Quais são os riscos de sonhar lucidamente?

O sonho lúcido é uma prática verdadeiramente intrigante. Provavelmente existe desde antes da história registada, mas manteve-se relativamente desconhecida durante grande parte da existência humana. Nos dias de hoje, está a ganhar nova popularidade, com cada vez mais pessoas a experimentar os muitos benefícios por si próprias.

Utilizado para enfrentar fobias, lidar com o luto ou até satisfazer desejos e fantasias, o sonho lúcido parece ser uma via livre e saudável para vivenciar quase tudo o que imaginamos. Existem muitos conselhos sobre as melhores práticas e técnicas para recordar sonhos, mas será que existem efeitos negativos?

Pode o sonho lúcido ser perigoso? Existem riscos associados? Será possível morrer durante um sonho lúcido?

O sonho lúcido pode ser perigoso?

Talvez fiques mais tranquilo ao saber que a resposta simples é não. Ao que tudo indica, os sonhos lúcidos não apresentam perigos reais. Isto não significa que não possam ser experiências assustadoras ou que não possam, pontualmente, ter impacto negativo na tua vida. Mas não corres o risco de morrer devido a sonhos lúcidos, nem de ficares preso num sonho.

Na verdade, existe um consenso de que os sonhos lúcidos trazem mais vantagens do que desvantagens. Para quem sofre de distúrbios do sono — como pesadelos — os sonhos lúcidos podem ser uma ferramenta útil para enfrentar e superar esses problemas.

O que acontece se o sonho lúcido correr mal?

No entanto, isto não significa que o sonho lúcido esteja totalmente isento de efeitos secundários ou que seja sempre uma experiência confortável. Aqui identificamos alguns dos efeitos negativos mais comuns associados aos sonhos lúcidos e, como sempre, apresentamos também sugestões para os ultrapassar.

Privação do sono e insónias

Os sonhos lúcidos podem ser bastante intensos. Para muitas pessoas, o impacto de perceberem que estão a sonhar faz com que acordem imediatamente. Dependendo da sua relação com o sono, pode conseguir adormecer de novo rapidamente ou acabar por ficar acordado durante algum tempo. Em todo o caso, acordar durante a noite, mesmo que só por momentos, diminui a qualidade do descanso.

Por isso, tentar induzir sonhos lúcidos pode provocar privação de sono, podendo mesmo evoluir para insónia. Se este problema não for controlado desde o início, pode agravar-se rapidamente e desencadear várias complicações físicas e psicológicas. Assim, quaisquer potenciais vantagens dos sonhos lúcidos serão facilmente ultrapassadas pelos efeitos negativos de um sono inadequado.

Solução: parar ou mudar de método

A solução? Dê uma pausa nas tentativas de ter sonhos lúcidos, ou pelo menos reduza a frequência e repense os seus métodos. Se costuma recorrer a técnicas em que interrompe o sono a meio da noite—como acordar de propósito para tentar induzir sonhos lúcidos—considere experimentar estratégias que não impliquem um alarme às quatro da manhã. Uma opção é o método MILD (indução mnemónica de sonhos lúcidos), que passa por fazer testes de realidade ao longo do dia, com o objetivo de manter esse hábito durante o sono e conseguir tomar consciência de que está a sonhar. Para quem tem sentido perturbações do sono devido aos sonhos lúcidos, esta pode ser a resposta que procurava.

Sentir-se preso num sonho lúcido

Muitas pessoas podem ter a sensação de que nunca conseguirão acordar de um sonho lúcido. Há quem desperte apenas para se ver já noutro sonho, o que pode ser extremamente perturbador. Sair de um sonho e perceber que entrou imediatamente noutro pode ser realmente assustador.

Solução: Mantenha a calma

Fique tranquilo: é impossível ficar preso num sonho ou num sonho lúcido, mesmo que, por vezes, possa não parecer assim. O mais importante é manter a calma e lembrar-se de que, inevitavelmente, irá acordar. Lembre-se de todos os sonhos que já teve — acordou de todos eles, por isso é quase certo que irá acordar deste também.

Ao reconhecer isto, diminui o risco de entrar em pânico durante um sonho lúcido. Se não entrar em pânico, é menos provável que passe de um sonho para outro de forma confusa. E, mesmo que isso aconteça, será uma experiência menos angustiante. Sabemos que pode parecer difícil, mas tente relaxar e confiar que, num instante, estará desperto.

