As ligações entre cogumelos mágicos e o Natal
À primeira vista, pode parecer improvável afirmar que os cogumelos mágicos tenham tido influência em muitos dos costumes associados ao Natal. No entanto, continue a ler e talvez descubra que afinal esta ideia não é assim tão descabida!
As tradições de Natal têm raízes muito antigas, remontando aos tempos de São Nicolau, também conhecido como Pai Natal. Habitualmente, o Natal está associado ao Cristianismo e, em menor escala, à marca Coca-Cola, que se diz ter contribuído para as cores vermelha e branca tão presentes nesta festividade.
No entanto, será que práticas psicadélicas da Sibéria também influenciaram o imaginário do Natal que conhecemos hoje? Continue a ler para descobrir o papel que os cogumelos Amanita muscaria (conhecidos como agários-mosqueiros) podem ter tido na criação do Natal moderno.
Que ligação têm os psicadélicos ao Pai Natal e ao Natal?
Pode parecer um exagero dizer que grande parte das imagens e tradições do Natal tem origens psicadélicas — mas talvez, em breve, fique menos cético.
Entre os Koryak e Kamchadal (povos do Extremo Oriente russo), era tradição os xamãs vestirem-se reproduzindo as cores do famoso cogumelo Amanita muscaria durante o solstício de inverno, que começa a 21 de Dezembro — o dia mais curto do ano — e termina a 25 de Dezembro, quando os dias começam a crescer.
Diz-se que estes xamãs utilizavam este cogumelo para embarcarem numa viagem em trenó até à Estrela do Norte, onde procuravam informações sobre o ano que se avizinhava. No regresso, desciam pela abertura no topo da sua tenda (yurt), por onde também passava a chaminé.
Soe-lhe familiar?
Além disso, o Amanita muscaria é conhecido pela sua cor vermelha vibrante com pontos brancos. Coincidentemente, o Pai Natal também é famoso pelo seu traje vermelho e branco — cores popularizadas mais recentemente pela Coca-Cola. Mas e se a verdadeira inspiração for muito mais antiga?
O que é o cogumelo Amanita muscaria (fly agaric)?
Amanita muscaria é uma espécie de cogumelo presente em grande parte da Europa, Ásia e América do Norte. Normalmente, cresce junto a pinheiros e bétulas, com cujas raízes desenvolve uma relação simbiótica essencial para o seu desenvolvimento — mas sobre isso falaremos mais adiante.
Existem várias variedades de Amanita muscaria, sendo que algumas são frequentemente confundidas com outras espécies de fly agaric. Todos estes cogumelos contêm ácido iboténico e muscimol, compostos que provocam efeitos psicadélicos intensos quando ingeridos. No entanto, a sua toxicidade exige uma preparação adequada antes do consumo. Comer estes cogumelos crus e frescos raramente é fatal, mas pode provocar sintomas graves e desconfortáveis.
A história do uso religioso do Amanita muscaria atravessa várias culturas, incluindo as anteriormente referidas e os Sami, povos do norte da Europa. Tradicionalmente, o consumo deste cogumelo com fins psicadélicos está também ligado aos rena. Em breve, explicaremos melhor esta ligação.
Devido à sua dependência das raízes de pinheiro e bétula, não é possível cultivar o Amanita muscaria em ambiente controlado — apenas pode ser encontrado na natureza.
Quais são os efeitos da Amanita muscaria?
Os efeitos do míscaro-moscardo são diversos e dependem, em parte, da forma como o cogumelo é consumido.
Muscimol é o principal composto ativo deste cogumelo e tem uma ação GABAérgica, o que significa que influencia os recetores GABA do cérebro. Por este motivo, apesar de estar classificado como "cogumelo mágico", não tem efeitos semelhantes aos clássicos psicadélicos, que agem sobretudo sobre os recetores de serotonina 5-HT2A.
Entre os efeitos mais frequentes encontram-se:
- Sineestesia
- Sonhos lúcidos
- Delírios
- Estados de transe
- Náuseas
- Euforia
- Sedação/estimulação (os efeitos podem ser paradoxais)
- Experiências fora do corpo
- Tremores e espasmos musculares
Os efeitos atingem o seu pico cerca de 3 horas após o consumo e podem prolongar-se entre 10 e 24 horas.
4 formas como os cogumelos mágicos podem ter influenciado o Natal
Já deve estar bastante evidente de que forma estes cogumelos e os rituais a eles associados poderão ter influenciado o Natal tal como o conhecemos, mas vamos aprofundar um pouco mais esta ligação.
