O solo vivo orgânico reciclado (ROLS) aposta na criação de um ecossistema autossustentável, em que a matéria orgânica é reutilizada para dar origem a um solo fértil e repleto de vida. Esta abordagem contrasta com os métodos mais convencionais de horticultura, que recorrem frequentemente a fertilizantes sintéticos e pesticidas — produtos que desequilibram o ecossistema do solo, provocando não só danos ambientais, mas também uma deterioração progressiva da qualidade da terra. Consequentemente, isso acaba por afetar a qualidade dos alimentos que consumimos no dia a dia.

Neste artigo, exploramos o conceito de ROLS, um método que pode contribuir tanto para a saúde do planeta, como para o bem-estar de quem aqui vive.

O que é solo vivo orgânico?

O solo vivo orgânico é um ecossistema complexo, repleto de microrganismos, fungos e diversas formas de vida que, em conjunto, decompõem a matéria orgânica em nutrientes facilmente assimiláveis pelas plantas. Em ambientes selvagens e intocados, o solo apresenta-se assim: cheio de vida e em constante renovação. Em contraste, na agricultura e jardinagem convencionais, a maior parte do solo encontra-se praticamente estéril, praticamente despida de organismos vivos.

Esta rede de seres vivos presentes no solo vivo orgânico trabalha em conjunto para manter a sua saúde. As plantas e os organismos do solo estabelecem uma relação simbiótica: as raízes das plantas libertam compostos que alimentam os microrganismos, e estes, por sua vez, transformam a matéria orgânica em nutrientes que as plantas podem absorver, promovendo assim um crescimento saudável e vigoroso. Todos beneficiam deste equilíbrio!

A vitalidade da cadeia alimentar do solo — muitas vezes ignorada até há pouco tempo — é fundamental para garantir a saúde do solo vivo orgânico e de tudo o que dele depende. Quando esta cadeia alimentar é forte, o solo retém mais água, apresenta melhor estrutura e ainda aumenta a resistência das plantas a doenças. Para além disso, o solo vivo orgânico contribui para a sustentabilidade a longo prazo da agricultura, reduzindo a dependência de químicos e aumentando a biodiversidade.

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Qual é a diferença entre solo vivo e solo comum?

O solo vivo distingue-se em vários aspectos do que normalmente consideramos solo “comum” — que talvez seja mais apropriado designar por solo "comercial" ou "agrícola". Eis algumas dessas diferenças essenciais.

• Atividade microbiana: O solo vivo está repleto de vida. Nele abundam bactérias, fungos, protozoários e nemátodos, organismos que promovem a decomposição da matéria orgânica e o ciclo natural de nutrientes. Já o solo convencional, em particular aquele sujeito a fertilizantes químicos ou nutrientes sintéticos, tende a apresentar muito menos atividade biológica, tornando-se assim mais inerte.
• Ciclo de nutrientes: No solo vivo, os nutrientes estão em permanente renovação, ficando disponíveis para as plantas graças a processos naturais e à cooperação entre organismos. Por oposição, o solo convencional frequentemente requer fertilizações regulares, uma vez que carece dos seres vivos capazes de impulsionar estas transformações essenciais.
• Estrutura do solo: A riqueza em matéria orgânica e organismos vivos no solo vivo permite-lhe possuir uma estrutura mais porosa e a capacidade de reter água com eficácia, o que favorece o desenvolvimento saudável das raízes. Por outro lado, o solo comum — sobretudo quando excessivamente trabalhado ou esgotado — tende a compactar-se e a dificultar o enraizamento, promovendo problemas como a asfixia e dificultando o crescimento das plantas.
• Uso de produtos químicos: Fertilizantes sintéticos e pesticidas prejudicam gravemente a vida no solo, eliminando a maioria dos seres vivos e tornando-o estéril. O solo vivo, cultivado de forma biológica, mantém um ecossistema equilibrado: além de fornecer nutrientes de modo sustentável às plantas, reforça as defesas naturais destas e reduz o aparecimento de pragas. Assim, é possível prescindir do uso de químicos, ao contrário do que acontece no solo convencional.

Vantagens do ROLS

Ao promover um ecossistema forte e equilibrado, o ROLS apresenta diversas vantagens em relação ao solo convencional:

• Sustentabilidade: O uso de ROLS diminui a dependência de insumos externos, como fertilizantes químicos e pesticidas, sendo uma opção mais ecológica e sustentável.
• Riqueza nutricional: As plantas cultivadas em solo vivo tendem a ter um teor superior de nutrientes, tornando-as mais saudáveis para o consumo e, em muitos casos, mais vigorosas.
• Poupança económica: Como não há necessidade de recorrer a pesticidas nem fertilizantes, ao longo do tempo os solos orgânicos representam um investimento mais económico do que aqueles que exigem aditivos constantes.
• Benefícios ambientais: Os métodos ROLS ajudam a capturar carbono, reduzem a erosão e promovem a diversidade biológica.