Pesadelos lúcidos

Apesar de, normalmente, controlarmos os nossos sonhos lúcidos, por vezes o sonho pode assumir o comando, mesmo que mantenhamos a lucidez. Nestes momentos, um sonho lúcido pode transformar-se num autêntico pesadelo lúcido. Naturalmente, esta é uma experiência bastante assustadora. Estar plenamente consciente perante os nossos maiores medos, sem conseguir fazer nada para os evitar, é algo que ninguém deseja.

Solução: Enfrentá-los

Ou será? Embora não seja uma situação ideal, vale a pena tentar aprender com ela. Num sonho lúcido, tem consciência de que está a sonhar — mesmo que só se aperceba disso depois — e pode analisar o que aconteceu nesses pesadelos para obter um maior autoconhecimento.

Aliás, ultrapassar pesadelos e fobias é reconhecido como um dos maiores benefícios dos sonhos lúcidos. Apesar de poderem existir algumas dificuldades, os ganhos costumam superar os riscos. Se sofrer frequentemente com pesadelos, enfrentá-los consciente e intencionalmente pode ser uma forma eficaz de os superar, ainda que possa custar no início.

No fim, a decisão é sempre sua. Se notar que os pesadelos se tornam recorrentes ou pouco úteis, pode optar por deixar de induzir sonhos lúcidos, suspendendo as práticas que costumam desencadear esse estado (como testes de realidade, por exemplo).

Emoções e sentimentos intensificados

Provavelmente já todos tivemos sonhos em que nos apaixonamos por alguém a quem raramente damos atenção, acordamos com vontade de correr a declarar o nosso amor—mas, passadas algumas horas, percebemos que esse fascínio esfumaçou-se e ficamos apenas com um sentimento de embaraço pela intensidade e rapidez com que tudo desapareceu.

No caso dos sonhos lúcidos, estas experiências podem ser ainda mais intensas. Não só o amor, mas também sentimentos de perda ou tristeza podem ser ampliados durante o sonho. Dentro de um sonho lúcido, é possível sentir emoções com uma força extraordinária, muitas vezes não vivida no dia-a-dia, podendo causar algum desconforto.

Solução: Aceite essas emoções

O que se pode fazer em relação a isto? Aceite o que sente. Tal como acontece com todas as emoções, só conseguem ser ultrapassadas quando são plenamente reconhecidas e aceites. É isto que está na base do sonho lúcido. Reflita sobre a razão desse sentimento – existe alguma sensação de perda enraizada em si que não consegue alcançar no seu dia a dia? Se for esse o caso, aproveite o estado de lucidez para explorar o seu subconsciente e tentar perceber o que lá se esconde. Provavelmente, vai sentir-se agradecido por isso quando acordar.

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Paralisia do sono durante sonhos lúcidos

Embora seja pouco comum, existe a possibilidade de um sonho lúcido evoluir para paralisia do sono. Apesar de serem fenómenos distintos — a lucidez em sonhos associa-se, normalmente, a uma boa relação com o sono, enquanto a paralisia do sono indica o oposto —, podem sobrepor-se. Como ambos ocorrem na transição para o sono REM (movimentos oculares rápidos), não é impossível que um dê lugar ao outro.

Enquanto os sonhos lúcidos podem trazer revelações e, por vezes, episódios assustadores, a paralisia do sono costuma ser uma experiência bastante desagradável, afectando negativamente a qualidade do descanso. Em certa medida, estas duas condições são opostas: pense nos sonhos lúcidos como um estado de vigília a invadir o mundo dos sonhos, e na paralisia do sono como o universo dos sonhos a intrometer-se na nossa consciência desperta.

Solução: descanso

Por mais assustadores que possam ser os episódios de paralisia do sono, eles podem trazer informações relevantes sobre o nosso estado de saúde. A paralisia do sono está geralmente associada ao excesso de stress e à má qualidade do sono. Se estes episódios se tornarem frequentes, pode ser um sinal de que está na altura de repensar alguns hábitos e de dar prioridade ao descanso.

A melhor forma de ultrapassar a paralisia do sono é reduzir o nível de stress e garantir um sono regular e de qualidade. Na maioria dos casos, seguindo estas recomendações, a situação tende a melhorar rapidamente. Se notar que os sonhos lúcidos estão a provocar paralisia do sono, faça uma pausa nessa prática. Evite acordar durante a noite e, se necessário, pare de registar os seus sonhos por algum tempo. Com a diminuição dessas atividades, os episódios vão perder intensidade e frequência.

