
Mitos e factos sobre a ayahuasca: Separar a verdade da ficção
A ayahuasca, uma poderosa e quase lendária mistura de DMT oriunda da Amazónia, tem fascinado pessoas e gerado múltiplos mitos. Neste artigo, esclarecemos equívocos e revelamos a verdade por detrás destas histórias.
A ayahuasca é uma poderosa substância psicadélica com origem nas florestas tropicais da América do Sul. Devido à sua aura mística, existe muita desinformação associada a esta infusão.
Este artigo pretende esclarecer o tema da ayahuasca, desfazendo os mitos mais comuns, explicando os seus verdadeiros efeitos e sugerindo formas de a abordar com consciência e respeito.
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O que é a ayahuasca?
A ayahuasca é uma infusão psicoactiva utilizada há séculos por comunidades indígenas da Amazónia. Esta bebida resulta da combinação de duas plantas essenciais: a liana Banisteriopsis caapi e as folhas de Psychotria viridis. Juntas, provocam uma reacção química que permite que o DMT (N,N-dimetiltriptamina) seja activo por via oral.
Os xamãs recorrem à ayahuasca tradicionalmente para fins de cura, orientação espiritual e para estabelecer ligação com dimensões não comuns. Estes rituais envolvem frequentemente cânticos, cerimónias e uma preparação alimentar rigorosa. Nos últimos anos, a ayahuasca conquistou também interesse fora da Amazónia, sendo cada vez mais procurada por quem procura experiências místicas, cura emocional ou desenvolvimento pessoal.
Actualmente, muitos retiros especializados proporcionam experiências orientadas, apresentadas muitas vezes como terapêuticas. Apesar de os primeiros estudos apontarem possíveis benefícios ao nível da saúde mental, é importante não apresentar a ayahuasca como um tratamento médico ou uma cura milagrosa. Trata-se de uma substância potente, com riscos concretos e uma herança cultural complexa. Os seus efeitos, benéficos ou adversos, dependem tanto do contexto da experiência como do próprio preparado.
Ayahuasca: mitos e factos – distingua o real da ficção
De seguida, vamos analisar cinco dos mitos mais comuns acerca da ayahuasca.
Mito nº 1: A ayahuasca é uma droga recreativa
Fato: A ayahuasca proporciona uma experiência profunda e avassaladora.
Ao contrário de drogas recreativas, consumidas por diversão ou fuga, a ayahuasca desencadeia vivências intensas e desafiantes. Em vez de fugir à sua consciência, esta bebida convida-o a conhecer-se profundamente. É habitual que, durante as cerimónias, as pessoas vomitem, chorem ou confrontem traumas antigos. Não há garantia de euforia; exige presença, e a clareza só costuma surgir após algum desconforto.
Nas culturas tradicionais, a ayahuasca é considerada uma medicina sagrada. Usa-se para diagnóstico, adivinhação e ligação espiritual, nunca como forma de entretenimento. Centros de retiro que respetam estas tradições proporcionam ambientes seguros e cuidados, promovendo uma vivência intencional da experiência.
Dito isto, é possível tirar proveito de uma experiência com ayahuasca. No entanto, não deve ser encarada como algo meramente divertido, ao estilo de outras drogas. Se entrar na experiência com essa expectativa, poderá realmente ser surpreendido.
Mito n.º 2: Ayahuasca é totalmente segura para todos
Fato: A ayahuasca não é segura para toda a gente. O seu uso irresponsável pode causar danos graves.
A combinação de DMT e inibidores da monoamina oxidase (MAOIs) tem efeitos complexos sobre o corpo humano. Para pessoas com problemas cardíacos, esquizofrenia ou que tomam certos medicamentos (em especial antidepressivos do tipo SSRI), o risco pode aumentar consideravelmente.
Embora seja raro, já ocorreram casos em que o consumo de ayahuasca levou à hospitalização ou até à morte. Os MAOIs são particularmente perigosos porque inibem enzimas essenciais para o metabolismo de certos compostos, podendo tornar alimentos ou medicamentos normalmente inofensivos verdadeiramente perigosos.
Nem todos os retiros realizam uma triagem rigorosa dos participantes, o que aumenta o perigo. Facilitadores responsáveis avaliam sempre o histórico médico, a saúde mental e a medicação atual, e, consoante os resultados, recomendam que algumas pessoas não participem.
Se estás a considerar experimentar ayahuasca, leva estas precauções a sério.
Mito n.º 3: A ayahuasca proporciona sempre experiências transformadoras
Facto: Algumas pessoas saem destas experiências com revelações profundas — outras ficam confusas, assoberbadas ou desiludidas.
A ayahuasca pode impulsionar uma transformação profunda, mas não existe garantia. Podes ter visões, descobertas emocionais ou uma sensação de ligação ao universo — mas também podes enfrentar medos, enjoos ou confusão sem um significado claro.
