O que são os IMAOs?

Para a maioria das pessoas, as drogas psicadélicas (psilocibina, DMT e LSD) já têm um efeito bastante intenso. No entanto, há séculos — ou até milénios — que se mistura psicadélicos com IMAOs para potenciar ou reforçar a experiência.

Mas afinal, em que consiste esta combinação e será aconselhável experimentá-la? Este artigo não procura persuadir nem desencorajar o seu uso, até porque existem poucas evidências concretas relativamente à combinação de IMAOs com outras substâncias. O nosso objetivo é apresentar uma visão clara e sucinta do que se sabe acerca destes compostos e da sua junção, esperando assim ajudá-lo a tomar uma decisão informada.

No entanto, uma advertência importante antes de avançarmos: os IMAOs são conhecidos pelas suas interações perigosas com certos alimentos e medicamentos, por isso, se pondera utilizá-los, é fundamental aprofundar a sua pesquisa para além deste artigo.

O que são os inibidores da monoamina oxidase (IMAO)?

Os inibidores da monoamina oxidase (IMAOs) são um grupo de medicamentos que, tal como o nome indica, bloqueiam a acção da monoamina oxidase. As monoamina oxidases são enzimas localizadas na membrana das mitocôndrias das células.

Muitas plantas contêm IMAOs de forma natural, mas estes compostos também podem ser produzidos sinteticamente para uso em medicamentos contra a depressão e ansiedade. Na verdade, os primeiros antidepressivos desenvolvidos eram IMAOs. Atualmente, embora ainda estejam disponíveis, são menos prescritos devido aos seus efeitos secundários. O tratamento de eleição para estas condições recai geralmente sobre os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS).

Os IMAOs podem interagir com uma grande diversidade de substâncias, tanto alimentos como outros medicamentos. Algumas dessas interações podem ser exploradas, por exemplo, para intensificar experiências psicadélicas (ingerir DMT só é possível com a sua presença). No entanto, a maioria destas interações é perigosa e pode, em certos casos, ser letal.

Qual é um exemplo de IMAO?

Os inibidores da monoamina oxidase (MAOI) mais conhecidos no contexto farmacêutico são:

• Fenelzina: usada no tratamento da depressão atípica em adultos; não recomendada para casos de depressão bipolar ou grave.
• Tranilcipromina: indicada para depressões severas resistentes a outras terapêuticas.
• Selegilina: actua na degradação da dopamina no cérebro e é utilizada na doença de Parkinson.
• Isocarboxazida: utilizada para tratar depressão, ansiedade, ataques de pânico e fobias.

Estes MAOIs são de origem farmacêutica e sintetizados em laboratório. Nunca recomendamos a sua utilização para potenciar os efeitos de psicadélicos! São potentes, e apresentam efeitos secundários graves e interações perigosas. Só devem ser tomados sob prescrição médica.

Existem também MAOIs de origem natural, que tendem a ser menos potentes e, por isso, mais utilizados no contexto de experiências psicadélicas (embora isso não signifique que estejam isentos de riscos).

Alguns exemplos:

• Caapi: ingrediente essencial em preparações de ayahuasca, tornando o DMT biodisponível.
• Bobinsana: empregue na medicina tradicional de várias comunidades da Amazónia peruana.
• Peganum harmala (arruda síria): planta que cresce em África, Ásia e Europa. Apesar de tóxica, tem histórico de uso medicinal tradicional.
• Cacau: o cacau cru funciona como um ligeiro MAOI e foi utilizado com cogumelos Psilocybe cubensis em rituais dos astecas.
• Toranja: a toranja também contém compostos com propriedades MAOI.

O que fazem os inibidores da monoamina oxidase?

Os MAOIs actuam através da inibição de uma ou ambas as enzimas da monoamina oxidase: MAO-A e MAO-B.

Quando a MAO-A é inibida, há uma diminuição na degradação da serotonina, noradrenalina e dopamina. Esta ligação com os neurotransmissores pode explicar o impacto destes fármacos em determinadas perturbações de saúde mental.

A inibição da MAO-B, por sua vez, reduz a degradação da dopamina e da feniletilamina. Importa realçar que os MAOIs que atuam apenas sobre a MAO-B não exigem as mesmas restrições alimentares que os restantes.

Os MAOIs podem interagir com outras substâncias?