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Confundir o mundo dos sonhos lúcidos com a realidade

Ainda que seja uma situação pouco frequente, pode ser bastante perturbadora. Tanto durante o sonho como quando se está acordado, pode tornar-se difícil distinguir entre o sonho lúcido e a realidade. As lembranças dos sonhos podem misturar-se com a vida real, e os próprios sonhos podem ser tão realistas que parecem mesmo verdadeiros. É fácil perceber por que razão não conseguir separar o que se sonha do que se vive pode ter efeitos bastante negativos.

Solução: Parar

Nestas situações, o mais importante é parar. Poderá retomar quando se sentir mais estável, mas se começar a perder o contacto com a realidade, todos os benefícios desaparecem. É fundamental deixar de registar os seus sonhos nesse momento. Ao interromper essa ligação com memórias tão vividas, conseguirá rapidamente voltar a distinguir entre os dois estados.

Sonhar lucidamente e reality shifting são a mesma coisa?

O shifting de realidade, também chamado de salto dimensional, não é exactamente o mesmo que o sonho lúcido, embora partilhem estados similares. A principal diferença é que o shifting costuma iniciar-se num estado de vigília — quase como um sonho lúcido em que a pessoa está acordada. Trata-se de um estado transliminar, no qual a mente e o corpo atingem tal relaxamento que é possível entrar numa experiência semelhante a um sonho, enquanto tecnicamente se permanece desperto.

Apesar da polémica em torno dos efeitos de ambos, os adeptos do shifting de realidade defendem que este é muito mais intenso do que o sonho lúcido. Outro aspecto importante a destacar é que, no shifting, a pessoa «entra» numa realidade à sua escolha. Ou seja, antes de entrar neste estado, o «shifter» já sabe para onde pretende ir e o que quer experienciar, ao passo que quem tem um sonho lúcido desperta para a consciência já dentro de um sonho durante o sono REM e só a partir daí controla a experiência.

Esta é mais uma diferença relevante. O shifting de realidade centra-se em viver cenários de fantasia ou aceder à realidade que se deseja, um pouco no sentido figurado de «viver o sonho». Já o sonho lúcido baseia-se, de modo mais literal, na vivência dos próprios sonhos. Se por um lado muitos usam o sonho lúcido para controlar o que experienciam e concretizar fantasias, este também é um recurso bastante útil para explorar o subconsciente. No caso do shifting, essa vertente está menos presente; trata-se de um processo globalmente mais consciente.

Sonho lúcido em segurança: o essencial

Sonhar lucidamente é, de um modo geral, uma prática segura. Esta é a principal mensagem a reter. Embora possam surgir alguns desafios e efeitos secundários, estes são quase sempre pouco significativos e facilmente geríveis, salvo raras excepções.

O aspecto essencial a recordar é que, ao desenvolver consciência durante os sonhos, estamos a explorar profundamente o subconsciente. Naturalmente, esta experiência pode ser intensa e, por vezes, desconcertante. Contudo, os benefícios que se podem retirar superam largamente os potenciais inconvenientes. Muitos dos desafios podem até ser transformados em oportunidades de crescimento pessoal e autoconhecimento, se forem abordados com equilíbrio e atenção.

Tal como em tantas áreas da vida, a moderação é fundamental. Recomenda-se começar devagar, sem a expectativa de alcançar sonhos lúcidos todas as noites — especialmente enquanto ainda se aprende sobre o processo. Comece por tentar uma ou duas vezes por semana e avalie a sua experiência de forma honesta consigo próprio. Se sentir que lhe traz benefícios, prossiga; caso contrário, pode sempre interromper a prática, já que deixar de realizar exercícios para induzir sonhos lúcidos geralmente é suficiente para travar o fenómeno. Esperemos que não seja necessário. Boas explorações oníricas!

Adam Parsons

Adam Parsons é jornalista profissional especializado em canábis, copywriter e autor, integrando há vários anos a equipa da Zamnesia. Responsável por abordar uma vasta gama de temas, desde o CBD aos psicadélicos, entre outros, Adam dedica-se à criação de artigos de blog, guias e à exploração contínua de uma oferta de produtos cada vez mais diversificada.

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