Explorar a crescente indústria do turismo canábico

Nos locais onde o consumo de canábis é permitido, muita coisa mudou. Já não precisa de encontros discretos e incómodos para adquirir produtos de qualidade duvidosa — hoje, pode entrar tranquilamente numa loja especializada, moderna e organizada, e escolher entre uma vasta gama de opções à sua disposição.

Também não é necessário esconder os seus produtos quando está de férias: se estiver numa região onde a canábis é legal, pode aproveitar verdadeiramente o seu gosto pela planta — visitar lojas e quintas de canábis, participar em degustações, experimentar menus exclusivos em clubes ou lounges de canábis, ou até alojar-se em hotéis que acolhem consumidores de canábis.

À medida que a legalização da canábis se expande globalmente, abre-se um novo segmento no setor do turismo: o turismo canábico. Fique a saber mais sobre esta tendência que está a transformar a forma como algumas pessoas viajam, conheça as diferentes experiências disponíveis, desde simples visitas a dispensários até pacotes de férias completos dedicados ao universo da canábis.

Turismo canábico: Um mercado cheio de potencial

A indústria do cannabis não tem dificuldades em mostrar o seu enorme potencial económico. Mas a verdade é que o entusiasmo em torno do turismo canábico é inegável. Da mesma forma que os apreciadores de vinho viajam até regiões emblemáticas para provar variedades únicas e conhecer o processo de produção, os amantes de cannabis também sentem vontade de viajar para destinos onde é permitido consumir legalmente e até aprender mais sobre a origem da planta.

Os coffeeshops em Amesterdão, que já são lendários no panorama internacional, continuam a atrair quem procura experimentar cannabis na capital holandesa. Estudos indicam que cerca de 60% dos turistas em Amesterdão visitam a cidade motivados pela curiosidade em relação a drogas (O’Regan, 2022), sendo que os coffeeshops conseguem gerar receitas anuais na ordem dos 283 milhões de euros (DutchAmsterdam, 2009).

Nos Estados Unidos, verifica-se um fenómeno semelhante: os estados com mercados legais de cannabis têm registado uma forte afluência tanto de turistas nacionais como internacionais. Investigações revelam, por exemplo, que 70% da chamada Geração Z valoriza a possibilidade de aceder a cannabis legal durante as férias (Bologna, 2022). Segundo os mesmos dados, quase 40% das viagens de lazer ativas nos EUA já têm a cannabis como motivação principal.

O que procuram, afinal, estes viajantes entusiastas? Atualmente, o turismo canábico inclui alojamentos e pacotes de viagem adequados a consumidores, acesso facilitado a dispensários ou espaços de consumo como lounges de cannabis, assim como turismo educativo (com visitas a quintas, workshops de culinária com cannabis, entre outras experiências).

Alojamentos e pacotes de férias para amantes de cannabis

O alojamento é decisivo para umas férias bem-sucedidas. Com o crescimento do mercado global da canábis, está mais fácil do que nunca encontrar um local onde seja permitido desfrutar desta planta durante a sua estadia. Os chamados alojamentos 420 multiplicam-se em regiões onde a canábis é legal, especialmente em mercados mais maduros como os Estados Unidos.

Em Denver, no Colorado, por exemplo, o The Patterson Historic Inn permite-lhe experimentar um momento relaxante dentro de um edifício vitoriano classificado como Monumento Nacional, localizado no coração do emblemático bairro de Capitol Hill. Para além de nove quartos com decoração distinta, o Patterson conta ainda com o 420 Lounge — um espaço privado onde os hóspedes e membros podem consumir a sua própria canábis, acompanhando-a com um menu especialmente pensado para harmonizar com as melhores variedades do Colorado.

A oferta de alojamentos para consumidores de canábis está também a crescer em mercados mais recentes. Na Tailândia, onde a legalização só chegou em 2022, já existe o primeiro resort amigo da canábis na Ásia. Em Koh Samui, uma pequena ilha, o The Beach convida os apreciadores da planta a descontraírem nas suites "cannabis-friendly" — seja enquanto saboreiam um Mai Tai, ou após uma sessão de spa com infusões de ervas únicas do resort.

