Blog
Understanding Raw Vs Decarbed Cannabis
6 min

Compreender a diferença entre canábis crua e descarboxilada

6 min

Os canabinóides são os compostos mais reconhecidos produzidos pela planta de canábis, mas sabia que se dividem em duas categorias principais: ácido e descarboxilado? Descubra neste artigo as diferenças entre os ácidos canabinóides e os canabinóides descarboxilados, e saiba como escolher o tipo de canábis mais adequado para si.

A cannabis é uma planta complexa que contém mais de 400 compostos activos diferentes. Entre estes, os canabinóides são talvez os mais conhecidos, embora ainda exista muito por descobrir sobre como actuam e afectam o nosso organismo.

Neste artigo, vamos analisar as diferenças entre os ácidos canabinóides e os canabinóides descarboxilados, explorando as suas particularidades, benefícios, modos de acção e muito mais.

Canábis em cru vs descarboxilada: Qual é a diferença?

Raw Vs Decarbed Cannabis: What'S The Difference?

Quando falamos em canábis crua, referimo-nos ao material da planta que ainda não foi seco e curado. Este pode estar ainda a crescer ou ter sido acabado de colher. Os processos de secagem e cura das flores são essenciais para prolongar a conservação, além de ajudar a manter o aroma e o sabor característicos. Caso ignore estes passos e guarde as flores frescas de imediato num recipiente, em poucos dias estas começam a apodrecer devido à acumulação de humidade, tornando-se propícias ao desenvolvimento de bactérias e bolores.

Adicionalmente, a secagem e cura favorecem a preparação das flores para o consumo, promovendo um fenómeno químico chamado de descarboxilação (ou "decarboxilação"). É este processo que altera determinadas estruturas químicas presentes na resina da flor, ativando assim grande parte dos canabinóides responsáveis pelos efeitos únicos da canábis.

História relacionada

Como colher plantas de canábis

Breve introdução aos canabinóides

Entre os mais de 100 canabinóides presentes na cannabis, os mais comuns e conhecidos são o THC e o CBD. São precisamente estes canabinóides que têm sido mais estudados cientificamente.

O que pode surpreender é que nem o THC, nem o CBD, nem outros compostos secundários como o CBG, CBC, CBN, entre outros, existem de forma natural nas plantas de cannabis vivas ou cruas. Estes compostos vão sendo produzidos gradualmente a partir de ácidos canabinóides, através de processos enzimáticos.

O que são canabinóides crus (ou ácidos)?

O que são canabinóides ácidos (ou crus)?

Os canabinóides ácidos são os primeiros compostos produzidos pelas plantas de cannabis vivas. O processo de biossíntese dos canabinóides começa com o CBGA, ou ácido canabigerólico. Este composto é gerado nos tricomas das flores da canábis, desempenhando um papel importante na regulação da necrose celular e na poda natural das folhas — dois mecanismos essenciais para que a planta canalize energia para o desenvolvimento das flores.

O CBGA foi isolado pela primeira vez nos anos 60 por cientistas israelitas, mas desde então tem recebido pouca atenção, pelo que ainda há muito por descobrir relativamente à sua função e aos efeitos no ser humano (Hazekamp et al., 2004). Além do CBGA, existe ainda o CBGVA, ou ácido canabigerovarínico, outro canabinóide ácido sintetizado pelas plantas de cannabis, sobre o qual existem ainda menos estudos.

Com o amadurecimento das plantas, o CBGA e o CBGVA transformam-se, dando origem a seis principais ácidos canabinóides: o CBGA converte-se em THCA (ácido tetrahidrocanabinólico), CBDA (ácido canabidiólico) e CBCA (ácido canabicroménico); já o CBGVA origina THCVA (ácido tetrahidrocanabivarínico), CBDVA (ácido canabidivarínico) e CBCVA (ácido canabicrovarínico).

As concentrações destes ácidos nas plantas colhidas diferem consoante a genética, o método de cultivo e o momento da colheita. Por fim, durante o processo de secagem pós-colheita, os ácidos canabinóides vão-se lentamente descarboxilando, dando origem aos canabinóides nas suas formas neutras.

Fontes de ácidos canabinóides

Os ácidos canabinóides existem principalmente em maiores concentrações nos tricomas presentes em:

  • Flores jovens de canábis (maior concentração)
  • Folhas de açúcar (concentração média)
  • Folhas de leque (concentração mais baixa)

Uma das formas mais comuns de aproveitar estas partes frescas da planta é adicioná-las a sumos naturais, batidos ou saladas.

