7 fatores que podem influenciar a floração da cannabis

Enquanto cultivadores de canábis, procuramos, por norma, ter o máximo controlo possível sobre o nosso cultivo. No caso das variedades fotoperiódicas, isto traduz-se em decidir quando as plantas entram na floração, reduzindo as horas de luz no cultivo interior. No exterior, cabe à própria natureza determinar quando as plantas começam a formar flores. Mas o que fazer quando as suas plantas fotoperiódicas passam para a fase de floração sem aprovação sua, nem dos ciclos naturais?

Infelizmente, o início e a duração da floração das plantas de canábis podem ser influenciados por fatores além do simples ciclo de luz. Nestes casos, cabe ao cultivador identificar e corrigir os problemas.

A seguir, vamos analisar sete fatores externos que podem acelerar, atrasar ou prolongar a floração das plantas de canábis.

Nutrição inadequada

As plantas de canábis necessitam de nutrientes para crescer, e uma alimentação deficiente pode levar as plantas a iniciar a floração, como resposta à escassez de recursos. Curiosamente, tanto o excesso como a falta de nutrientes podem ser prejudiciais, sendo que a canábis tende a desencadear uma floração precoce quando os nutrientes essenciais para a fase vegetativa diminuem.

Os cultivadores experientes sabem que o azoto é o macronutriente principal durante a fase vegetativa. Quando chega o momento da floração, diminui-se a quantidade de azoto e priorizam-se outros nutrientes, especialmente o fósforo (P).

O ácido giberélico (AG) tem um papel notável ao desencadear a floração em plantas fotoperiódicas. Curiosamente, é em situações de "limitação de nitratos" que os níveis desta hormona aumentam e se inicia a floração.

Ou seja, baixos níveis de nitrato no solo (azoto disponível para a planta) indicam que a fase vegetativa está perto do fim e é altura de apressar a floração antes da aproximação do inverno.

Portanto, mesmo que mantenha as suas plantas com um ciclo de luz de 18/6, níveis reduzidos de nitratos podem ser suficientes para antecipar consideravelmente o início da floração.

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Níveis de sacarose e lípidos

O açúcar é fundamental para o desenvolvimento das plantas de canábis e, de facto, estas são sensíveis tanto ao excesso como à falta deste composto. Embora ainda não tenha sido comprovado especificamente na canábis, sabe-se que em algumas plantas de fotoperíodo, a floração pode ser induzida através da aplicação de uma baixa concentração de sacarose.

Por outro lado, concentrações mais elevadas — na ordem dos 5% ou mais — podem atrasar a floração em certas espécies. Ou seja, o excesso de açúcar pode adiar o aparecimento das flores, o que é tão inconveniente como uma floração prematura.

Além do açúcar, acredita-se que o aumento dos lípidos nas plantas também acelera o início da floração. Um estudo realizado em 2015 em plantas de colza demonstrou que a sobre-expressão do gene BnWRI1 (associado à biossíntese de ácidos gordos) “resultou numa antecipação da floração das plantas entre 4 a 6 dias sem comprometer o crescimento vegetativo”. Este efeito pode ainda dever-se ao facto de BnWRI1 induzir níveis mais altos de açúcares solúveis, que, como referido acima, também favorecem a floração.

Temperatura ambiente

Para além do ciclo de luz, a temperatura ambiente é outro fator que pode influenciar o momento em que a canábis começa a florir. Normalmente, esta planta prefere temperaturas diurnas entre 20 e 30 °C, sendo ligeiramente inferiores durante a noite.

Investigação científica indica que temperaturas superiores a 27 °C promovem o aumento de proteínas associadas à floração em determinadas espécies, fazendo com que as plantas entrem em flor mais cedo. Em contraste, quando as temperaturas estão bastante abaixo do ideal, a transição para a fase de floração tende a ocorrer mais tarde.

No entanto, valores demasiadamente altos (acima de 30 °C) também podem atrasar o início da floração, pois a planta terá maior dificuldade em manter as suas funções normais.

Para o cultivador de canábis, o segredo está em manter um equilíbrio: proporcionar calor suficiente sem causar stress às plantas ou aumentar os riscos para a sua saúde. No exterior, pode evitar problemas de calor excessivo simplesmente mudando os vasos para uma zona mais sombreada nas horas de maior calor.

Seca

Continuando o ponto anterior, as situações de seca também podem acelerar o início da floração nas plantas de canábis. Durante todo o seu ciclo de vida, estas plantas precisam de um abastecimento regular de água. Quando passam demasiado tempo sem hidratação, o stress vivido pode levá-las a florescer mais cedo, numa tentativa de formar sementes antes de morrerem.

Curiosamente, já existem estudos sobre a chamada "seca controlada" na canábis. Num estudo realizado em 2019, os investigadores mostraram que a restrição de água durante a fase de floração pode aumentar de forma significativa os níveis de canabinóides: registou-se um aumento de 12% de THCA e 13% de CBDA em relação ao grupo de controlo. Por este motivo, entre outros, alguns cultivadores de canábis optam intencionalmente por limitar a rega para tentar obter uma colheita mais potente.

Pelo contrário, o excesso de água pode impedir que a floração aconteça, além de representar um risco sério para a saúde e sobrevivência das plantas. Ao contrário da seca, à qual a canábis consegue resistir razoavelmente bem, demasiada água pode facilmente arruinar uma plantação.