Uma das principais razões pelas quais os IMAOs não são normalmente prescritos numa fase inicial deve-se ao elevado número de interacções que estes podem ter com outros medicamentos e determinados alimentos. Na maioria das situações, estas interacções podem ser perigosas e constituem uma limitação para quem toma IMAOs de forma regular. Contudo, quando o uso destes medicamentos ocorre apenas uma vez, o risco associado às interacções tende a ser menos significativo.

Psicadélicos e IMAOs

Os IMAOs podem intensificar e prolongar os efeitos da DMT, da psilocibina e do LSD. No caso da DMT, sabe-se que esta substância não tem qualquer efeito se ingerida sozinha, sendo necessário combiná-la com um IMAO para que produza resultados.

Quanto à psilocibina e ao LSD, existe ainda pouca investigação concreta sobre a potencialização dos seus efeitos com a utilização de IMAOs. No entanto, dado que partilham mecanismos de acção semelhantes à DMT, é provável que também estes possam ser potenciados por IMAOs. Aliás, há inúmeros relatos e experiências pessoais que apontam para uma forte ligação entre estas substâncias.

De forma geral, estas combinações são consideradas seguras (Malcolm 2021).

Mesmo assim, é fundamental ter atenção, especialmente ao utilizar LSD. Embora o LSD, em princípio, seja relativamente seguro quando combinado com IMAOs, muitas vezes aquilo que é vendido como LSD não corresponde à substância original. Por exemplo, existe uma substância chamada DOx, frequentemente comercializada como LSD e com efeitos semelhantes. No entanto, a nível fisiológico, o DOx assemelha-se mais ao MDMA, podendo esse tipo de interação com IMAOs ser perigoso e potencialmente fatal.

Alimentação e IMAOs

As pessoas que tomam regularmente medicamentos IMAO devem evitar alimentos ricos em tiramina, como produtos fermentados, queijos, molho de soja, entre outros. Esta lista não é exaustiva. Consumir tiramina enquanto se está a tomar IMAOs pode provocar uma chamada “crise hipertensiva”, uma condição potencialmente fatal.

Outras substâncias e IMAOs

Existem inúmeros medicamentos e substâncias, como anfetaminas, MDMA, antidepressivos SSRIs, hipericão (St. John’s wort), 5-HTP, entre outros, que apresentam interações extremamente perigosas com inibidores da MAO (MAOI). Este risco é especialmente elevado para quem toma estas substâncias regularmente. No caso de uma utilização pontual de um MAOI natural, os efeitos ao combiná-lo com estas substâncias permanecem pouco claros.

Uma das principais ameaças resultantes da interação entre um MAOI e outros fármacos é a síndrome serotoninérgica. Esta condição ocorre quando o organismo não consegue degradar a serotonina de forma adequada, levando a um aumento perigoso dos seus níveis (Laban e Saabadi, 2022). Todas as substâncias mencionadas acima acarretam este risco.

Já houve relatos de pessoas que tomaram Peganum harmala em conjunto com o 5-HTP e acabaram por necessitar de assistência hospitalar. Realmente, o melhor é sempre optar pela segurança e evitar combinações que possam ser perigosas.

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Existem riscos associados ao uso de MAOIs?

Para além dos riscos já referidos, existem outros perigos evidentes ao combinar IMAOs com psicadélicos. Mesmo que tudo corra dentro do esperado e os efeitos sejam intensificados, isso, por si só, pode ser bastante arriscado.

Os psicadélicos são substâncias muito potentes e, por vezes, avassaladoras. Ao tomar IMAOs juntamente com estas drogas, não só potencia os seus efeitos, como também pode alterar significativamente a experiência — e nem sempre de forma positiva. Reflita bem antes de modificar a forma como estas substâncias actuam no seu organismo. Se procura uma experiência mais intensa, geralmente é preferível simplesmente aumentar a dose da própria substância.

Deve utilizar IMAOs nas suas experiências?

A decisão cabe inteiramente a si. Não se limite à informação apresentada neste artigo; investigue por sua conta!

Algumas pessoas optam por combinar psicadélicos com MAOIs, mas muitos referem que é uma experiência intensa e, por vezes, desconfortável. Caso decida avançar, recomendamos que tenha pelo menos alguém sóbrio a acompanhá-lo durante a experiência.

Zamnesia

A Zamnesia é uma especialista de referência no universo da canábis e dos psicadélicos. Combinando esse conhecimento aprofundado com uma investigação rigorosa, a Zamnesia produz conteúdos de excelência a qualquer hora do dia. Graças à sua abordagem única, temos orgulho em contar com a Zamnesia como a nossa principal fonte de informação sobre substâncias que alteram a mente.

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