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The Stoned Ape Theory Of Human Evolution
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A teoria do "Stoned Ape" na evolução humana

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À medida que a ciência moderna desvenda alguns dos mistérios relacionados com os efeitos dos cogumelos mágicos no cérebro, voltamos a uma teoria mais antiga. Proposta por Terence McKenna nos anos 90, a teoria do "macaco pedrado" sugere que os cogumelos mágicos desempenharam um papel fundamental no desenvolvimento cognitivo humano. Vamos explorar esta hipótese e analisar até que ponto a ciência a poderá sustentar.

Para quem aprecia os cogumelos com psilocibina, é fascinante pensar que possam ter tido um papel essencial na evolução humana. Esta hipótese pode parecer improvável à primeira vista, mas é mais plausível do que se julga. Se já ouviu falar de Terence McKenna e da sua “teoria do macaco pedrado”, talvez este conceito não seja novidade. No entanto, para quem não conhece, está prestes a descobrir uma ideia envolvente e surpreendente.

O mais interessante é que, ao contrário de muitas teorias, a do macaco pedrado mostra-se resistente às críticas, adaptando-se sem perder a sua essência, e encaixando-se facilmente nas hipóteses já existentes — sem prejuízo nem incongruências.

O que é a teoria do macaco pedrado?

O que é a teoria do macaco pedrado?

A teoria do macaco pedrado (ou, mais precisamente, a hipótese do macaco pedrado) defende que a consciência humana terá sofrido uma expansão rápida e significativa — entre dois milhões e trezentos mil anos atrás — devido ao consumo de cogumelos do género Psilocybe.

De acordo com esta hipótese, à medida que as florestas africanas foram dando lugar às savanas, os símios passaram a descer das árvores e a explorar as planícies. Este fenómeno está na base da teoria geralmente aceite para explicar como a nossa espécie se tornou bípede. Quando estes primeiros hominídeos começaram a habitar as savanas, seguiram e caçaram presas de grande porte. Grandes manadas deixam para trás grandes quantidades de estrume, onde prosperam espécies como a Psilocybe cubensis encontrada em África, entre outros fungos que contêm psilocibina.

Por tudo isto, é praticamente certo que os primeiros hominídeos terão tido contacto com estes cogumelos — e é pouco provável que não os tenham ingerido.

A hipótese do macaco pedrado sugere que, ao consumir estes cogumelos, houve um salto gigantesco nas capacidades cognitivas, empatia e linguagem, o que acelerou drasticamente o processo evolutivo do cérebro humano.

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Quem é Terence McKenna?

Quem é Terence Mckenna?

Terence Mckenna foi um filósofo, académico e explorador da mente humana. Tornou-se uma figura conhecida na segunda metade do século XX devido à sua defesa dos psicadélicos, tendo conquistado admiradores, mas também críticos. A sua visão era frequentemente contestada e considerada ousada, levando a que confrontasse muitas vezes a sociedade dominante.

No entanto, na qualidade de etnofarmacologista – um especialista no estudo de substâncias psicoativas usadas em diferentes culturas –, Mckenna não desenvolveu ideias novas ou modernas. O seu trabalho incidiu no estudo de diversas tradições xamânicas e do consumo ancestral de substâncias, resultando em propostas enraizadas na história da humanidade.

É neste contexto que surge a teoria do "macaco pedrado". Apresentada em detalhe no seu livro "Food for the Gods", Mckenna traçou uma hipótese fascinante, escrita já nos últimos anos da sua vida – anos esses dedicados à investigação do impacto dos psicadélicos na consciência humana.

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O que têm os cogumelos mágicos a ver com a teoria do macaco pedrado?

O que têm os cogumelos mágicos a ver com a teoria do macaco pedrado?

Os cogumelos mágicos ocupam um lugar central na teoria do macaco pedrado. Segundo evidências recentes, os fungos são os primeiros organismos multicelulares registados no planeta, tendo sido encontrados vestígios em fluxos de lava com cerca de 2,4 mil milhões de anos. Por comparação, o primeiro organismo unicelular conhecido data de há 2,8 mil milhões de anos. Quanto ao Homo sapiens, surgiu como Homo erectus há cerca de 650 milhões de anos — o que significa que os fungos já cá estavam há quase 2 mil milhões de anos antes de nós.

Mas por que razão se crê que os cogumelos tiveram um impacto tão significativo na nossa consciência? Inicialmente, a hipótese baseava-se nas experiências notórias provocadas pela ingestão de cogumelos mágicos. Estas substâncias provocam uma autêntica inundação de “novos” dados no cérebro, aumentam a empatia e permitem novas perspectivas sobre o mundo. Em suma, transformam profundamente a consciência — uma realidade bem conhecida por quem já experimentou.

Esta ideia é hoje apoiada pela investigação científica moderna. Com os avanços tecnológicos e o fim de muitos preconceitos em torno dos psicadélicos, têm sido realizados mais estudos sobre os poderes destes aliados dos nossos antepassados. E os resultados são surpreendentes.

Verificou-se que os psicadélicos podem, de facto, elevar a consciência. Com esta informação, torna-se mais fácil acreditar que eles poderiam ter tido um papel decisivo na nossa evolução. Mais ainda: a psilocibina é apontada como promotora do aumento da neuroplasticidade e da neurogénese, permitindo ao cérebro criar novas ligações e desfazer antigas.

