
Os seis tipos de alucinações que pode experienciar
Todos sabemos que as drogas psicadélicas podem provocar alucinações, mas há muitos outros factores que as podem desencadear. Distúrbios mentais, privação de sono e até alguns alimentos podem ser responsáveis por este fenómeno. As alucinações podem ir do agradável ao assustador, existindo inúmeras formas de os sentidos apreenderem aquilo que, na realidade, não está presente. Continue a ler para ficar a par de tudo o que precisa de saber.
Desde tempos remotos, as alucinações têm despertado o fascínio da humanidade. As alucinações visuais são as mais comentadas nos registos históricos, pois são também as mais fáceis de descrever. No entanto, qualquer um dos sentidos pode ser alvo de alucinações e, por vezes, estas manifestam-se em simultâneo, dando origem a experiências intensas e difíceis de explicar. Embora normalmente associemos as alucinações ao consumo de substâncias, elas são, na verdade, um sintoma comum em várias condições médicas. Continue a ler para descobrir mais sobre as causas e formas diferentes de alucinações.
O que são alucinações?
As alucinações podem ser experiências tão fascinantes quanto assustadoras—por vezes, conseguem até ser ambas em simultâneo. Normalmente, quando se fala em alucinações, as pessoas pensam em visões estranhas ou experiências desconcertantes e ilógicas. No entanto, as alucinações podem afectar todos os sentidos, podendo variar desde um simples zumbido nos ouvidos até a uma experiência fora do corpo verdadeiramente marcante.
Porque é que ocorrem alucinações?
Se estás a ler isto aqui na Zamnesia, é provável que associes as alucinações a drogas – em especial aos psicadélicos. No entanto, estas substâncias são responsáveis apenas por uma pequena parte das alucinações vividas pelas pessoas. Embora algumas procurem voluntariamente estas experiências ao consumirem certas drogas, há quem sofra de alucinações completamente fora do seu controlo, que podem até tomar conta do seu quotidiano. Vê abaixo algumas das principais causas de alucinações.
Problemas de saúde
Existem várias condições médicas que podem levar ao aparecimento de alucinações. Provavelmente, a mais conhecida é a esquizofrenia, na qual o tipo de alucinação mais comum é auditiva, como ouvir vozes. Embora estas alucinações possam reforçar delírios, é fundamental distinguir entre ambos: as alucinações dizem respeito a percepções sensoriais, enquanto os delírios são crenças erradas ou infundadas.
Outros problemas de saúde mental, como a perturbação bipolar, também podem provocar tanto alucinações como delírios. No entanto, existem ainda causas mais frequentes para o aparecimento de alucinações, como enxaquecas ou privação de sono, que igualmente podem manifestar-se sob a forma de alucinações auditivas.
Doença ou infecção
Certas infeções e doenças podem igualmente provocar alucinações. Ao enfraquecerem o organismo, podem originar delírio. Por exemplo, pessoas em fim de vida podem começar a ter alucinações. Provavelmente, as causas destas alucinações são semelhantes às provocadas pela privação de sono. À medida que o corpo e a mente se debilitam, a perceção sensorial torna-se confusa.
Drogas
É do conhecimento geral que o consumo de drogas pode provocar alucinações. Aqueles que o fazem de forma intencional pertencem ao grupo dos psicadélicos, como o LSD, os cogumelos mágicos, os cactos de mescalina ou o DMT, entre outros. Estas substâncias atuam normalmente ao ligar-se aos recetores de serotonina. Conforme a dose, as alucinações podem variar desde uma ligeira alteração sensorial até experiências intensas e transcendentais, marcadas por encontros com entidades incomuns.
Existem ainda outras drogas capazes de provocar alucinações. Substâncias como speed, cocaína e MDMA também podem induzir este fenómeno. No entanto, enquanto os psicadélicos produzem alucinações como parte do seu efeito típico, nos estimulantes esse efeito assemelha-se mais a episódios psicóticos.
Alimentação
Certos tipos de alimentos podem provocar alucinações, mesmo sem conter substâncias psicadélicas clássicas.
Provavelmente, o caso mais conhecido é o do cogumelo amanita-muscária, vulgarmente chamado de Amanita muscaria. Embora muitos pensem que contém um alcaloide psicadélico semelhante à psilocibina, tal não é verdade. A sua pele tóxica tem agonistas GABAA que provocam delírios — essencialmente devido ao envenenamento — e são estes os responsáveis pelas alucinações.
Tipos de alucinações
As alucinações afectam os sentidos e, muitas vezes, podem incidir sobre vários ao mesmo tempo, conduzindo à sinestesia. De seguida, apresentamos as diferentes formas como os sentidos podem ser afectados.
