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Hard And Soft Drugs
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Qual é a diferença entre drogas duras e drogas leves?

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Se perguntar a alguém se sabe diferenciar entre drogas leves e duras, é provável que responda que sim. Mas serão estes termos verdadeiramente eficazes para classificar as drogas e os seus efeitos? Neste artigo, exploramos estas classificações e analisamos até que ponto os métodos actuais para distinguir substâncias são realmente válidos.

Os termos “duras” e “leves” são frequentemente utilizados para distinguir diferentes tipos de drogas com base no impacto que têm na saúde, no seu potencial de dependência, no tipo de efeito que provocam, entre outros fatores. Mas será que estas designações nos ajudam realmente a compreender de forma clara as diferenças entre as substâncias e os seus efeitos? Continue a ler para saber mais.

A distinção entre drogas duras e leves

A classificação de drogas duras e suaves

Quer seja pelo público, pelos meios de comunicação, pela comunidade científica, ou até por representantes governamentais, os termos "duras" e "suaves" são frequentemente utilizados quando se fala de drogas. Ainda que a maioria das pessoas ache que sabe o que estes conceitos significam, distinguir claramente entre uma e outra não é assim tão óbvio.

Na realidade, nem mesmo as grandes autoridades mundiais de saúde, como a Classificação Internacional de Doenças (CID) ou o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), fazem uma distinção inequívoca entre drogas duras e suaves. Uma das poucas entidades que demarca esta diferença é o governo holandês, que utiliza esses termos na sua legislação sobre drogas.

Ainda assim, a maior parte das pessoas sente que tem, pelo menos, uma ideia do que distingue uma droga dura de uma droga suave, apesar da inexistência de definições oficiais. De seguida, analisamos mais de perto o que separa estes dois conceitos e refletimos sobre a validade destas classificações.

O que são drogas duras?

O que são drogas duras?

Se perguntar a alguém se sabe o que é uma “droga dura”, provavelmente vai acenar afirmativamente. Durante anos, governos e meios de comunicação promoveram a ideia de que as drogas duras são mais potentes, têm maior potencial de dependência e apresentam mais riscos do que as chamadas drogas leves. No entanto, na prática, a categorização como droga dura ou leve depende sobretudo do seu potencial para provocar danos físicos e dependência nos utilizadores.

Ainda que esta distinção seja cada vez mais considerada ultrapassada, continua, infelizmente, a ser utilizada em vários países.

Exemplos de drogas duras

  • Cocaína e crack
  • Heroína e ópio
  • Metanfetamina cristalina e anfetaminas
  • PCP
  • Quetamina
  • Opioides, benzodiazepinas e outros medicamentos sujeitos a receita médica
  • Ecstasy
  • Álcool e tabaco
  • LSD e cogumelos mágicos (muitas vezes classificados legalmente como drogas duras, apesar de muita contestação)

O que são drogas leves?

O que são drogas leves?

Enquanto as drogas duras são geralmente vistas como extremamente potentes, perigosas e com elevado potencial de dependência, as drogas leves são tidas como substâncias muito menos prejudiciais. De um modo geral, considera-se que as drogas leves apresentam reduzidas probabilidades de causar danos físicos, dependência ou vício. Em muitos países, como é o caso dos Países Baixos, algumas drogas leves são referidas de forma explícita na legislação (como é o caso da canábis e certos sedativos ou ansiolíticos). No entanto, a perceção do que constitui uma droga leve pode variar bastante de país para país.

Exemplos de drogas leves

  • Cannabis e derivados de cannabis
  • Comprimidos para dormir e sedativos (nos Países Baixos)

Drogas naturais vs sintéticas

Natural vs synthetic drugs

Tal como acontece com as diferentes opiniões sobre o que define uma droga dura ou leve, há também quem acredite que o facto de uma substância ser natural ou sintética influencia o seu potencial de causar danos. Afinal, se cresce na natureza, é provavelmente inofensiva, certo?

Infelizmente, assumir que uma droga é segura apenas por ser natural não é um argumento válido. Substâncias como a cocaína e o ópio (incluindo as suas variantes e derivados) têm origem em materiais naturais — respetivamente, a planta da coca e a papoila do ópio.

No entanto, ambas apresentam um elevado potencial de dependência e podem ser fatais em doses elevadas. O álcool e o tabaco são igualmente considerados drogas pesadas (sim, leu bem), apesar de terem origem totalmente natural. Como abordaremos mais à frente, termos como duro, leve, natural ou sintético não são realmente formas eficazes de classificar substâncias ou avaliar o seu impacto na saúde e segurança.

A diferença entre drogas duras e leves

Para além do seu potencial para causar danos e dependência, as drogas distinguem-se também pela forma como são consumidas, pelos efeitos que provocam, pela legislação que regula ou proíbe o seu uso e comercialização, bem como pela sua disponibilidade.

Tendo isto em conta, vamos analisar mais detalhadamente algumas das diferenças entre drogas consideradas pesadas e leves. Importa referir que estas categorias não são absolutas, mas antes uma forma geral de entender as várias substâncias.

Consumo

diferença entre drogas duras e drogas leves: Consumo

Por serem vistas como mais perigosas, as drogas duras costumam ser associadas a padrões de consumo muito distintos das drogas leves. Diversos recursos online e inquéritos de opinião demonstram que a maioria das pessoas acredita que as drogas duras são consumidas de forma excessiva, com menor controlo e maior risco de abuso do que as drogas leves.

Por exemplo, quando se pensa no consumo de canábis, geralmente imagina-se alguém a fumar um charro descontraidamente em casa, a ver televisão ou num convívio com amigos. Já o consumo de drogas duras, como cocaína ou metanfetaminas, tende a ser associado a noites descontroladas que podem prolongar-se até ao dia seguinte (ou durante vários dias).

