Os compostos psicoactivos presentes na ayahuasca (DMT) e nos cogumelos mágicos (psilocibina) são bastante semelhantes. Aliás, o DMT é considerado um análogo funcional e estrutural da psilocibina. No entanto, ambas as substâncias podem provocar efeitos muito distintos. Neste artigo, exploramos em detalhe as diferenças e semelhanças entre a ayahuasca e os cogumelos mágicos.

O que é a ayahuasca?

A ayahuasca é uma infusão psicadélica preparada a partir da combinação de várias plantas, sendo que a receita pode variar consoante a região. O principal composto psicoactivo da ayahuasca é o DMT, ou dimetiltriptamina. Para que o DMT exerça o seu efeito intenso, deve ser ingerido juntamente com um inibidor da MAO.

O nome ayahuasca tem origem quechua, “ayawaska”, e refere-se a uma bebida espiritual tradicional usada por comunidades indígenas da Amazónia. A utilização desta infusão remonta ao ano 1000 d.C. e só foi documentada por ocidentais no século XVI, por mercenários cristãos, nas atuais regiões do Peru e do Equador.

Nos dias de hoje, a ayahuasca continua a despertar grande interesse e mantém-se central em algumas práticas religiosas modernas no Brasil, como o Santo Daime e a União do Vegetal. O preparo é normalmente feito por um xamã, que macera e ferve as plantas durante várias horas, originando uma bebida amarga cujo sabor e potência dependem da perícia do preparador.

É vista principalmente como uma medicina espiritual, consumida em cerimónias e não como uma droga recreativa. Os seus efeitos psicadélicos são intensos, manifestando-se geralmente entre 15 a 60 minutos após a ingestão, com duração de várias horas.

Quais são os efeitos da ayahuasca?

Os efeitos da ayahuasca podem variar consoante a potência da infusão e a quantidade ingerida. Por vezes, esta bebida provoca reacções físicas intensas como vómitos e diarreia, um fenómeno frequentemente chamado de "purga" (ou "la purga", em espanhol). Outros efeitos físicos da ayahuasca incluem um ligeiro zumbido nos ouvidos, arrepios, tremores, tonturas e transpiração. Algumas pessoas relatam ainda sensações de vibração ou momentos de silêncio absoluto.

Para além destas reacções físicas, a ayahuasca desencadeia uma experiência psicadélica intensa, marcada por alucinações visuais muito vívidas. Podem surgir padrões e formas geométricas, assim como alterações nas texturas das pessoas e objectos à volta.

Nalguns casos, as alucinações tornam-se ainda mais profundas, integrando cores muito vivas e visões de plantas, pessoas, entidades, animais e muito mais. O artista americano Alex Grey já partilhou publicamente as suas experiências com DMT e de que forma influenciaram a sua arte. Algumas das suas obras, como "Transfiguration" e "Net Of Being" — esta última diretamente inspirada numa viagem de ayahuasca que teve durante uma visita ao Brasil — são exemplos claros dessa influência.

O que são os cogumelos mágicos?

O principal composto psicoativo nos cogumelos mágicos é a psilocibina. Existem mais de 200 espécies de cogumelos que produzem naturalmente psilocibina, variando a sua concentração. Contudo, os mais potentes pertencem ao género Psilocybe, tais como Psilocybe cyanescens e Psilocybe azurescens.

Tal como a ayahuasca, os cogumelos com psilocibina têm sido utilizados ao longo de séculos. Evidências arqueológicas, incluindo pinturas rupestres, sugerem que o seu uso remonta possivelmente ao ano 9.000 a.C. Por exemplo, em 1992, arqueólogos identificaram pinturas nas cavernas de Tassili n'Ajjer, um parque nacional na Argélia, que mostram xamãs com cogumelos que se acredita serem Psilocybe mairei.

Outras investigações históricas indicam também que os astecas utilizavam cogumelos com psilocibina. O Códice Florentino, um compêndio do século XVI sobre a Nova Espanha, descreve como os astecas integravam cogumelos psicadélicos (que denominavam “teonanácatl”, ou “cogumelo dos deuses”) nos seus rituais.

O uso ancestral de cogumelos psicoactivos também foi identificado na Europa. Em 2011, arqueólogos descobriram Selva Pascuala, um mural antigo numa gruta perto de Villar Del Humo, em Espanha. Com cerca de 6.000 anos, a pintura mostra um touro e 13 pequenos elementos semelhantes a cogumelos, que especialistas dos EUA e do México acreditam representar a espécie Psilocybe hispanica.

ver COGUMELOS mágicos

Quais são os efeitos da psilocibina?

A psilocibina pode provocar vários efeitos psicadélicos, que variam consoante a quantidade consumida. Com doses reduzidas de cogumelos secos, é comum surgirem alterações leves nos sentidos, como o realce das cores e das luzes à volta. Uma dose na ordem dos 1 a 1,5g de cogumelos secos já induz sensações visuais e auditivas mais intensas. A partir dos 2,5g, as alucinações tornam-se bastante marcantes, semelhantes, em certos aspetos, às do DMT, e podem incluir visões nítidas de paisagens, plantas, animais ou outras figuras. Normalmente, uma viagem com cogumelos pode durar até cerca de 6 horas, dependendo sempre da quantidade ingerida.

Psilocibina vs DMT: semelhanças e diferenças

Psilocibina vs DMT: semelhanças e diferenças

Quimicamente, a psilocibina e o DMT apresentam grandes semelhanças. Alguns especialistas, como Dennis McKenna, chegam a considerar os cogumelos como uma espécie de DMT de ingestão oral. No entanto, apesar desta proximidade a nível molecular, existem diferenças claras nos efeitos produzidos por cada substância.

De um modo geral, muitos utilizadores relatam que o DMT e a ayahuasca proporcionam uma experiência mais orientada para o autoconhecimento espiritual do que os cogumelos. Apesar das visões poderem ser parecidas, há quem considere que as viagens de ayahuasca são mais orientadas para aconselhamento ou aprendizagem.

Numa entrevista à London Real, Dennis McKenna e Brian Rose referem que as sessões com ayahuasca costumam trazer "um conjunto concreto de ensinamentos", enquanto os cogumelos tendem mais a "transmitir informação de forma avassaladora". Esta distinção é partilhada por diversas pessoas que experimentaram ambas. Além disso, as experiências com DMT ou ayahuasca tendem a ser descritas como significativamente mais intensas.

Contudo, a maneira como cada viagem é vivida e interpretada é sempre pessoal. Alguns podem sentir nos cogumelos um poder de orientação espiritual equiparado – ou até superior – ao da ayahuasca, enquanto outros têm experiências opostas. Tudo depende da pessoa, do ambiente em que consome a substância, e naturalmente da dose ingerida.

Steven Voser

Steven Voser é um jornalista independente especializado em canábis, com mais de seis anos de experiência a escrever sobre todos os aspetos da planta: desde os métodos de cultivo, às melhores formas de consumo, passando ainda pelo dinâmico setor e pelo complexo enquadramento legal que o envolve.

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