
Guia para cultivar canábis com aquaponia
Aquaponia junta hidroponia e aquacultura num ecossistema autossustentável, capaz de cultivar cannabis de excelente qualidade. Descobre mais sobre este método inovador e aprende como montar facilmente o teu próprio sistema aquapónico em casa.
A aquaponia é uma forma inovadora de cultivar canábis, combinando os benefícios da hidroponia com a criação de peixes. Se procuras uma alternativa ao tradicional cultivo em terra, esta é uma excelente opção — não só pelo visual impressionante, mas também porque vai surpreender todos os que te visitarem.
Com um sistema de aquaponia bem estruturado, estás a criar um ecossistema sustentável onde os peixes e as plantas de canábis coexistem numa relação simbiótica. Se isso soa complicado, não te preocupes: é mais simples do que parece.
Neste guia vais descobrir como montar o teu próprio sistema de aquaponia caseiro, de forma fácil e rápida. Prepara-te para elevar o cultivo da tua canábis a outro nível!
O que é a aquaponia?
A aquaponia resulta da junção entre aquacultura e hidroponia. Tal como no cultivo hidropónico, as plantas de canábis crescem sem solo (ou com muito pouca terra), recebendo nutrientes através de uma bomba de água — mas, neste caso, os peixes desempenham um papel fundamental.
O funcionamento é simples: os peixes alimentam-se e produzem resíduos (amónia), que são transformados em nitratos pelas bactérias. A água rica nestes nutrientes é então bombeada para um leito de cultivo onde estão as plantas. As raízes das plantas absorvem o azoto e, ao purificarem a água, esta retorna ao aquário, pronta para os peixes.
Desta forma, cria-se um ciclo contínuo que reproduz o equilíbrio natural dos ecossistemas aquáticos: os peixes alimentam-se, as bactérias decompõem os resíduos (convertendo-os em nutrientes para as plantas), e as plantas mantêm a água limpa para os peixes. Isto faz da aquaponia um dos métodos de cultivo mais sustentáveis e económicos.
Porque optar por cultivar canábis com aquaponia?
Além de ser praticamente auto-sustentável, uma das principais vantagens deste método, o cultivo com aquaponia oferece ainda muitos outros benefícios (e apenas algumas desvantagens). Vejamos de seguida:
Vantagens da aquaponia:
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Totalmente biológico e natural: Quando tens peixes no aquário, não podes usar químicos nocivos. Cultivar de forma biológica e natural não só protege a saúde e bem-estar dos peixes, como também garante plantas mais saudáveis!
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Utiliza menos água do que outros métodos de cultivo: Ao contrário de métodos hidropónicos tradicionais como o deep water culture, um sistema de aquaponia consome muito menos água no geral. Enquanto no DWC terias de substituir a água a cada três semanas, a aquaponia é bastante autossuficiente — só precisas de repor a água perdida por evaporação.
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Pode ser instalado praticamente em qualquer lugar: Um sistema de aquaponia pode ser montado dentro de casa, no exterior ou até numa estufa.
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Pode ser dimensionado consoante a necessidade: O sistema pode ser pequeno, apenas para algumas plantas, ou tão grande quanto desejares.
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Requer menos tempo: Como o funcionamento é em grande parte automatizado, exige menos tempo e esforço do que outros métodos de jardinagem. Idealmente, basta alimentares os peixes.
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Tem um visual incrível: Peixes e canábis são uma combinação impressionante.
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Óptimo para quem gosta de experimentar algo novo.
Desvantagens da aquaponia:
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Não é o método de cultivo mais fácil ou rápido de implementar.
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Pode ser necessário algum tempo para ajustar o sistema até que se torne, de facto, totalmente autossustentável.
Como instalar um sistema de aquaponia
Agora, vamos explicar como podes montar um sistema básico de aquaponia em casa. Em vez de utilizarmos apenas argila expandida como substrato, iremos optar por uma configuração conhecida como “zona de dupla raiz”.
E porquê esta opção? A argila expandida, por si só, não fornece nutrientes suficientes para complementar o que é produzido pelos peixes e microrganismos. Por isso, estes sistemas tendem a ter carência de potássio e fosfato. Ao adicionar uma camada de solo, conseguimos aumentar significativamente a disponibilidade de nutrientes, atingindo níveis ideais.
Segue estes passos para te iniciares:
1. Monta o teu aquário de peixes
O essencial primeiro: tal como nós, os peixes são seres vivos. Por isso, é fundamental criar um ambiente onde se sintam seguros, saudáveis e confortáveis.
A quantidade de espaço necessária vai depender da espécie de peixe que escolher (mais informações abaixo). Por isso, é importante optar por um aquário com o tamanho adequado.
Num sistema simples, um aquário acrílico padrão costuma ser suficiente. No entanto, também é possível manter os peixes noutros recipientes, como contentores de qualidade alimentar ou bidões grandes. O mais importante é que o tanque ofereça condições ideais para a vida dos peixes, independentemente do aspeto.
Ao encher o aquário, siga os procedimentos habituais para instalar um tanque de peixes. Antes de tudo, é necessário eliminar o cloro da água. Para isso, basta deixar a água da torneira repousar à temperatura ambiente durante um ou dois dias, para que o cloro evapore. Se a água da rede tiver cloramina (confirme junto do seu fornecedor), esta só se remove com produtos próprios.