Acumulação de sal

Outro factor que pode comprometer a floração é o excesso de sais. Estudos demonstram que níveis elevados de salinidade impedem diretamente o início da floração, sendo que concentrações mais altas têm um impacto ainda mais negativo.

Infelizmente, para os cultivadores que não utilizam métodos biológicos, o excesso de sais é um problema frequente. A utilização de nutrientes minerais pode levar à acumulação de sais junto das raízes, bloqueando a absorção de nutrientes. Esta situação não só dificulta a floração, mas também origina outros problemas, sobretudo aqueles relacionados com o bloqueio nutricional.

Ao que tudo indica, esta acumulação interfere na via de sinalização do ácido giberélico — um composto fundamental para o desencadear da floração.

Caso note problemas causados por excesso de salinidade, o melhor é lavar o substrato apenas com água, eliminando assim o excesso de sais na zona das raízes.

Químicos exógenos

Os químicos exógenos — ou seja, aqueles que são aplicados externamente às plantas — podem também ter um impacto no momento em que a canábis começa a florir. Alguns destes compostos podem até ser produzidos pelas próprias plantas em resposta a situações já referidas, como seca, temperaturas elevadas ou elevada salinidade do solo. Vamos analisar de que forma a introdução destas substâncias pode atrasar ou acelerar o início da floração.

• Óxido nítrico (NO)

O óxido nítrico é um radical livre que funciona como molécula sinalizadora nas plantas. Está presente ao longo de todo o ciclo de vida da planta e pode influenciar o momento da floração. Sabe-se que aplicações exógenas de NO podem inibir a floração em várias plantas de dia curto. De salientar que os níveis de NO podem aumentar devido a factores como a seca ou a presença de agentes patogénicos.

• Dióxido de azoto (NO₂)

Ao contrário do NO, o dióxido de azoto (NO₂) desempenha um papel importante como regulador positivo do crescimento nas plantas, podendo inclusive estimular a floração quando presente em níveis atmosféricos adequados. A aplicação de NO₂ a uma cultura de canábis pode acelerar o início da floração, sem prejudicar o desenvolvimento vegetativo. No entanto, níveis excessivos de NO₂ podem ser tão prejudiciais como concentrações demasiado baixas.

• Dióxido de carbono atmosférico (CO₂)

É comum que cultivadores de cannabis aumentem os níveis de CO₂ no ambiente de cultivo com o objetivo de obter plantas maiores, mais saudáveis e produtivas. O CO₂ é essencial para potenciar a fotossíntese, além de ajudar a reduzir a transpiração, o que conduz a uma maior produção de açúcares nas folhas.

Isso pode igualmente explicar porque o CO₂ contribui para acelerar o período de floração em diversas plantas. No entanto, importa referir que o impacto do CO₂ na floração pode variar de espécie para espécie.

• Ácido ascórbico (AA / Vitamina C)

O ácido ascórbico desempenha um papel essencial na biossíntese das hormonas que regulam o momento do florescimento nas plantas. Estudos indicam que níveis elevados deste composto podem inibir a via do ácido giberélico, atrasando assim o florescimento.

Presença de patogénios microbianos

Sim, até bactérias, fungos e outros agentes patogénicos podem influenciar o momento em que as plantas florescem. Patogénios fúngicos como o Fusarium, por exemplo, podem provocar tanto uma floração precoce como tardia em certas variedades, dependendo da resistência de cada fenótipo.

Um estudo publicado em 2003 analisou o impacto do agente patogénico bacteriano P. syringae no ciclo de floração de plantas suscetíveis. Foi observado que pequenas quantidades do patogénico aceleravam o início da floração em alguns dias, enquanto exposições mais elevadas atrasavam significativamente o processo.

Mas não são só os organismos patogénicos que afetam o tempo de floração; microrganismos benéficos do solo também desempenham um papel importante. Certos tipos de rizobactérias—bactérias que colaboram com o sistema radicular—podem acelerar a transição para a floração ao melhorarem a qualidade do solo e promoverem o aumento da expressão da proteína ativadora 1 (AP-1).

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7 fatores que influenciam a floração da canábis: o que fazer?

Embora algumas das condições referidas possam prejudicar o cultivo de cannabis, outras podem ser usadas a seu favor. Por exemplo, muitos cultivadores optam por adicionar suplementos de açúcar, como melaço, para potenciar a fotossíntese e eventualmente acelerar a fase de floração. Além disso, manter a cultura em temperaturas elevadas dentro do intervalo recomendado e fornecer níveis aumentados de CO₂ pode tornar o cultivo mais eficiente e produtivo.

Em suma, compreender que fatores externos podem influenciar o tempo de floração permite-lhe estar mais preparado para lidar com quaisquer desafios, sejam eles pragas, períodos de seca ou défices nutricionais.

Adam Parsons

Adam Parsons é jornalista profissional especializado em canábis, copywriter e autor, integrando há vários anos a equipa da Zamnesia. Responsável por abordar uma vasta gama de temas, desde o CBD aos psicadélicos, entre outros, Adam dedica-se à criação de artigos de blog, guias e à exploração contínua de uma oferta de produtos cada vez mais diversificada.

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