Renas voadoras (e narizes vermelhos)
Para evitar os efeitos tóxicos do míscario (Amanita muscaria), algumas culturas tinham o curioso costume de alimentar as renas com estes cogumelos e, depois, beber a sua urina.
O motivo? As renas são imunes às substâncias venenosas do cogumelo e excretam o muscimol, o composto psicoativo, através da urina. Assim, quem ingerisse essa urina podia sentir os efeitos psicadélicos desejados, sem sofrer as consequências da toxina presente no cogumelo inteiro.
Por esta razão, as renas – essenciais para muitos destes povos – passaram também a estar associadas ao consumo do míscario, especialmente em rituais ligados ao solstício de inverno.
Existe ainda uma teoria curiosa, embora mais especulativa, que sugere que a célebre imagem do nariz vermelho do Rudolfo pode ter tido inspiração direta neste famoso cogumelo vermelho.
Cogumelos mágicos e o solstício de inverno
Como referido anteriormente, estas práticas estavam associadas ao solstício de inverno, que por sua vez coincide com o Natal.
É amplamente aceite que o Cristianismo escolheu o dia 25 de dezembro para assinalar o nascimento de Jesus por simbolizar a chegada de um novo ano e de dias mais luminosos.
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Amanita muscaria debaixo da árvore de Natal
Como já foi referido, estes cogumelos formam uma relação simbiótica com as raízes de pinheiros e bétulas. Aliás, só conseguem desenvolver-se sobre e junto das raízes de certas espécies de árvores.
Em algumas culturas que faziam uso destes fungos, os pinheiros eram também venerados pelo seu porte majestoso e altura impressionante, sendo por vezes chamados de "árvores da vida". Debaixo destas árvores da vida, colhia-se o presente do Amanita muscaria.
Parece-lhe familiar? Pode ser apenas coincidência, mas é possível que esse costume tenha evoluído para a tradição moderna de trazer pinheiros para dentro de casa como árvores de Natal, colocando presentes sob os seus ramos. Em vez de enviar as crianças para apanhar Amanita muscaria, hoje oferecemos-lhes brinquedos por debaixo da árvore.
Além disso, uma forma tradicional de reduzir a toxicidade destes cogumelos passava por secá-los. Um dos métodos era pendurá-los nos ramos dos pinheiros e deixá-los secar ao ar livre. Atualmente, penduramos bolas e decorações de plástico.
Meias junto à lareira
Além disso, os cogumelos Amanita muscaria também eram secos em meias penduradas junto à lareira — uma imagem curiosamente semelhante à tradicional meia de Natal que espera a chegada do Pai Natal.
Xamãs a viajar em trenós
À medida que estas histórias se entrelaçaram com as tradições nórdicas, surgiu uma versão em que Odin atravessava o céu nocturno num trenó puxado por um cavalo gigante. Deste trenó caíam gotas de sangue e, nos sítios onde estas gotas tocavam a terra, brotavam no ano seguinte cogumelos fly agaric.
Amanita muscaria e o Natal: mito ou realidade?
É difícil determinar até que ponto estas tradições influenciaram a imagem moderna do Natal, mas parece improvável que não tenham tido algum impacto. Existem registos de que estes costumes chegaram à Europa central sob várias formas, pelo que é bastante plausível que certos elementos tenham sido assimilados noutras práticas culturais relacionadas com o solstício de inverno e, com o tempo, se tenham tornado parte integrante das celebrações natalícias à medida que ganharam popularidade.
No entanto, nem todos concordam com esta perspectiva. O historiador Ronald Hutton defende que alguns destes aspectos foram exagerados para encaixar numa determinada narrativa. Segundo ele, o consumo de cogumelos Amanita muscaria não era tão comum quanto se diz e os xamãs não vestiam, afinal, trajes vermelhos e brancos.
Por outro lado, há quem discorde, o que mantém o tema em aberto e ainda sujeito a muita discussão.
Onde pode encontrar Amanita muscaria?
O míscaro-mosca pode ser encontrado a crescer entre pinheiros, bétulas e abetos. Costuma surgir no início do outono e mantém-se até às primeiras geadas—tal como acontece com o Psilocybe semilanceata.
Se pretender recolhê-lo por si próprio, certifique-se de se informar devidamente com antecedência. Existem muitos cogumelos que podem ser bastante perigosos para consumo, incluindo o Amanita muscaria. Garanta que identifica correctamente o que está a apanhar e que sabe como prepará-lo antes de pensar em ingerir.
Boa sorte!
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