Depois de eliminar o cloro, ainda não coloque os peixes! O sistema tem de funcionar sem peixes durante 4 a 6 semanas. Este período permite ao ciclo biológico instalar-se e às bactérias benéficas desenvolverem-se na água. Sem estas bactérias, não haverá transformação dos resíduos dos peixes em nutrientes para as plantas.
Não se esqueça de instalar uma bomba. A bomba é responsável por transferir a água do aquário para a zona de cultivo (onde estão as plantas e as raízes) e trazê-la de volta ao tanque dos peixes.
2. Construa o leito de cultivo de raiz dupla
A cama de cultivo é onde vamos plantar a nossa canábis. Esta estrutura deve ser montada num sistema de mesa de enchimento acima do aquário dos peixes. O ideal é recorrer a um tabuleiro de plástico robusto e de grandes dimensões, mas também pode optar por um tabuleiro de madeira ou material equivalente. Como a cama ficará suspensa sobre o tanque, certifique-se de a colocar sobre um suporte ou mesa suficientemente resistente.
Comece por preencher a primeira camada com argila expandida. Este substrato é amplamente utilizado em hidroponia pela sua eficácia comprovada. Não contém nutrientes por si só, é neutro em pH e não altera a qualidade da água do aquário.
Para criar uma zona radicular dupla, basta adicionar uma camada de material permeável, como serapilheira, sobre as argilas. A seguir, coloque uma camada de solo por cima da serapilheira. Assim, obtém-se duas zonas distintas: uma aquática na base e outra terrestre à superfície. Ambas evoluirão naturalmente, formando ecossistemas próprios que, com o tempo, vão abrigar bactérias benéficas, maximizando a disponibilidade de nutrientes naturais, a retenção dos mesmos e promovendo uma excelente troca de gases e de água.
Para potenciar ainda mais o crescimento das plantas, pode regar e fertilizar a camada superior de terra separadamente, sem risco de contaminar a água dos peixes. Deve optar por um fertilizante orgânico com fósforo e potássio, mas sempre em doses baixas, já que teores elevados podem ser prejudiciais tanto para os peixes como para as bactérias do sistema.
3. Adicione os peixes
Depois de “ciclar” o sistema durante 4 a 6 semanas, está na altura de introduzir os peixes.
Quais são as espécies mais indicadas? Existem várias alternativas que funcionam muito bem em sistemas de aquaponia. As mais comuns incluem:
- Peixes-dourados: Produzem muitos dejetos, o que os torna excelentes para aquaponia!
- Koi: Podem atingir grandes dimensões, por isso certifique-se de que o seu tanque é adequado.
- Tilápia: Muito recomendada para principiantes; simples de cuidar.
- Barramundi: Uma das espécies mais populares em sistemas de aquaponia.
- Peixes ornamentais: Tetras, mollies, guppies, entre outros, adaptam-se sem problemas.
- Carpas, trutas, peixe-gato, perca prateada: Todos são boas opções.
Como pode ver, tem várias opções à escolha para povoar o seu sistema de aquaponia. Tenha apenas em atenção que nem todas as espécies coabitam bem. Por exemplo, peixes de maior porte como o barramundi podem não ser adequados para aquários com guppies, já que podem acabar por os comer.
As melhores variedades de canábis para sistemas de aquaponia
Ao escolher variedades para o teu sistema de aquaponia, o ideal é optares por aquelas que já se desenvolvem bem em hidroponia. No entanto, não estás limitado a um grupo específico de cultivares, especialmente porque se está a utilizar uma configuração de dupla zona radicular. Isto permite alcançar bons resultados com muitos tipos diferentes de variedades. O mais importante é certificares-te de que tens espaço suficiente e recursos adequados para acomodar o tamanho e ciclo de vida das tuas plantas. Assim, estarás pronto para começar!
Dicas para a tua produção em aquaponia
Cultivar hidropónicamente já traz várias vantagens face a outros métodos, nomeadamente o controlo quase total sobre fatores como a nutrição das plantas e o nível de pH. Por outro lado, este tipo de cultivo exige maior precisão e não é tão tolerante a erros.
Já a aquaponia eleva tudo a um novo patamar, oferecendo ainda mais flexibilidade em comparação com um sistema hidropónico convencional. Por exemplo, quando nutres as tuas plantas em aquapónica, tens até cinco opções distintas:
- Podes adicionar nutrientes próprios para peixes diretamente ao aquário.
- Podes ajustar a alimentação dos peixes ou variar a sua dieta. Mais alimento significa mais resíduos… e, assim, mais nutrientes!
- Podes acrescentar corretivos ao solo na camada da zona radicular dupla.
- Podes usar fertilizantes líquidos orgânicos na zona superior das raízes.
- E, sempre que necessário, podes fazer pulverização foliar.
Como vês, não faltam opções! O melhor de tudo é que, quando o sistema estiver bem ajustado, a tua configuração de aquapónica quase funcionará sozinha — com peixes e plantas a prosperarem em sintonia. Não será esta uma das melhores formas de cultivar canábis? Também achamos que sim!
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