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Porque a música soa melhor quando estás sob o efeito de substâncias
3 min

Porque a música soa melhor quando estás sob o efeito de substâncias

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As drogas sempre estiveram ligadas ao universo da música, tanto para os artistas como para o público. Analisamos aqui porque é que ouvir música sob o efeito de substâncias pode parecer uma experiência mais intensa.

Desde os primórdios da humanidade, a música sempre fez parte da nossa existência. Os primeiros seres humanos cantavam, batiam pedras e produziam instrumentos a partir de ossos de animais para criar os seus próprios sons. Também recorriam a plantas estimulantes e cogumelos para intensificar o prazer proporcionado pela música.

A canábis e outras substâncias têm uma longa ligação à música, servindo de inspiração para artistas tão distintos como Brian Wilson e Snoop Dogg. Ao longo das décadas, a música tem explorado esta temática, dos sons psicadélicos dos anos 60 ao hip-hop contemporâneo. Não são apenas os criadores que utilizam a canábis como instrumento criativo — muitos ouvintes também recorrem a ela para potenciar a forma como desfrutam e experienciam a música. Mas afinal, por que motivo é que a música nos soa melhor quando estamos sob o efeito?

Drogas: uma experiência musical intensificada

Um dos principais efeitos do consumo de canábis é a alteração da perceção. O composto ativo, o THC, interfere nos mecanismos cerebrais responsáveis pelo tempo e pelo prazer, causando uma perturbação na memória de curto prazo. Isto permite ao cérebro criar sensações de maior ligação e um prazer mais intenso. Tanto a canábis como a música provocam, separadamente, respostas emocionais. Quando combinadas, esse efeito é intensificado. Daniel J. Levitin, autor de "O Mundo em Seis Canções", explica que "a disrupção da memória de curto prazo faz com que os ouvintes vivam intensamente cada momento da música à medida que ela se desenrola, sem conseguirem recordar explicitamente o que acabou de ser tocado. Vivem cada nota, completamente presentes no momento."

Apesar de a canábis poder provocar ansiedade e alguma paranoia em certos utilizadores, a música tem um efeito calmante, capaz de reduzir o stress e, assim, ajudar a atenuar alguns dos efeitos negativos da canábis.

Muitos acreditam que só conseguimos ouvir música, mas não senti-la verdadeiramente. No entanto, quem experimentou ouvir música sob o efeito da canábis descreve as canções como sendo mais ricas em textura e profundidade, proporcionando uma experiência intensa. É uma sensação comum, para quem está sob efeito, a de se sentir completamente absorvido por algo e muito mais conectado ao ambiente. Um estudo por ressonância magnética funcional (fMRI) realizado em 2011 demonstrou que o THC causa alterações nos processos visuais e auditivos do cérebro. Joe Dolce, autor de "Brave New Weed", explica: "As diferentes áreas do cérebro têm fronteiras pouco definidas, reguladas quimicamente, e suspeita-se que a canábis torna essas fronteiras mais permeáveis, permitindo-nos sentir a música com maior intensidade."

A canábis não é a única substância que conquistou lugar na cena musical. Outras drogas, como o MDMA, têm ganho presença principalmente em discotecas e festivais, tornando-se parte da cultura musical nos últimos anos.

O MDMA atua sobre os níveis de serotonina, dopamina e noradrenalina — neurotransmissores diretamente ligados às emoções, motivação e memória. Ao ser consumido, provoca uma reação intensa nestes sistemas, aumentando sensações de confiança, felicidade e amor. Juntando este efeito ao poder emocional da música, percebe-se porque é que estes ambientes são especialmente procurados por quem consome estas substâncias para ouvir as suas músicas preferidas.

Contudo, não está garantido que a noite seja perfeita. Fatores como a dose, o estado emocional e - muito importante - a qualidade da substância devem ser considerados. Apesar de discotecas e festivais investirem em sistemas de som potentes e iluminação, a verdadeira estimulação acontece dentro do cérebro.

Mesmo que a ciência tenha explorado pouco este fenómeno, é fácil perceber a ligação entre música e drogas. Sem dúvida, ambas podem potenciar e revelar novos aspetos daquilo que ouvimos. No entanto, o contexto e as circunstâncias são igualmente relevantes. No fim, cada um é responsável pelas suas escolhas — desfrute, mas faça-o sempre com responsabilidade.

Luke Sumpter
Luke Sumpter
Detentor de uma licenciatura em Ciências da Saúde Clínica, Luke Sumpter dedica-se há mais de sete anos ao jornalismo e à escrita, explorando a ligação entre a ciência e o mundo da canábis, unido pela sua paixão pelo cultivo de plantas.
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