O que são canabinóides descarboxilados (ou ativados)?

O que são canabinóides descarboxilados (ou activados)?

Os canabinóides descarboxilados, também conhecidos como activados, resultam da transformação dos canabinóides em estado ácido através de um processo chamado descarboxilação. Este processo, que depende do calor, remove um átomo de carbono das cadeias dos ácidos canabinóides, convertendo-os em formas não ácidas, prontas a serem absorvidas pelo organismo. Ao longo da descarboxilação:

  • CBCA converte-se em CBC
  • CBCVA transforma-se em CBCV
  • CBDA converte-se em CBD
  • CBDVA transforma-se em CBDV
  • CBGA converte-se em CBG
  • THCA transforma-se em THC
  • THCVA transforma-se em THCV

A descarboxilação pode ocorrer lentamente de forma natural durante os processos de secagem e cura da canábis. No entanto, na maioria das vezes, este processo é acelerado quando fumamos, vaporizamos ou cozinhamos com canábis antes de a consumir. O calor produzido pelo isqueiro, vaporizador, fogão ou forno, penetra nas flores e provoca a quebra das cadeias dos ácidos canabinóides, alterando a sua estrutura química e libertando CO₂ sob a forma de fumo ou vapor.

Fontes de canabinóides activados

Os canabinóides descarboxilados não existem de forma natural nas plantas de canábis vivas. Pelo contrário, estes compostos formam-se quando:

  • Fumamos ou vaporizamos flores de canábis secas
  • Cozinhamos com canábis
  • Transformamos flores secas em extratos ou concentrados

Canabinóides ácidos vs descarboxilados: Qual é o melhor?

Canabinóides ácidos vs descarboxilados: qual é melhor?

Escolher entre canabinóides ácidos ou ativados/descarboxilados depende sobretudo do objetivo que se pretende alcançar com o consumo de canábis. Se procura principalmente sentir o efeito psicoativo, os canabinóides descarboxilados — em particular o THC — são os responsáveis por essa experiência. O THC apresenta grande afinidade com os recetores CB1, um elemento essencial do sistema endocanabinóide humano. Ao ligar-se a estes recetores, o THC provoca o clássico efeito eufórico associado ao consumo de canábis. Nenhum outro canabinóide vegetal — seja na forma ácida ou descarboxilada — possui uma ligação tão forte aos recetores CB1, o que faz com que o THC seja conhecido como "o composto responsável pelo efeito psicoativo".

Mas não é só no uso recreativo que os canabinóides ativados, como o THC, CBD e CBG, são valorizados. Estes compostos também têm vindo a ser cada vez mais estudados pelo seu potencial terapêutico sem efeitos psicotrópicos. Embora a investigação esteja ainda a decorrer, já foram observados efeitos promissores em várias condições neurológicas e físicas.

Por outro lado, os ácidos canabinóides podem ser uma opção interessante para quem pretende usufruir da canábis sem sentir o efeito eufórico. Ainda existe pouca investigação sobre compostos ácidos como o CBGA, CBDA e THCA, mas a recente popularidade do "green juicing" tem vindo a despertar atenção para estas moléculas. Investigadores de renome, como o Dr. Ethan Russo, destacam igualmente, os potenciais benefícios exclusivos dos ácidos canabinóides (Project CBD, 2020).

É necessário aprofundar o estudo destes compostos para compreender totalmente as suas ações e benefícios, mas atualmente os ácidos canabinóides encontram-se a ser investigados em áreas como:

Para compreender melhor as distinções entre canabinóides ácidos e descarboxilados, vamos analisar as suas diferenças ao nível da estrutura química, aplicações, efeitos e segurança.

Estrutura química

Devido às suas estruturas químicas únicas, é provável que os canabinóides ácidos e descarboxilados interajam com diferentes recetores no organismo, ou pelo menos de formas distintas, sendo assim mais indicados para necessidades e preferências diferentes. Ao mesmo tempo, a comunidade científica está a investigar se a combinação de ácidos canabinóides com canabinóides ativados poderá permitir uma abordagem mais abrangente para lidar com diversas condições.