A forma como cada droga é consumida varia naturalmente, mas isso não se deve exclusivamente à distinção entre drogas duras e leves. É importante ter em conta que diferentes substâncias atraem diferentes públicos e que cada uma está ligada a culturas próprias. Por exemplo, a cultura canábica é bastante distinta da que gira em torno do consumo de álcool, cocaína ou drogas recreativas como as anfetaminas e o ecstasy.

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Efeitos

Habitualmente, associa-se a ideia de que as chamadas drogas pesadas têm efeitos mais fortes e alteram mais a mente do que as drogas leves. No entanto, esta perceção está longe de ser correta.

Por exemplo, existem substâncias consideradas drogas pesadas cujos efeitos podem ser relativamente suaves. O tabaco, apesar de ser extremamente tóxico e viciante, é visto por muitos como tendo um impacto ligeiro. Por outro lado, a canábis pode provocar efeitos psicoativos bastante intensos, sendo ainda assim classificada como droga leve pelas autoridades de alguns países.

Legalidade

diferença entre drogas duras e leves: Legalidade

Em muitos países ocidentais, a legislação diferencia claramente entre substâncias consideradas duras e leves. Geralmente, as leis aplicadas ao consumo ou posse de drogas leves são menos severas do que aquelas dirigidas às drogas duras.

Como exemplo, o governo holandês define de forma explícita as drogas leves (como canábis, comprimidos para dormir e calmantes) e as drogas duras (como cocaína, heroína, LSD, cogumelos mágicos, ecstasy e opiáceos/benzodiazepinas sujeitos a prescrição). No contexto da política de tolerância praticada nos Países Baixos, a venda, consumo e posse de pequenas quantidades de canábis em coffeeshops é permitida e não punida, ainda que a canábis se mantenha ilegal de acordo com a lei holandesa.

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Disponibilidade

À medida que a perceção em torno da cultura das drogas evolui, cada vez mais países em todo o mundo começam a rever as suas políticas relativamente às drogas leves e a permitir ou tolerar o seu uso. Por exemplo:

  • O Uruguai despenalizou por completo o consumo de canábis, permitindo a sua compra em farmácias a cidadãos registados.

  • O Canadá legalizou totalmente o uso de canábis por adultos.

  • Nos Estados Unidos, 19 estados (e o número continua a crescer) legalizaram o consumo recreativo de canábis e muitos outros autorizam o uso para fins medicinais.

  • O México permite atualmente a posse de pequenas quantidades de canábis.

O que são drogas de entrada?

O que são drogas de entrada?

As drogas de entrada são substâncias consideradas como ponto de partida para o consumo de drogas mais perigosas ou com maior potencial de dependência. Entre os exemplos mais frequentes de drogas de entrada encontram-se o álcool, a nicotina e a canábis. Se, no caso do álcool e da nicotina, existe um consenso alargado quanto ao seu papel neste contexto, muitos especialistas questionam se a canábis deve ser incluída nesta categoria. Uma análise realizada em 2018 pelo National Institute of Justice, que avaliou 23 estudos com seres humanos e animais, procurou identificar uma ligação entre o consumo de canábis e o posterior consumo de substâncias ilícitas mais perigosas. No entanto, a conclusão foi que "não há evidências conclusivas de que o uso de canábis conduza ao consumo posterior de drogas ilícitas mais perigosas"[3].

Devemos classificar as drogas desta forma?

A classificação das drogas em "duras" ou "leves" está longe de ser ideal. Como vimos ao longo deste artigo e tal como descrito numa revisão científica publicada em 2017 na revista American Journal of Drug and Alcohol Abuse, esta categorização baseia-se mais na perceção pessoal que temos sobre várias substâncias do que nos seus verdadeiros efeitos para a saúde. O álcool e o tabaco são exemplos notórios de drogas "duras" profundamente enraizadas e aceites na cultura ocidental, enquanto o LSD e a psilocibina são considerados "duras" em certos contextos, apesar de apresentarem riscos mínimos para a saúde e um baixo potencial de dependência.

Steven Voser
Steven Voser
Steven Voser é um jornalista independente especializado em canábis, com mais de seis anos de experiência a escrever sobre todos os aspetos da planta: desde os métodos de cultivo, às melhores formas de consumo, passando ainda pelo dinâmico setor e pelo complexo enquadramento legal que o envolve.
Referências
  • (n.d.). Government of The Netherlands. Difference between hard and soft drugs(s). https://www.government.nl/topics/drugs/difference-between-hard-and-soft-drugs. Accessed 5.11.2021. - https://www.government.nl
  • (n.d.). McVean, Ada. Caffeine is considered a hard drug and cannabis a soft one? McGill Office for Science and Society: Separating Sense from Nonsense. Published 29.11.2017. https://www.mcgill.ca/oss/article/did-you-know/what-makes-hard-drugs-hard-and-soft-drugs-soft. Accessed 5.11.2021. - https://www.mcgill.ca
  • (n.d.). Is Cannabis a Gateway Drug? Key Findings and Literature Review. National Institute of Justice. https://nij.ojp.gov/library/publications/cannabis-gateway-drug-key-findings-and-literature-review. Accessed November 10, 2021. - https://nij.ojp.gov
  • Janik P, Kosticova M, Pecenak J, & Turcek M. (2017 Nov). Janik, Peter, Kosticova Michaela, Pecenak, Jan, & Turcek, Michal. Categorization of psychoactive substances into 'hard drugs' and 'soft drugs': a critical review of terminology used in current scientific literature. American Journal of Drug and Alcohol Abuse. 2017; Volume 43 (6): 636-646. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/28650668/. 5.11.2012 - https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov
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