Os B&Bs adequados ao consumo de canábis começam igualmente a surgir por todo o mundo. Geridos por entusiastas e para entusiastas, são uma excelente alternativa para quem procura um ambiente acolhedor e familiar que por vezes falta em hotéis de maior dimensão. Plataformas como a Bud and Breakfast foram criadas especialmente para ajudar turistas a encontrar alojamentos privados adequados ao consumo de canábis.

Mas e se for daqueles viajantes a quem custa organizar voos, estadias e atividades para construir o roteiro de viagem perfeito? Não se preocupe — o turismo canábico conta também com várias agências de viagens especializadas em experiências completas, oferecendo pacotes de férias em todo o mundo.

Um desses exemplos é a HigherWayTravel.com. Fundada por April Black, antiga coordenadora de viagens da Cannabis Cup de Amesterdão, a HigherWayTravel organiza viagens temáticas de vários dias, desenhadas para consumidores de canábis de todos os perfis, com destinos tão diversos como Colômbia, Jamaica, Havai e até a Europa!

Dispensários de destino: Uma atração única

Visitar locais onde é possível adquirir e consumir cannabis legalmente tornou-se uma autêntica atracção turística, em especial para quem vive em países onde o consumo ainda é proibido. Com a expansão da legalização, multiplicam-se os destinos a considerar para qualquer apreciador de cannabis.

Amesterdão permanece uma espécie de “Meca” para os entusiastas, sendo obrigatório visitar pelo menos uma vez na vida. Para quem procura uma experiência animada, o conhecido bairro da Luz Vermelha oferece coffee shops emblemáticos como The Bulldog, bem como uma oferta variada de bares e espectáculos ao vivo. Para algo mais tranquilo e menos turístico, vale a pena descobrir bairros como Jordaan, Oud-West ou Oost, onde pode encontrar coffee shops como Kafenion, Blue Lagoon ou Coffeeshop Oost.

Se Amesterdão não estiver nos seus planos, a Califórnia apresenta-se como um destino moderno, com uma indústria de cannabis avançada e dispensários muito conceituados. Para uma experiência verdadeiramente distinta, pode visitar quintas de cannabis inspiradas nos vinhedos da região.

O Mine + Farm Inn, por exemplo, é um Bed and Breakfast boutique, amigo do universo 420, situado na histórica quinta Ridenhour Ranch, no Russian River Valley, a famosa região vinícola de Sonoma, Califórnia. Além de quartos acolhedores, a pousada organiza eventos personalizados, desde workshops educativos a provas ou jantares com infusões de cannabis cultivada localmente.

Se preferir, ou até na mesma viagem, pode atravessar a fronteira para o Nevada, conhecido por alguns dos dispensários mais sofisticados do mundo. Além de abastecer-se com flores de qualidade premium, concentrados ou comestíveis, em Las Vegas encontra ainda espectáculos ao vivo dentro dos próprios dispensários.

O Planet13, por exemplo, foi concebido para revolucionar a experiência canábica. Este espaço totalmente imersivo conta com o maior dispensário do mundo, um restaurante, bar, lojas e muito mais. Para uma saída mais requintada, The Dispensary Lounge combina cannabis topo de gama com jazz ao vivo, cocktails sofisticados e iguarias canábicas.

À medida que mais países legalizam, surge a oportunidade de conhecer novas culturas e formas de relação com a canábis. Um dos mercados mais promissores é a Alemanha, que em breve poderá surpreender com experiências únicas para os mais de 30 milhões de visitantes anuais (Road Genius, 2024).