Aplicação

Uma das formas mais simples e práticas de consumir canabinóides descarboxilados é fumar ou vaporizar flores de canábis curadas ou extratos (embora esta prática permaneça ilegal na maioria dos países). Por sua vez, os ácidos canabinóides só podem ser obtidos a partir de plantas frescas, sendo possível consumi-los crus ou em sumo. Esta alternativa pode ser mais discreta do que fumar um cigarro ou bong, mas exige acesso a plantas vivas de canábis, o que também é proibido na maior parte do mundo.

Efeitos farmacológicos

Como referimos anteriormente, o nosso conhecimento sobre a canábis ainda está numa fase muito inicial. No entanto, os canabinóides descarboxilados já foram alvo de muito mais estudos do que os ácidos canabinóides. Embora não existam grandes preocupações relativamente à segurança dos ácidos canabinóides, a verdade é que sabemos consideravelmente menos sobre estes compostos do que sobre as suas variantes não ácidas. Por isso, é recomendável adotar uma postura de prudência e evitar especulações sobre eventuais efeitos.

Segurança

Os canabinóides são conhecidos pela sua baixa toxicidade, mas isso não significa que sejam totalmente seguros para todas as pessoas. Embora tanto os canabinóides descarboxilados como os ácidos sejam frequentemente utilizados para fins recreativos e de bem-estar, são necessários mais estudos para confirmar a sua segurança antes de se poder dar qualquer recomendação personalizada.

Canabinóides ácidos, descarboxilados e sintéticos: saiba o que os distingue

Canabinóides ácidos, descarboxilados e sintéticos: compreender as diferenças

Os canabinóides ácidos, ativados e sintéticos (estes últimos produzidos em laboratório) apresentam composições químicas distintas, diferentes potenciais de efeitos — positivos e negativos — e aplicações muito próprias. O universo da canábis é vasto e ainda estamos a explorar este campo fascinante de uma planta milenar. À medida que mais estudos são realizados sobre a canábis e os seus compostos, continuaremos a descobrir formas inovadoras e seguras de aproveitar a planta, tanto para fins terapêuticos como recreativos.

Steven Voser
Steven Voser
Steven Voser é um jornalista independente especializado em canábis, com mais de seis anos de experiência a escrever sobre todos os aspetos da planta: desde os métodos de cultivo, às melhores formas de consumo, passando ainda pelo dinâmico setor e pelo complexo enquadramento legal que o envolve.
Referências
  • Project CBD. (2020, Janeiro 11). LIVE INTERVIEW: Ethan Russo, MD talks about CBG, cannabinoid acids, and the global CBD phenomenon [VIDEO]. Youtube. - https://www.youtube.com
  • Hazekamp, A., Simons, R., Peltenburg‐Looman, A., Sengers, M., van Zweden, R., & Verpoorte, R. (2004). Preparative isolation of cannabinoids from cannabis sativa by centrifugal partition chromatography. Journal of Liquid Chromatography & Related Technologies, 27(15), 2421–2439. - https://www.tandfonline.com
  • Laura Daniela Martinenghi, Rie Jønsson, Torben Lund, & Håvard Jenssen. (2020, Junho). Isolation, Purification, and Antimicrobial Characterization of Cannabidiolic Acid and Cannabidiol from Cannabis sativa L. Biomolecules 10(6). - https://www.ncbi.nlm.nih.gov
  • Palomares B, Ruiz-Pino F, Garrido-Rodriguez M, Eugenia Prados M, Sánchez-Garrido MA, Velasco I, Vazquez MJ, Nadal X, Ferreiro-Vera C, Morrugares R, Appendino G, Calzado MA, Tena-Sempere M, & Muñoz E. (2020 Jan). Tetrahydrocannabinolic acid A (THCA-A) reduces adiposity and prevents metabolic disease caused by diet-induced obesity. Biochemical Pharmacology 171(11). 10.1016/j.bcp.2019.113693 - https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov
  • Radwan MM, Elsohly MA, Slade D, Ahmed SA, Khan IA, & Ross SA. (05/22/2009). Biologically Active Cannabinoids from High-Potency Cannabis sativa. Journal of Natural Products 72(5). 10.1021/np900067k - https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov
  • van Breemen RB, Muchiri RN, Bates TA, Weinstein JB, Leier HC, Farley S, & Tafesse FG. (01/28/2022). Cannabinoids Block Cellular Entry of SARS-CoV-2 and the Emerging Variants. Journal of Natural Products 85(1). 10.1021/acs.jnatprod.1c00946 - https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov
Factos Notícias
Pesquisar em categorias
ou
Pesquisa