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5 mitos sobre a absinto
6 min

5 mitos sobre a absinto

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O absinto, conhecido como a fada verde, voltou a ganhar popularidade na Europa após anos de proibição. Muitas ideias erradas persistem sobre esta bebida lendária. Está na hora de desfazermos alguns dos seus principais mitos!

Absinto, a bebida dos poetas e artistas que em tempos dominou os bares de França, abriu alas como uma fada verde, levando quem a bebia a uma sensação de inspiração súbita. Durante largos anos, foi proibida em muitos países, forçando esta famosa bebida verde a sair das sombras para a ribalta. Existem inúmeros mitos em torno da história e composição do absinto. Chegou o momento de os desmistificar.

O absinto é alucinogénio

A enigmática "Fada Verde" (La Fee Verte), que alegadamente aparecia entre os apreciadores de absinto e lhes envolvia os pensamentos em delírios, tornou-se uma lenda clandestina que fascinou multidões. Mas será que o absinto tem, de facto, propriedades alucinogénicas? A resposta é não. Esta crença não passa de um mito criado para potenciar as vendas. Não é mais provável ter visões com absinto do que com outras bebidas alcoólicas como whisky ou vodka. As ervas utilizadas na produção de absinto podem dar ao consumidor uma sensação de clareza ou leveza, mas toda a aura mística em torno desta bebida poderá ter contribuído para a perpetuação deste mito.

Grande parte dos rumores centram-se na utilização da planta absinto (Artemisia absinthium), conhecida pelo seu sabor amargo e pelos usos medicinais e rituais em várias culturas. Esta planta contém uma substância chamada tujona. No entanto, os especialistas afirmam que é altamente improvável que a tujona tenha qualquer efeito alucinogénio na dose presente no absinto. Em quantidades elevadas, a tujona pode provocar hiperatividade, estados de excitação, delírio, convulsões e até ataques epiléticos. Segundo a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) na sua declaração pública sobre a tujona, esta substância atua como um veneno em doses altas: “Foram registados casos de intoxicações graves em humanos após o consumo de óleo essencial rico em tujona… Foram descritas convulsões semelhantes às epiléticas após a ingestão de tujona isolada… Uma sobredosagem de preparados alcoólicos de Absinthe herba ou de óleo essencial pode causar distúrbios do sistema nervoso central, levando a convulsões, perda de consciência e até morte…”. De acordo com o Jornal Oficial da União Europeia, o valor máximo de tujona permitido em bebidas alcoólicas (incluindo o absinto), é de 35mg/kg, desde que seja proveniente de espécies de Artemisia. O absinto disponível no mercado respeita limites rigorosos e contém níveis reduzidos de tujona, sendo por isso seguro para consumo. Em resumo, não é aconselhado procurar preparações com altas concentrações desta substância.

O absinto foi proibido por ser alucinogénio

Vamos começar com uma história. Corre o ano de 1905, em Vaud, na Suíça. Jean Lanfray, agricultor de 31 anos, embriagou-se numa longa maratona alcoólica: bebeu enormes quantidades de vinho, conhaque, brandy, crème de menthe e dois copos de absinto, tendo apenas comido uma sanduíche nesse dia. Ao regressar a casa, envolveu-se numa acesa discussão com a esposa e acabou por assassiná-la. Depois, matou também os filhos. Na época, o movimento proibicionista estava em força e este crime brutal acabou por impulsionar uma onda de indignação contra o absinto; cerca de 82 mil pessoas assinaram uma petição e a bebida acabou proibida em 1915. Em França, o veto coincidiu com o início da Primeira Guerra Mundial: para os governantes, o absinto era visto como algo que corrompia a população, o que era intolerável em tempo de guerra.

Henri Schmidt, membro da Câmara dos Deputados francesa, declarou: "Nous attaquons l'érosion de la défense nationale. L'abolition de l'absinthe et la défense nationale, c'est la même chose" ("Estamos a combater a erosão da defesa nacional. Abolir o absinto e proteger a defesa nacional são a mesma causa"). Naturalmente, os lobistas do vinho também tinham interesses pessoais a defender. Os defensores do vinho afirmavam que esta era a verdadeira bebida francesa e que consumir absinto era contrário ao patriotismo, levando ainda à loucura. Como resultado, o absinto foi proibido nos Estados Unidos e na maioria dos países europeus, incluindo França, Países Baixos, Bélgica, Suíça e Áustria-Hungria.