Gomas de CBD (Zen CBD)

(87)

(87)

Gomas de CBD (Zen CBD)

Ver produto

Lounges de cannabis e espaços de consumo

Poder comprar canábis legalmente é sem dúvida um passo importante, mas contar com um local confortável para usufruir da experiência é ainda melhor. É aí que entram em cena os espaços de consumo, como os lounges e bares dedicados à canábis. Alguns exemplos de referência são:

• Rise Mundelein: Um espaço de destaque nos arredores de Chicago, Illinois, onde pode acender e desfrutar das flores, extratos ou comestíveis adquiridos na loja Rise localizada mesmo ao lado.
• Sky High Lounge: O primeiro lounge para consumo de canábis em Las Vegas, mantendo-se um local emblemático para relaxar e saborear um bom fumo na cidade do entretenimento.
• The Pizza Pusha: Um espaço inovador, onde são servidas pizzas, gelados e saladas infusionados. Uma autêntica revolução para a tradicional fatia nova-iorquina.
• The Studio: Situado na emblemática Santa Monica Boulevard, em West Hollywood, The Studio reúne dispensário, bar e lounge num só local, onde poderá encontrar canábis premium, deliciosos cocktails com canábis e um ambiente descontraído.

Estes lounges e bares de canábis diferenciam-se dos tradicionais coffeeshops ou lojas de venda ao oferecer aos visitantes uma experiência mais completa, combinando o consumo de canábis com gastronomia e bebidas de qualidade. Muitos destes espaços proporcionam ainda música ao vivo ou outras formas de entretenimento especialmente pensadas para criar uma atmosfera única.

No entanto, apesar do potencial, os lounges e bares canábicos continuam a ser menos comuns do que hotéis ou lojas que aceitam o consumo, uma vez que enfrentam uma legislação mais rigorosa e, por vezes, a resistência das populações locais. Contudo, à medida que o estigma associado à planta diminui e os mercados se tornam mais regulamentados, assiste-se ao surgimento de cada vez mais espaços deste género pelo mundo fora.

Turismo canábico educativo

É verdade que os apreciadores de cannabis gostam de relaxar, mas a curiosidade também faz parte da sua natureza – e é precisamente aí que a indústria do turismo canábico está a apostar forte.

Tal como os entusiastas de vinho e cerveja visitam adegas e cervejeiras para conhecerem melhor os seus produtos favoritos, hoje em dia os fãs de cannabis têm a oportunidade de explorar por dentro todo o processo de produção das flores premium, concentrados potentes e edibles irresistíveis. Um exemplo é a Humboldt Cannabis Tours, que promove visitas guiadas bastante informativas e profissionais às instalações responsáveis pela reputada cannabis do condado de Humboldt.

Para quem prefere consumir cannabis de forma culinária em vez de fumar, também não faltam opções de interesse. Por todo o mundo, nos mercados onde a cannabis é legal, multiplicam-se as aulas de culinária à base de cannabis. Um exemplo é o Cannabis Institute na Cidade do Cabo, com o seu curso abrangente sobre Cozinha com Cannabis, onde os participantes aprendem desde técnicas para infusionar manteiga e óleo, até à preparação de molhos especiais, temperos e até produtos tópicos à base de cannabis.

Já em Montevideu, capital do Uruguai — o primeiro país a legalizar totalmente o uso da cannabis — a La Rica Uruguay oferece workshops personalizados de culinária. A sua fundadora, Marcela Ikeda, organiza também jantares privados com pratos infusionados com cannabis e apresenta uma gama cada vez maior de produtos prontos a consumir, como óleos picantes infusionados.

Outro segmento em crescimento dentro do turismo canábico educativo é o dos retiros de bem-estar à base de cannabis. Para quem quer integrar a cannabis na rotina de autocuidado, estas experiências são ideais — exploram formas criativas e saudáveis de ligar corpo, mente e espírito ao consumo da planta, em combinação com práticas como yoga, meditação, pilates, massagens, cuidados de pele e muito mais.

A MoodRXTreats, fundada por Holly Teegarden — uma empresária da área da cannabis sediada em Pittsburgh, com experiência em dispensários e outros projetos ligados ao setor —, organiza retiros de fim de semana especialmente concebidos para mulheres à procura de uma ligação mais profunda consigo próprias através da cannabis, independentemente de já terem ou não experimentado. Para 2025, estes retiros estão agendados para o Maryland, Michigan, Nova Iorque e Ohio.