As quatro técnicas ROLS

Se pretende aplicar ROLS no seu jardim ou quinta, existem quatro grandes métodos que pode utilizar. A escolha irá depender das características específicas do seu espaço. A seguir, analisamos as quatro opções disponíveis.

Biodinâmico

A agricultura biodinâmica é uma abordagem holística, ecológica e ética à agricultura, jardinagem, alimentação e nutrição. Inicialmente desenvolvida por Rudolf Steiner no início do século XX, esta metodologia foi sendo ajustada e aperfeiçoada ao longo do tempo. Sendo um dos movimentos pioneiros da agricultura biológica, ocupa um lugar especial na história do ambientalismo e muitos dos avanços posteriores têm alguma influência deste método.

A agricultura biodinâmica vai além da agricultura biológica tradicional, ao incorporar princípios espirituais e cósmicos nas práticas agrícolas. Embora esta vertente mais mística possa afastar algumas pessoas, é importante recordar que o ecossistema global é uma rede profundamente interligada; compreendê-la e preservá-la exige uma apreciação do seu verdadeiro alcance. Valorizar este equilíbrio envolve, por vezes, alguma dose de misticismo, se não por outra razão, porque é difícil conceber intelectualmente algo tão vasto e interdependente de outra forma.

No entanto, o método em si emprega preparações compostas específicas, feitas a partir de esterco fermentado, minerais e ervas, para enriquecer o solo e promover a saúde das culturas—sem qualquer mistério envolvido. Os agricultores biodinâmicos seguem frequentemente um calendário de sementeiras baseado em ciclos lunares e astrológicos, embora não seja obrigatório aderir a este pormenor para beneficiar desta abordagem.

Permacultura

Atualmente, a permacultura está a despertar bastante interesse, pelo menos em determinados meios. Embora suscite opiniões diversas, os seus princípios fundamentais são sólidos e, quando aplicada corretamente, revela-se uma prática agrícola extremamente sustentável e eficiente.

Esta abordagem procura desenvolver sistemas agrícolas inspirados nos ecossistemas naturais, apostando sobretudo na colaboração com a natureza em vez de contrariá-la. No contexto do ROLS, a permacultura consiste em planear uma quinta ou horta onde cada elemento desempenha várias funções e todos os recursos são reintegrados no sistema. Dá destaque à utilização de plantas perenes, policulturas e sistemas agroflorestais, promovendo um ambiente agrícola resiliente e autossuficiente.

Numa ótica de permacultura, o agricultor assume um papel de gestor ou guardião do meio ambiente, em vez de se posicionar como se tivesse total controlo sobre todos os elementos do sistema. A função passa por orientar o que é cultivado, permitindo que o ambiente, de forma natural, permaneça equilibrado e saudável.

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Supersolo

Supersoil é uma mistura de terra altamente enriquecida, criada para oferecer as condições ideais ao desenvolvimento das plantas, especialmente em jardinagem biológica. Normalmente, esta mistura parte de um solo base ao qual se juntam diversos materiais orgânicos, composto, húmus de minhoca, guano de morcego, pó de rocha e outros ingredientes naturais para garantir um ambiente verdadeiramente rico em nutrientes. Assim, durante toda a época de crescimento, não é necessário acrescentar mais fertilizantes, já que o solo se mantém autossuficiente.

O supersoil é frequentemente utilizado em jardins de vasos ou canteiros elevados, onde a qualidade do solo é fundamental. Esta técnica revela-se particularmente vantajosa para o cultivo de canábis e outras culturas exigentes, assegurando que recebem todos os nutrientes de que precisam sem recorrer a fertilizantes químicos.

No-till

A agricultura sem mobilização do solo é uma prática que consiste em cultivar sem revolver a terra, uma acção que, apesar de parecer inofensiva, pode perturbar de forma significativa o ecossistema subterrâneo.

Ao adotar esta técnica, preserva-se a estrutura do solo, minimiza-se a erosão e mantém-se a matéria orgânica e os microrganismos do solo, resultados difíceis de alcançar com o uso tradicional da lavoura. No sistema ROLS, o método sem mobilização é fundamental para garantir a estabilidade da teia alimentar do solo. Evitando lavouras, favorece-se um ambiente saudável onde a vida do solo prospera, promovendo o desenvolvimento das plantas e a fertilidade do terreno. Além disso, este tipo de agricultura auxilia na captura de carbono, desempenhando um papel importante na mitigação das alterações climáticas.

