
Qual a diferença entre canábis e cânhamo
Cânhamo e canábis são frequentemente confundidos. Apesar de terem inúmeras utilizações distintas, com potencial para revolucionar os setores médico e industrial, estas plantas partilham a mesma origem.
Não tem a certeza da diferença entre cânhamo e canábis? Não se preocupe! Vamos explicar tudo de forma clara, para que possa explorar facilmente o universo de conteúdos e produtos relacionados com cânhamo e canábis.
O que é o cânhamo?
O cânhamo é uma variedade da Cannabis sativa e é considerado uma das plantas mais relevantes na história da humanidade. Há registos do seu cultivo há mais de 10.000 anos, tendo sido utilizada para inúmeros fins. Serviu de alimento tanto para pessoas como para animais, e foi matéria-prima para a produção de têxteis, papel, materiais de construção e muito mais. Já há 6.000 anos, os imperadores chineses faziam referência à importância do cânhamo. Curiosamente, o rascunho da Declaração de Independência dos EUA foi redigido em papel de cânhamo (enquanto a versão final foi passada para pergaminho de pele animal).
Apesar de pertencer à espécie Cannabis sativa, o cânhamo não tem utilização recreativa, já que apresenta níveis muito baixos de THC — o composto responsável pelos efeitos psicoactivos da cannabis. Por outro lado, o cânhamo é rico em CBD e outros canabinóides, sendo cada vez mais utilizado para a produção de suplementos e produtos com CBD.
Reconhecido como um verdadeiro "superalimento", as sementes de cânhamo possuem um valor nutricional excecional, ricas em gorduras saudáveis, ácidos gordos essenciais, proteínas, vitamina E, aminoácidos, minerais e diversos outros nutrientes importantes.
O que é a cannabis?
Aqui é onde as coisas começam a tornar-se um pouco mais complexas. Ao contrário do cânhamo, o termo "canábis" é mais abrangente e pode ser usado para designar qualquer planta ou produto pertencente ao género Cannabis. Assim, apesar de o cânhamo ser uma variedade de canábis, o mesmo acontece com a marijuana. A marijuana, por sua vez, refere-se às variedades de canábis com teores significativos de THC.
No entanto, actualmente, o termo marijuana tem sido amplamente substituído por canábis, podendo ouvir ambos os termos aplicados de forma quase indiferente. Para evitar ambiguidades, é comum encontrar a designação "canábis recreativa", que serve para identificar variedades com efeito psicoativo.
De um modo geral, sempre que vir ou ouvir cânhamo e canábis a distinguir dois tipos de plantas ou produtos, pode assumir que a canábis em questão apresenta um perfil de canabinóides mais diverso e, provavelmente, contém THC. Por outro lado, se deparar com o termo Cannabis sativa usado como sinónimo de cânhamo, o mais certo é que se refiram à classificação taxonómica da planta.
Tecnicamente, o género Cannabis pode ser subdividido em três espécies ou subespécies: C. sativa, C. indica e C. ruderalis. Enquanto a canábis recreativa (ou marijuana) pode resultar de qualquer combinação destas três (sub)espécies, o cânhamo provém unicamente da Cannabis sativa.
Qual é a diferença entre o cânhamo e a canábis?
Resumidamente, a principal diferença entre a cannabis e o cânhamo reside no facto de este último conter uma quantidade de THC tão baixa que é considerada legal. Uma planta só pode ser classificada como cânhamo se o seu teor de THC estiver abaixo de um determinado limite estabelecido por lei. Para além disso, é essencial compreender que o cânhamo não é uma espécie distinta de cannabis. As diferenças centram-se essencialmente na composição química, métodos de cultivo, aplicações industriais e enquadramento legal.
Genética / Composição química / THC
Para ser mais preciso, o cânhamo industrial tem de apresentar menos de 0,2% de THC em peso seco para ser legalmente cultivado na maior parte da Europa. Nos Estados Unidos, o limite é ligeiramente superior, situando-se nos 0,3%. Apesar de vários países começarem a legalizar e a regular diversos tipos de mercado do cannabis, o THC continua a ser uma substância ilegal, de acordo com praticamente todos os tratados internacionais sobre drogas.