Desafios e complexidades legais

Naturalmente, o turismo canábico não é um mar de rosas. Tal como acontece noutras áreas do mercado legal da canábis, existem inúmeros desafios e obstáculos a superar.

No caso dos Estados Unidos, um dos principais entraves ao crescimento desta indústria é a manutenção da proibição federal. Uma vez que a canábis continua classificada como substância da Tabela 1, todos os negócios ligados ao turismo canábico em estados onde é legal acabam, tecnicamente, por infringir a lei federal. Embora as autoridades federais geralmente não perseguam estas empresas, esta situação cria várias dificuldades, como:

• Diferenças entre legislações estaduais: O que é permitido num estado pode ser ilegal noutro. Além disso, a ausência de normas nacionais acaba por originar grandes diferenças na qualidade dos produtos de canábis.
• Limitações à circulação: Nos EUA, transportar canábis entre diferentes estados continua a ser expressamente proibido.
• Barreiras fiscais federais: Por ser ilegal a nível federal, não é possível recolher impostos federais sobre a canábis.
• Dificuldades no acesso a serviços bancários: As empresas do setor, incluindo as de turismo, enfrentam limitações severas no acesso a serviços financeiros, sobretudo devido à impossibilidade de recorrer ao sistema bancário tradicional.

Fora do território norte-americano, o setor global da canábis enfrenta igualmente vários desafios. A estigmatização social associada ao consumo de canábis gera fortes resistências, especialmente em mercados recentes ou regiões mais conservadoras.

Montar uma infraestrutura turística dedicada à canábis levanta também questões legais complexas. Entre as mais urgentes está encontrar um equilíbrio regulatório que permita o consumo seguro, sem impor restrições excessivas, assim como definir as responsabilidades legais dos agentes envolvidos. Por exemplo, muitas empresas enfrentam dificuldades em obter seguros fundamentais para a proteção de funcionários e clientes em situação de emergência.

Além disso, o turismo canábico traz preocupações ambientais relevantes. Sabendo que o turismo tradicional já tem um impacto considerável, a produção de canábis, que exige elevados consumos de água, fertilizantes e energia, agrava a pressão sobre o ambiente (Helmer, 2019).

A saúde pública e a segurança também não devem ser ignoradas na regulamentação da canábis e na expansão desta indústria. Apesar de muitos consumidores e defensores considerarem a canábis segura, a verdade é que continuamos a descobrir os numerosos efeitos desta planta no organismo humano. A crescente potência dos produtos atualmente disponíveis levanta ainda mais preocupações ao nível da saúde mental (Backman, 2023).

Outra questão central para o progresso do turismo canábico prende-se com a justiça social. Em várias regiões do mundo, as comunidades mais desfavorecidas foram as mais prejudicadas pela criminalização da canábis. Agora que a legalização abre caminho a um setor multimilionário, debate-se como garantir oportunidades equitativas para quem foi alvo de injustiças no passado (Yang, Berg, & Burris, 2023).

Turismo canábico: Uma nova fronteira

O turismo canábico é um sector em franca expansão, repleto de potencial. À medida que surgem novos mercados legais e os já existentes se consolidam, cresce também a variedade de experiências disponíveis para quem viaja e aprecia cannabis.

Ao longo deste artigo, pretendemos dar-lhe uma visão geral do que é o turismo canábico, do potencial deste sector e das experiências que já oferece atualmente. Simultaneamente, abordámos brevemente os vários desafios que o sector enfrenta. Desde questões de segurança pública a restrições legais e até à igualdade de acesso, são muitos os obstáculos a ultrapassar para que o turismo canábico possa atingir todo o seu potencial.

Steven Voser

Steven Voser é um jornalista independente especializado em canábis, com mais de seis anos de experiência a escrever sobre todos os aspetos da planta: desde os métodos de cultivo, às melhores formas de consumo, passando ainda pelo dinâmico setor e pelo complexo enquadramento legal que o envolve.

Leia a biografia completa