Importa acrescentar que, naquela época, os controlos de qualidade alimentar e de saúde eram quase inexistentes, sobretudo se compararmos com os padrões actuais. Embora as análises a amostras antigas de absinto não tenham detetado níveis tóxicos de tujona, os resultados apresentavam grande variação, pelo que é possível que algumas bebidas tivessem, de facto, afetado a saúde mental de quem as consumia — ainda que isso permaneça no domínio da especulação.

O absinto é da República Checa

A crença nas origens checas do absinto deve-se em grande parte a campanhas de marketing feitas por distribuidores checos, bem como a vários factores históricos. Para compreendermos esta história, temos de recuar até à época da Revolução Francesa. O absinto terá sido criado na Suíça, em 1792, pelo médico Pierre Ordinaire, ainda que a receita possa ser anterior e atribuída às irmãs Henriod, também suíças.

 Foi o Dr. Ordinaire que deu ao absinto o nome de “La Fée Verte” (A Fada Verde) e passou a prescrevê-lo como um remédio quase milagroso para males como a gota, epilepsia, pedras nos rins, cólicas, entre outros. O que começou como uma simples solução medicinal, rapidamente ganhou fama graças às lendas associadas à artemísia e ao carácter misterioso da bebida, tornando-se muito popular entre artistas e poetas entre 1880 e 1914. Só em 1874, consumiram-se 700.000 litros de absinto; em 1910, este número disparou para uns impressionantes 36 milhões de litros por ano. Em Paris, era a bebida da moda, aquela que os criadores e boémios procuravam para se inspirarem.

Saltando agora para a Europa de Leste: já na década de 1860, o absinto era apreciado na República Checa e a proibição implementada em 1915 nunca foi realmente aplicada no país. A sua produção continuou até ao final da Segunda Guerra Mundial, altura em que o regime comunista interditou o consumo. O renascimento da cultura do absinto verificou-se após a queda do regime comunista, em 1990, quando a República Checa decidiu recuperar esta tradição. A reputação do absinto checo espalhou-se a nível mundial, contribuindo para o mito das suas supostas origens checas.

O mito do cubo de açúcar em chamas

Absinto + açúcar + fogo = uma técnica de marketing que arruína um bom absinto. A tradição dita colocar um cubo de açúcar numa colher própria para absinto e deixar cair água fria lentamente sobre o açúcar, permitindo que escoe para o copo e provoque o efeito de turvação conhecido como “louche”. Os apreciadores defendem que o açúcar era usado originalmente para disfarçar o amargor dos absintos de menor qualidade. Já os cubos de açúcar queimados acabam por adulterar ainda mais o sabor. Queimar coisas atrás do bar pode ser divertido, mas convém conhecer os factos. E tenha cuidado para não se queimar por acidente e acabar como manchete: "Pessoa Ou Bife? Os Perigos Do Absinto!"

COR DO ABSINTO

O absinto pode apresentar várias cores: translúcido, vermelho ou verde. Após a primeira destilação, obtém-se um líquido transparente que pode ser engarrafado e vendido como “Absinto Branco”. Na destilação secundária, adicionam-se as ervas necessárias, conferindo à bebida um tom verde-esmeralda. Depois de engarrafado, este verde transforma-se naturalmente num verde seco, conhecido como “verde folha morta” — a cor tradicional do absinto artesanal de qualidade. Muitos produtores optam por reduzir custos utilizando o Absinto Branco da primeira destilação e adicionando corantes artificiais, como o azul E133 e o amarelo E102, para obter o efeito esmeralda. O absinto de excelência apresenta-se geralmente no tom “verde folha morta” ou na versão transparente de “Absinto Branco”. Existem ainda versões vermelhas, criadas através da infusão com ingredientes naturais como as flores de hibisco. Há igualmente absintos de outras cores, até mesmo preto, mas convém estar atento à presença de corantes artificiais.

Conclusão

A história da absinto é verdadeiramente cativante, tendo servido de inspiração a artistas como Degas, Verlaine, Hemingway e Van Gogh, que se deixaram envolver pelo mistério da "fada verde". Actualmente, muitos fabricantes e apreciadores estão a reabilitar o absinto de qualidade, voltando a colocá-lo nos armários de bebidas lá de casa. Também gostava de fazer o seu próprio absinto? É possível! Consulte o nosso artigo sobre como fazer absinto em casa para um guia passo a passo.

Steven Voser
Steven Voser
Steven Voser é um jornalista independente especializado em canábis, com mais de seis anos de experiência a escrever sobre todos os aspetos da planta: desde os métodos de cultivo, às melhores formas de consumo, passando ainda pelo dinâmico setor e pelo complexo enquadramento legal que o envolve.
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