Como preparar ROLS

Se tudo isto lhe parece muito interessante, e realmente é — especialmente se tem um jardim de que gosta e pretende consumir produtos biológicos e ricos em nutrientes — provavelmente vai querer saber como pode produzir o seu próprio ROLS. A boa notícia é que existem métodos bastante simples para o fazer, alguns deles tão familiares que poderá já os conhecer ou até ter usado antes.

Compostagem

Todos sabemos o que é composto. Pois bem, o ROLS pode resumir-se a deixar os restos de comida (não cozinhados) decompor-se naturalmente!

Compostar é o processo de decomposição de matéria orgânica, como restos de comida, resíduos do jardim e estrume, transformando-a num composto nutritivo que pode ser usado para melhorar a fertilidade e estrutura do solo. Este composto é depois misturado com a terra, tornando-a mais rica e produtiva.

Para começar a compostar, reúna resíduos orgânicos num compostor ou numa pilha, certificando-se de manter o equilíbrio entre materiais verdes (ricos em azoto) e castanhos (ricos em carbono). Vá mexendo o composto regularmente para garantir uma boa oxigenação e acelerar a decomposição. Com o tempo, irá obter um composto escuro e fértil que pode adicionar ao seu solo vivo.

Chá de composto

O chá de composto é um extrato líquido obtido ao deixar o composto de molho em água, por vezes enriquecido com inoculantes microbianos para aumentar a quantidade de microrganismos benéficos. Esta solução pode ser utilizada tanto como pulverização foliar como diretamente no solo, promovendo o desenvolvimento das plantas e a saúde do solo. O chá de composto contribui para introduzir e manter organismos vantajosos no ecossistema do solo, sendo por isso uma excelente ferramenta para quem pratica ROLS.

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Bokashi

O bokashi é um processo de fermentação que decompõe matéria orgânica através de micro-organismos específicos. Ao contrário da compostagem tradicional, que necessita de oxigénio, o bokashi é um método anaeróbio que permite tratar uma maior variedade de resíduos orgânicos, incluindo carnes e lacticínios. O resultado é um material pré-compostado que pode ser enterrado no solo, onde se transforma rapidamente em nutrientes. O bokashi é especialmente vantajoso para reciclar restos alimentares da cozinha e incorporá-los directamente nas hortas ou canteiros.

JADAM

O JADAM é um método de agricultura biológica desenvolvido na Coreia do Sul. O nome deriva de "Jayonul Damun Saramdul", que se pode traduzir por "Pessoas semelhantes à natureza". Esta abordagem dá prioridade à utilização de insumos produzidos em casa, incluindo fertilizantes e pesticidas naturais, aproveitando recursos locais. Um dos pilares do JADAM consiste na aplicação de solo de folhas em decomposição, rico em microrganismos, para ativar e enriquecer os solos do jardim. Trata-se de uma técnica acessível e económica, ideal para quem quer iniciar-se no cultivo sob princípios regenerativos (ROLS).

Mulching

A cobertura do solo com materiais orgânicos, como palha, aparas de madeira ou folhas, é uma prática conhecida como mulching. Esta técnica protege o solo da erosão, ajuda a reter a humidade e reduz o crescimento de ervas daninhas. No contexto de solos vivos e orgânicos (ROLS), o mulching desempenha ainda um papel importante ao promover o habitat de organismos benéficos e enriquecer gradualmente o solo à medida que se vai decompondo. É uma forma simples, mas eficaz, de melhorar a qualidade do solo sem grandes esforços.

Vale a pena optar por solo vivo orgânico?

O solo vivo biológico compensa o investimento?

Apostar em solo vivo biológico, especialmente através das técnicas ROLS, traz vantagens claras tanto para o ambiente como para as plantas. Apesar de exigir algum investimento inicial, quer de tempo quer de recursos, os benefícios a longo prazo compensam largamente. O método ROLS fomenta práticas agrícolas sustentáveis, melhora a fertilidade do solo e diminui a necessidade de produtos sintéticos. Além disso, os produtos cultivados em solo vivo tornam-se mais nutritivos e saborosos.

Seja para produtores amadores ou profissionais, o ROLS representa uma solução mais ecológica, duradoura e eficiente economicamente. Ao alimentar a cadeia alimentar do solo e ao reutilizar matéria orgânica, cria-se um ecossistema equilibrado, capaz de garantir colheitas saudáveis e abundantes durante muitos anos.

Max Sargent

O Max dedica-se à escrita há mais de dez anos e, nos últimos tempos, concentrou-se no jornalismo sobre canábis e psicadélicos. Ao colaborar com empresas como a Zamnesia, Royal Queen Seeds, Cannaconnection, Gorilla Seeds, MushMagic, entre outras, adquiriu uma vasta experiência em diferentes áreas deste setor.

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