O que retiramos desta experiência depende do nosso estado mental, preparação, condição física e apoio disponível. Ainda mais importante é o que fazemos depois da cerimónia. A integração, ou seja, trazer o sentido da experiência para o dia a dia, é muitas vezes o factor determinante para que as percepções se traduzam em mudanças duradouras.
A ayahuasca pode abrir-te uma porta, mas és tu quem tem de atravessá-la. Há a ideia errada de que os psicadélicos são catalisadores automáticos de transformação. É certo que podem ajudar, mas tudo depende do contexto. Experiências psicadélicas em ambientes desadequados podem desestabilizar, deixando as pessoas ainda mais confusas ou emocionalmente frágeis.
Mito n.º 4: A ayahuasca é ilegal em todo o lado
Facto: A situação legal da ayahuasca é diferente de país para país, mantendo-se ambígua em muitos casos.
No Brasil e no Peru, é permitido o uso de ayahuasca em contextos religiosos ou tradicionais. Nos Estados Unidos, alguns grupos religiosos obtiveram o direito legal de a utilizar, após decisões em tribunal. Grande parte da Europa, incluindo o Reino Unido, classifica a DMT como substância controlada — o que torna a ayahuasca tecnicamente ilegal nestes países.
No entanto, esta lei nem sempre é aplicada de forma uniforme, e há centros de retiros que operam em zonas legais cinzentas. Se pretende participar numa cerimónia, informe-se sobre a legislação local e certifique-se de que o centro cumpre essas regras. Instituições como a ICEERS oferecem orientações jurídicas e informações actualizadas sobre a legislação em vários países.
Não tire conclusões precipitadas sobre a legalidade da ayahuasca. Faça a sua própria pesquisa para saber exatamente com o que pode contar. Afinal, a última coisa que vai querer é estar preocupado com questões legais durante a sua experiência.
Mito n.º 5: A ayahuasca cura distúrbios de saúde mental
Facto: Nenhuma autoridade médica reconhece a ayahuasca como tratamento para doenças mentais.
Alguns investigadores têm analisado o potencial da ayahuasca para aliviar sintomas de depressão, perturbação de stress pós-traumático e dependência. Os resultados são encorajadores, mas ainda estão numa fase inicial e nenhuma entidade governamental ou médica aprovou a utilização desta infusão como tratamento (Palhano-Fontes et al., 2019).
Muitas pessoas relatam experiências de cura emocional com a ayahuasca. Por outro lado, há quem sinta maior ansiedade, confusão ou instabilidade. Em indivíduos mais vulneráveis, os efeitos psicológicos intensos podem desencadear ou agravar problemas de saúde mental.
Os facilitadores com princípios éticos nunca prometem curas. Preferem apresentar a ayahuasca como uma ferramenta que pode apoiar o crescimento pessoal, desde que utilizada de forma responsável e integrada num enquadramento terapêutico ou espiritual mais alargado.
O futuro: Compreender a ayahuasca com clareza
A ayahuasca não é uma solução milagrosa, uma moda passageira, nem um atalho espiritual. Trata-se de um poderoso psicadélico, cujas raízes se encontram nas tradições indígenas e que deve ser encarado com profundo respeito, sensatez e humildade. Ao ser utilizada como bebida sagrada, traz consigo uma responsabilidade que não pode ser subestimada.
Se estás a pensar trabalhar com ayahuasca:
- Pesquisa e informa-te: Procura saber mais sobre as plantas envolvidas, o contexto cultural e todos os riscos associados.
- Encontra o ambiente adequado: Dá preferência a facilitadores experientes, protocolos médicos claros e práticas éticas bem definidas.
- Prepara-te física e mentalmente: Segue as recomendações tanto em termos alimentares como psicológicos antes da cerimónia.
- Integra a experiência: Escreve um diário, reflete, partilha com um terapeuta e reserva tempo para processar tudo o que viveste.
A ayahuasca pode abrir novas perspetivas sobre ti próprio e sobre o mundo – mas só se for abordada com intenção e responsabilidade. Respeita esta tradição ancestral, honra a sua origem e lembra-te: a verdadeira viagem começa com as visões, mas vai muito além delas.
- Fernanda Palhano-Fontes, Dayanna Barreto, Heloisa Onias, Katia C. Andrade, Morgana M. Novaes, Jessica A. Pessoa, Sergio A. Mota-Rolim, Flávia L. Osório, Rafael Sanches, Rafael G. dos Santos, Luís Fernando Tófoli, Gabriela de Oliveira Silveira, & Mauricio Yon. (2019, Março). Rapid antidepressant effects of the psychedelic ayahuasca in treatment-resistant depression: a randomized placebo-controlled trial - https://www.cambridge.org
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