Até à data, foram identificados várias centenas de compostos químicos na Cannabis sativa. Embora o cânhamo tenha níveis de THC bem inferiores em relação às variedades recreativas, contém muitos dos outros canabinóides também presentes no cannabis, incluindo CBD, CBC e CBDA. Para além disso, partilha a maioria dos compostos aromáticos (terpenos), flavonoides, hidrocarbonetos, ácidos gordos e fenóis, em diferentes proporções.
O cânhamo tem sido tradicionalmente valorizado pelas suas fibras e sementes, mas devido ao seu teor relativamente elevado de CBD, é agora uma das melhores opções para a produção legal de óleo de CBD e suplementos de elevada qualidade.
Aparência
Uma planta de marijuana apresenta-se de forma claramente distinta do cânhamo. A marijuana tende a ter folhas mais largas e os cogolos costumam ser mais densos e resinosos, rodeados por pequenos fios (pistilos). Já as plantas de cânhamo cultivadas para produção de sementes não possuem esta mesma quantidade de resina, e os próprios cogolos são, normalmente, mais pequenos e menos compactos.
O cânhamo caracteriza-se por exibir as típicas características da Cannabis sativa, com folhas mais estreitas e alongadas e caules fibrosos. Ao contrário da marijuana, que costuma apresentar-se mais densa e ramificada, o cânhamo destaca-se por um aspeto mais esguio, com menos ramos e folhagem.
Na produção industrial, onde se plantam muitos exemplares juntos, é comum que o cânhamo desenvolva apenas um caule principal. As variedades de cânhamo destinadas à produção de fibras e sementes podem atingir alturas impressionantes, entre 5 e 6 metros.
Sexo da planta
Um dos maiores equívocos em torno do cânhamo, para além da ideia de que pertence a uma espécie diferente de cannabis, é a suposição de que todas as plantas de cânhamo são machos. Na realidade, isto não é verdade.
O cânhamo, à semelhança de qualquer planta de cannabis, pode desenvolver-se como planta masculina ou feminina. Apenas as plantas femininas produzem flores (os chamados buds), enquanto as masculinas originam sacos de pólen. Se forem cultivadas próximas, os machos facilmente polinizam as fêmeas, o que leva à produção de sementes.
Para quem cultiva cânhamo com o objetivo de produzir sementes ou fibras, a polinização das plantas femininas não representa um problema — e pode até ser desejável. Já no caso da produção de cânhamo para fins de extração de canabinóides, a presença de sementes nas flores é prejudicial, pois diminui tanto a qualidade como a concentração de canabinóides no produto final.
Por esse motivo — tal como se faz no cultivo de cannabis para fins recreativos — grandes explorações comerciais focadas na produção de canabinóides mantêm as plantas femininas isoladas em estufas vedadas, de modo a evitar a polinização pelas plantas masculinas.
Cultivo
Apesar de pertencerem tecnicamente à mesma espécie, o cânhamo e a marijuana exigem métodos de cultivo distintos. O cânhamo é frequentemente cultivado em grandes extensões e com plantas sensivelmente espaçadas a 10 cm umas das outras. Já a marijuana, por norma, necessita de mais espaço entre cada planta para garantir a sua saúde, prevenir doenças e promover um crescimento mais amplo.
O cânhamo é também consideravelmente menos exigente do que a marijuana. Esta última prospera sob condições controladas, onde temperatura e humidade devem ser rigorosamente monitorizadas, ao passo que o cânhamo pode ser cultivado em variados ambientes e climas, sem grandes cuidados.
Os ciclos de crescimento destas plantas também diferem: o cânhamo necessita geralmente de 110 a 120 dias para atingir a maturidade, enquanto a marijuana pode estar pronta em 60 a 90 dias, consoante a variedade.
Além disso, é desaconselhado cultivar cânhamo e marijuana lado a lado. A polinização acidental de plantas de marijuana pelo cânhamo pode comprometer de forma significativa a qualidade do produto final.
Legalidade
Apesar de existirem normas relativamente claras acerca dos níveis de THC, o cultivo legal de cânhamo continua a ser dificultado por inúmeros regulamentos e obstáculos jurídicos.
