Eis 8 mitos comuns sobre o CBD

O CBD tornou-se extremamente popular nos últimos anos. Apesar de a comunicação social divulgar variada informação sobre os compostos da canábis, continuam a circular muitos mitos. Neste artigo, vamos desmistificar 8 ideias erradas comuns sobre o CBD, os seus efeitos e muito mais.

1. O CBD não é psicoativo

Este é um mito muito frequente, e até mesmo empresas de referência em CBD e publicações especializadas continuam a afirmar que o CBD é “não-psicoativo”. Na verdade, o termo correcto seria "não-intoxicante" ou "não-psicotrópico".

Ao contrário do THC, o CBD não provoca o efeito de euforia que normalmente associamos ao consumo de cannabis. No entanto, isto não significa que não tenha qualquer efeito sobre a mente. Como é sabido, o CBD actua no sistema endocanabinoide.

Ao estimular este sistema, o CBD acaba por influenciar a nossa mente, embora sem criar sensações de euforia ou alteração da percepção. Embora possa parecer um pormenor, esta distinção é fundamental para compreender o verdadeiro efeito do CBD.

2. O CBD É SEDATIVO

Alguns estudos iniciais sugeriam que o CBD tinha efeitos sedativos, mas essa ideia não corresponde exatamente à realidade. Investigações mais recentes indicam que o CBD pode, na verdade, ter efeitos que promovem o estado de alerta, atrasar o início do sono e até estimular a vigília.

De onde surgiu então esta confusão? A explicação está no facto de o CBD poder apresentar efeitos diferentes consoante a dose administrada. Em quantidades baixas, o CBD tende a estimular o estado de alerta. Por outro lado, algumas pessoas referem que doses mais elevadas promovem o sono.

Pessoas que consomem flores de canábis ricas em CBD também notam frequentemente um efeito mais sedativo. Porém, é importante salientar que tanto a canábis como o cânhamo contêm outros compostos, como o mirceno, conhecidos pelas suas propriedades relaxantes, o que pode contribuir para a sensação de sedação mais do que o próprio CBD.

3. Nem todo o CBD é igual, independentemente da sua origem

O CBD é um composto químico. É verdade que as moléculas de CBD presentes numa tintura de cânhamo de espectro completo são idênticas às encontradas em flores ricas em CBD ou em cristais de CBD isolado. No entanto, isso não significa que estes três produtos proporcionem os mesmos efeitos.

O cânhamo e a canábis são plantas extremamente complexas, podendo conter mais de 400 compostos activos diferentes. Estes compostos podem atuar em conjunto, potenciando um “efeito entourage” que resulta numa experiência muito distinta.

É igualmente importante perceber que existem centenas de variedades de cânhamo e canábis, e cada uma possui concentrações diferentes destes compostos. Assim, um produto de CBD fabricado a partir de uma determinada planta pode ter uma composição química muito distinta daquela de outro produto feito com uma variedade diferente. Além disso, os efeitos de um produto que contenha apenas CBD isolado serão naturalmente distintos, já que não inclui outros compostos do cânhamo ou da canábis.

Adicionalmente, a forma como o CBD é administrado influencia muito a forma como actua. Por exemplo, o efeito do CBD vaporizado é diferente daquele que se obtém com uma tintura ou com uma aplicação tópica.

4. O CBD LIGA-SE AOS RECETORES CANABINOIDES

O sistema endocanabinóide possui dois recetores principais: CB1 e CB2. Estes recetores foram identificados durante a investigação dos efeitos psicoativos do cannabis, provocados pela ligação do THC diretamente aos recetores CB1 no cérebro. Por isso, seria natural pensar que o CBD atua da mesma forma, certo?

Na verdade, não. Ao contrário do THC, o CBD não tem grande afinidade de ligação com estes recetores. Então, como exerce os seus efeitos únicos? A resposta continua a não ser totalmente clara. Estudos já demonstraram que o CBD interage com diversos recetores, entre eles o 5HT1A, TRPV1, recetores GAMA, entre outros. Na verdade, pesquisas identificaram mais de 65 vias moleculares diferentes que podem ser ativadas pelo CBD.

5. O CBD é mais eficaz quando tomado isoladamente

Há quem defenda que o CBD isolado é mais eficaz do que o CBD de espectro completo ou o chamado "CBD de planta inteira". Contudo, cada vez mais estudos demonstram que isso não corresponde à realidade. Este tema está diretamente ligado ao efeito entourage, tal como já referimos anteriormente.

O termo efeito entourage foi introduzido por Raphael Mechoulam, um reconhecido investigador de canábis de Israel. Atualmente, tanto Mechoulam como outros especialistas defendem que as propriedades únicas da canábis surgem devido a este efeito em conjunto.

Faz todo o sentido se pensarmos bem: tal como os benefícios de uma laranja não se resumem apenas à vitamina C, mas sim à combinação de todos os seus componentes, o mesmo acontece com a canábis. A investigação sobre o efeito entourage indica precisamente isso.

6. Quanto mais CBD, melhor

Encontrar a dose certa de CBD é fundamental. Tal como acontece com outros suplementos ou medicamentos, não existe uma dose única que sirva para todos. Isto deve-se ao facto de, à semelhança de outros canabinóides, o CBD afetar cada pessoa de maneira diferente.

Algumas pessoas podem necessitar de quantidades mais elevadas de CBD para alcançar os resultados pretendidos, enquanto outras sentem os efeitos apenas com algumas gotas de óleo. Cada organismo, nomeadamente o sistema endocanabinóide, reage de forma distinta, sendo que a dose ideal de CBD depende do efeito que se procura, da concentração do produto, da forma de administração e de outros fatores individuais.

As marcas de CBD de confiança costumam fornecer orientações fiáveis de doseamento e, no início, é sensato segui-las. Caso os efeitos não sejam os desejados, não hesite em ajustar a dose, experimentando quantidades maiores ou menores. No entanto, ao aumentar a dose, recomenda-se fazê-lo gradualmente e com atenção à resposta do corpo ao longo do tempo.

7. O isolado de CBD é a forma “mais pura” de CBD

O facto de um produto de CBD ser feito com isolado ou extrato de espectro completo não revela, por si só, o seu grau de pureza. Esta indicação serve apenas para distinguir se o produto contém outros compostos naturais da planta do cânhamo, ou apenas CBD isolado.

Os produtos à base de CBD devem apresentar claramente a quantidade de CBD ativo. Normalmente, esta informação surge expressa em miligramas (mg) ou em percentagem. Infelizmente, muitas pessoas assumem que o isolado de CBD é automaticamente mais "puro" do que as opções de espectro completo. Como já referimos, há diversos estudos que contrariam essa perceção.

8. O CBD não é o único composto terapêutico presente no cânhamo/cannabis

Este é um dos maiores mitos associados ao universo da canábis. Como já referimos, as plantas de canábis e cânhamo contêm mais de 400 compostos activos diferentes. Embora o CBD seja um dos mais investigados, os estudos iniciais sobre outros canabinóides e terpenos (incluindo até o THC) revelam que muitos deles têm propriedades únicas e potencialmente benéficas. Infelizmente, ainda é necessário realizar muito mais investigação para compreendermos verdadeiramente toda a complexidade que envolve a planta da canábis. O que já sabemos é que esta planta extraordinária não se resume de todo a um único canabinóide.

Steven Voser

Steven Voser é um jornalista independente especializado em canábis, com mais de seis anos de experiência a escrever sobre todos os aspetos da planta: desde os métodos de cultivo, às melhores formas de consumo, passando ainda pelo dinâmico setor e pelo complexo enquadramento legal que o envolve.

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