Alucinações auditivas (ouvir sons inexistentes)
De forma simples, as alucinações auditivas ocorrem quando a pessoa começa a ouvir sons claramente presentes, mas que na realidade não existem. Entre os sons possíveis estão assobios, sibilos, zumbidos ou até mesmo vozes de pessoas já falecidas.
Durante uma alucinação auditiva, pode escutar apenas um destes sons ou vários ao mesmo tempo. Por vezes, torna-se difícil distinguir entre aquilo que se imagina e os próprios pensamentos.
Este tipo de alucinação é frequente em pessoas com esquizofrenia, mas também pode surgir em situações como demência ou perturbação bipolar.
Pessoas que estejam a lidar com a perda de alguém próximo podem igualmente vivenciar alucinações auditivas. Enquanto alguns aprendem a conviver com estes sons e vozes diariamente, outros sentem um grande desconforto e procuram apoio médico para aliviar os sintomas.
Alucinações visuais (ver formas e objetos)
As alucinações visuais são talvez o tipo mais comum — e certamente o mais reconhecido — de alucinação, ocorrendo quando alguém vê coisas que na realidade não existem.
Estão frequentemente associadas ao consumo de psicadélicos como LSD, cogumelos mágicos, LSA e mescalina, podendo também ser induzidas por determinados medicamentos ou pelo consumo abusivo de álcool.
No universo dos entusiastas dos psicadélicos, estas experiências visuais são muito desejadas, pois simbolizam o fascínio popular em torno destas substâncias. Contudo, as alucinações visuais podem tanto ser fascinantes como perturbadoras, dependendo do contexto e da origem das mesmas.
Este tipo de alucinação pode igualmente afetar pessoas com demência por corpos de Lewy ou quem sofre de enxaquecas. Entre as pessoas mais velhas, destaca-se a síndrome de Charles Bonnet, em que a perda de visão leva a episódios frequentes de alucinações visuais — uma condição que afeta sobretudo idosos.
A privação do sono, ambientes com pouca luz e a abstinência de determinadas drogas (como a metanfetamina) são outras possíveis causas. Nestes casos, é comum as pessoas verem sombras, formas indefinidas ou pequenos insetos, embora alguns relatem ver animais, rostos ou outros objetos variados.
Alucinações tácteis (Sensação de formigueiro na pele)
Uma alucinação tátil acontece quando se sente algo no corpo ou na pele que, na realidade, não está lá. Estas sensações podem ser tão fortes que, por vezes, levam algumas pessoas a coçar-se de forma excessiva, provocando feridas e cicatrizes.
As experiências mais comuns nestas alucinações incluem a sensação de insetos ou serpentes a rastejar sobre a pele. Na vasta maioria dos casos, estas perceções táteis são consequência do consumo abusivo de substâncias como álcool, metanfetaminas e cocaína.
Alucinações olfativas (cheiros invulgares)
As alucinações olfactivas, conhecidas como fantosmia, acontecem quando uma pessoa sente cheiros que não existem no ambiente real. Este é um dos tipos de alucinação menos comuns.
Estas experiências podem estar associadas a vários problemas neurológicos, como tumores cerebrais ou epilepsia, uma vez que decorrem frequentemente de danos no sistema olfactivo. Em situações mais raras, certos distúrbios mentais também podem desencadear este fenómeno.
De um modo geral, os odores sentidos tendem a ser bastante desagradáveis, passando por cheiros como vómito, fezes, fumo ou carne em decomposição. No entanto, há pessoas que relatam detectar aromas agradáveis e florais nestas alucinações.
Alucinações gustativas (sabor metálico)
As alucinações gustativas, que também são pouco comuns, fazem com que uma pessoa sinta sabores que não estão realmente presentes, muitas vezes associados a gostos de veneno ou metal.
Frequentemente, estas alucinações podem ser sinal de um problema de saúde subjacente ou consequência de efeitos secundários de determinados medicamentos. Este tipo de alucinação é especialmente frequente em pessoas com algumas formas de epilepsia focal.
Alucinações proprioceptivas (sensação de voar ou flutuar)
As alucinações proprioceptivas, também conhecidas como alucinações de postura, levam a pessoa a sentir que está a flutuar, voar ou a ter uma experiência fora do corpo. Ou seja, o indivíduo sente como se parte de si próprio estivesse fora do corpo físico ou noutro lugar.
É comum que estas alucinações ocorram nos momentos imediatamente antes de adormecer ou ao acordar, enquanto a pessoa ainda está deitada na cama. No entanto, também há registos de situações semelhantes após o uso de anestésicos ou em contexto hospitalar.