As implicações disto são consideráveis. Segundo esta teoria, ao criar literalmente novos caminhos no cérebro, a psilocibina poderia ter acelerado extraordinariamente a nossa evolução cognitiva. Quem consumia cogumelos mágicos teria, assim, uma vantagem: aprenderiam mais depressa e desenvolveriam maior capacidade de pensamento abstrato, o que aumentaria as hipóteses de sucesso.

Porque é que a teoria do macaco pedrado é controversa?

Porque é que a teoria do macaco chapado é polémica?

Esta teoria não está isenta de críticas. O seu principal problema é a simplicidade excessiva. Sabemos que a evolução segue um caminho complexo, resultado de inúmeros factores concorrentes. Afirmar que um único acontecimento foi responsável pelo surgimento da consciência humana — talvez o maior salto evolutivo de sempre — é, no mínimo, uma visão redutora.

Existem diversas outras hipóteses plausíveis que procuram explicar como evoluiu a nossa consciência avançada. Embora diferentes entre si, quase todas realçam o papel fulcral da cooperação. A verdadeira cooperação — e talvez sejam apenas os humanos a demonstrá-la em pleno neste sentido — permitiu-nos superar de forma inequívoca as restantes espécies.

Apesar de muitos animais e, talvez, até algumas plantas (através de fungos) comunicarem entre si, a empatia humana atinge profundidades únicas. Demonstramos uma teoria da mente que parece faltar à maioria dos seres vivos. Ou seja, conseguimos colocar-nos na pele dos outros e, por consequência, colaborar de forma verdadeira.

A maioria das teorias aponta que desenvolvemos esta consciência porque a capacidade de cooperação daí resultante trouxe claros benefícios. Estas ideias englobam também o nosso domínio avançado da linguagem. Cooperação e linguagem são indissociáveis; uma não existe sem a outra.

No entanto, há um ponto interessante: a teoria do macaco chapado encaixa-se perfeitamente nestas hipóteses alargadas. Empatia, linguagem, a partilha de experiências conscientes — os cogumelos potenciam todas estas dimensões. Portanto, apesar de ser uma simplificação pensar que os cogumelos foram a única causa da mudança, parece plausível admitir que tenham acelerado e facilitado processos que já estavam em curso.

Descobertas actuais sobre os efeitos dos cogumelos mágicos no cérebro

Descobertas recentes sobre os efeitos dos cogumelos mágicos no cérebro

Psilocibina, assim como outros psicadélicos como a DMT, desencadeiam no cérebro um circuito de retroalimentação do sistema serotoninérgico. Ao contrário de substâncias como o MDMA, que aumentam sobretudo a sensibilidade do cérebro à serotonina, os psicadélicos promovem simultaneamente a libertação e a captação deste neurotransmissor. Trata-se de uma explicação simplificada do que acontece ao nível neurológico, mas este processo de instabilidade abre portas à criação de novas ligações cerebrais.

Estes compostos também têm impacto no claustrum, também conhecido como rede de modo padrão (DMN). O que é o claustrum? Ainda não há consenso, mas considera-se que é uma delicada rede de neurónios situada no córtex e ramificada por diversas áreas do cérebro. A principal teoria aponta para a sua função enquanto gestor dos estímulos a que a mente "consciente" presta atenção.

Durante o efeito dos psicadélicos, a atividade nesta região reduz-se e intensifica-se noutras zonas do cérebro. Por isso, pensa-se que a sensação de dissolução do ego e aproximação às emoções, sentidos e memórias acontece durante uma sessão. A consciência entra em contacto direto com estas experiências, sem a filtragem habitual feita pelo claustrum.

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A teoria do macaco pedrado pode explicar a nossa evolução

A teoria do macaco pedrado pode explicar a nossa evolução

No geral, a teoria do macaco pedrado é bastante fascinante. Quando surgiu, foi recebida com cepticismo pela maioria da sociedade. No entanto, as opiniões mudaram ao longo do tempo. Tal como acontece frequentemente, ideias que em tempos pareceram absurdas acabam por mostrar-se bastante próximas da realidade. Isto não significa que tenha sido comprovada, e provavelmente nunca o será. Sabemos que os nossos antepassados consumiam cogumelos, mas não temos forma de saber quais as alterações que isso provocou no cérebro. Ainda assim, podemos especular.

Pode ser que, na sua versão original, a teoria exagere um pouco — parece improvável que apenas as substâncias psicadélicas expliquem o nosso percurso até ao presente. No entanto, o aspecto mais interessante da hipótese é que consegue conjugar-se com outras teorias, sem que para isso precise de ser alterada. A ideia central — que começámos a consumir estes fungos e eles impulsionaram mudanças profundas na nossa cognição e consciência — mantém-se intacta quando comparada com outras propostas. De facto, até poderá não haver qualquer conflito entre elas.

Steven Voser
Steven Voser
Steven Voser é um jornalista independente especializado em canábis, com mais de seis anos de experiência a escrever sobre todos os aspetos da planta: desde os métodos de cultivo, às melhores formas de consumo, passando ainda pelo dinâmico setor e pelo complexo enquadramento legal que o envolve.
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