Até há poucos anos, tanto o cânhamo como a marijuana eram proibidos. Só recentemente, com alterações como o Farm Bill dos EUA em 2018, é que o cânhamo foi retirado da lista de substâncias controladas, permitindo novamente o acesso à planta após décadas. Ainda assim, existem estados americanos onde a planta continua ilegal, tornando tanto o cultivo comercial como pessoal proibidos.
Noutras partes do mundo, a legislação é ainda mais complexa. No Reino Unido, por exemplo, o cultivo de cânhamo só é permitido para fins comerciais e obriga a pagamento de taxas e pedidos de licença, tornando praticamente inviável o cultivo doméstico para uso pessoal — isto, mesmo que as plantas tenham níveis mínimos de THC. Situações semelhantes existem em grande parte dos países europeus.
Utilização
O cânhamo é, desde tempos antigos, uma das plantas mais apreciadas e com maior variedade de utilizações em todo o mundo. De facto, a sua versatilidade fez com que quase todas as partes da planta fossem aproveitadas de diferentes formas ao longo da história.
Durante muitos séculos, o cânhamo foi a principal matéria-prima para a produção de fibras utilizadas em vestuário e outros têxteis. Uma das suas aplicações mais conhecidas foi na confecção de velas para embarcações e cordas resistentes, essenciais antes do surgimento dos tecidos sintéticos. As fibras do caule do cânhamo, conhecidas como fibras bast, estão entre as mais resistentes do reino vegetal.
Considerado por muitos como um "superalimento", as sementes de cânhamo têm vindo a conquistar cada vez mais adeptos. Graças ao seu elevado valor nutricional, alguns especialistas defendem mesmo que podem ser uma resposta à fome global e à carência de nutrientes em várias regiões.
Nos últimos tempos, têm-se multiplicado os estudos sobre os canabinóides e os seus potenciais benefícios, com resultados bastante encorajadores. Além dos produtos à base de CBD, também os produtos de beleza e cuidados de pele feitos a partir de cânhamo estão em alta, colocando esta planta novamente em destaque.
O cânhamo volta a ganhar relevância como material sustentável para a construção civil. Não só as fibras mas também os óleos extraídos da planta podem ser utilizados para criar materiais resistentes e ecológicos usados por arquitetos e engenheiros.
Muitas outras utilizações do cânhamo continuam a ser exploradas e merecem uma análise mais aprofundada.
Óleo de cannabis vs óleo de cânhamo vs óleo de CBD
Atualmente, é fácil encontrar produtos derivados do cânhamo em inúmeras lojas. Entre os mais procurados estão os óleos de CBD e os óleos de cânhamo. Ainda assim, é frequente surgirem dúvidas junto dos consumidores devido à vasta oferta disponível no mercado. Uma das questões mais habituais passa por saber qual é, afinal, a diferença entre óleo de canábis, óleo de cânhamo e óleo de CBD. Então, quais são as principais distinções?
Óleo de canábis
O óleo de canábis (também conhecido como "óleo de haxixe", "óleo de THC" ou "óleo de Rick Simpson") é produzido a partir das flores da planta de marijuana. Tal como a canábis recreativa, contém THC e provoca efeitos psicoactivos. Na maioria dos países, o óleo de canábis tem o mesmo estatuto legal que a própria canábis, sendo por isso proibida a sua aquisição legal.
Óleo de cânhamo
O óleo de cânhamo (óleo de sementes de cânhamo) não contém canabinóides, mas isso não significa que não tenha valor. Muito pelo contrário! Este óleo oferece todos os benefícios nutricionais das sementes de cânhamo e é amplamente utilizado na culinária e na preparação de alimentos saudáveis.
Óleo de CBD
O CBD presente no óleo de CBD é extraído do cânhamo. O óleo de CBD contém CBD e não tem, ou possui apenas vestígios de, THC—por isso, não provoca qualquer efeito psicoativo. Alguns óleos de CBD incluem apenas CBD puro (isolado de CBD), dissolvido num óleo transportador como azeite, óleo de sementes de cânhamo, óleo de coco ou óleo de palma. Já os óleos de CBD de espectro completo combinam vários canabinóides, terpenos e outros fitoquímicos benéficos nestes mesmos óleos transportadores.
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