Quem consome psicadélicos, muitas vezes procura propositadamente este tipo de alucinações corpo-mente, que fazem parte da experiência transcendental de substâncias como DMT, LSD ou cogumelos alucinogénios. Frequentemente, é necessário consumir uma dose mais elevada para atingir estes estados, embora isso dependa sobretudo do tipo de substância usada.
As alucinações desaparecem?
Depende da origem das alucinações. Se forem provocadas pelo consumo de drogas, tendem a desaparecer à medida que os efeitos se dissipam. No entanto, há relatos raros de pessoas que experienciaram episódios recorrentes após o uso frequente de LSD uso — algo ainda por comprovar e extremamente incomum. O consumo de algumas drogas pode ainda desencadear episódios psicóticos e, em casos raros, resultar em condições mais graves, como esquizofrenia. Apesar de invulgar, é sempre uma possibilidade a considerar.
Se as alucinações forem geradas pela ingestão de certos alimentos ou substâncias tóxicas, normalmente desaparecem assim que o organismo elimina a substância. Trata-se, neste caso, de um tipo de intoxicação alimentar, com um processo de recuperação semelhante. Contudo, algumas plantas, como a Datura, têm efeitos prolongados, podendo causar alucinações por até 48 horas e sintomas secundários, como boca seca ou visão turva, que podem persistir durante vários dias.
Quando surgem associadas a doenças ou infeções, as alucinações geralmente desaparecem conforme a condição vai sendo tratada. Porém, se estiverem relacionadas com problemas de saúde mental, Parkinson, demência ou zumbidos persistentes, podem permanecer durante mais tempo ou até se tornarem crónicas.
Mesmo assim, o acompanhamento médico adequado pode ajudar a reduzir, ou até eliminar, estes episódios, dependendo de cada situação.
Como parar ou lidar com alucinações
Se tomaste substâncias para teres alucinações, é provável que queiras aproveitar ao máximo essa experiência. Tudo o que envolva os sentidos pode tornar o momento mais intenso e agradável: música, uma massagem ou até um duche relaxante são excelentes opções. Se estás a ter visuais muito intensos e queres potenciar ainda mais, experimenta estes óculos "trippy" para te sentires noutra dimensão.
Por vezes, a experiência pode tornar-se demasiado forte e podes querer abrandar um pouco. Existem diversas formas de o fazer. Respirar ar fresco, mexer o corpo ou até beber água são boas estratégias iniciais. Estar num espaço aberto e confortável pode ajudar muito a aliviar a pressão de uma viagem intensa. Se isso não chegar, podes experimentar as cápsulas Trip Stopper 3000 para uma ajuda extra.
É fundamental reconhecer que as alucinações são fenómenos muito intensos e não devem ser combatidos. Resistir só te vai pôr no caminho de uma má experiência. É legítimo admitires que está a ser demais, mas evita entrar em luta com as sensações. Curiosamente, aceitar a viagem é muitas vezes o melhor caminho para relaxar. Deixa-te levar pelo momento e concentra-te no aqui e agora — normalmente, isso ajuda a libertar a mente. Afinal, é a tua mente que está a passar pela experiência.
Qual é a diferença entre alucinações e delírios?
Como referido anteriormente, existe uma diferença importante entre alucinações e delírios. Vamos tomar a esquizofrenia como exemplo: ouvir vozes que dizem a alguém que é Jesus é uma alucinação; já acreditar realmente que se é Jesus configura um delírio. É perfeitamente possível experimentar um destes fenómenos sem o outro.
Pensemos no contexto do consumo de drogas. Se estiver sob o efeito de alguma substância e vir rostos espalhados pelo teto, está a ter uma alucinação. Mas se ficar convencido de que esses rostos existem mesmo, isso corresponde a um delírio.
As alucinações são perigosas?
As alucinações podem ser perigosas. O perigo mais imediato é a confusão sensorial. Por exemplo, se estiver sob o efeito de substâncias psicadélicas e tentar conduzir, isso representa um risco considerável. No entanto, o simples facto de alucinar, por si só, não é perigoso.
Se não consumiu drogas, alucinar pode ser um sinal claro de que algo não está bem, mesmo que as próprias alucinações não representem perigo direto. Ainda assim, podem ser bastante perturbadoras, sobretudo para quem não compreende a sua origem.
Por fim, os delírios que podem acompanhar as alucinações em determinados contextos podem tornar-se extremamente perigosos. Apesar de alguns serem inofensivos, há situações em que podem levar as pessoas a agir de forma completamente inesperada.
- (n.d.). Flashbacks Disorder When Taking Acid - https://www.verywellmind.com
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