O renascimento da canábis comestível nos Países Baixos

Consumir canábis: alternativas mais saudáveis e a situação legal na Holanda

Consumir canábis sob a forma de comestíveis é, sem dúvida, uma alternativa muito mais saudável em comparação ao fumo, especialmente para quem procura efeitos terapêuticos potentes. Para doentes crónicos, como os pacientes oncológicos, os comestíveis permitem doses elevadas sem recorrer à inalação. Já deixámos para trás os tradicionais space cakes, mas uma alteração iminente na legislação holandesa poderá mudar este cenário num futuro próximo.

A legislação dos space cakes nos Países Baixos é peculiar — estes bolos só podem ser vendidos se o ingrediente principal for canábis moída pura.

Tradicionalmente, para preparar um space cake, derrete-se manteiga num tacho e adiciona-se a matéria vegetal, extraindo o THC, e a manteiga é depois usada na confeção. Contudo, como o THC é classificado como droga dura na Holanda, surge um impasse legislativo: os space cakes acabam por ser praticamente o único comestível canábico legal disponível nos coffeeshops holandeses.

Nos Estados Unidos, os comestíveis modernos utilizam extratos concentrados — extraem-se apenas os canabinóides e terpenos, através de técnicas com CO₂, eliminando clorofila e resíduos vegetais indesejáveis, o que resulta num produto final com melhor sabor e textura.

No entanto, esses extratos — e os comestíveis feitos a partir deles — continuam completamente ilegais nos Países Baixos, apesar da venda livre de canábis herbal nos coffeeshops. A situação é contraditória e limita o acesso dos consumidores à medicação de que realmente precisam, empurrando-os para métodos menos saudáveis, como o fumo.

Ryan, da Golden Green Bakery, quer mudar esta realidade, inspirando-se nos EUA e apostando na criação de um vasto leque de produtos comestíveis de canábis, devidamente regulamentados e com doses controladas. Entre as propostas estão gomas, chocolate branco e snacks de arroz. Cada produto contém uma dosagem rigorosa de 10 miligramas de THC.

"Perguntamos frequentemente aos clientes o que realmente gostariam de ver — não só a nível de sabor, mas também na quantidade de THC", refere Ryan.

Criar comestíveis de canábis de forma profissional não é tarefa simples: diferentes variedades possuem perfis distintos de terpenos, responsáveis pelo aroma e sabor. A escolha da variedade impacta tanto o efeito como o paladar do produto final — é vital que os produtores selecionem as plantas que vão ao encontro das necessidades dos pacientes.

“Os concentrados de canábis podem ter um sabor intenso. Foi necessário descobrir como ultrapassar esse desafio”, explicou Ryan, sublinhando a importância da investigação dos terpenos para o mercado medicinal. O universo dos comestíveis de canábis é ainda recente e está a dar os primeiros passos, pelo que é essencial construir e partilhar conhecimento fiável sobre o tema. No futuro, poderá até surgir uma verdadeira sinergia entre a indústria alimentar e o mercado dos comestíveis de canábis.

Desejamos a maior sorte a Ryan e a toda a equipa da Golden Green Bakery — quem sabe, em breve as leis mudem e os seus produtos cheguem aos coffeeshops holandeses. Até lá, os space cakes continuam a ser a nossa escolha, enquanto aguardamos o dia em que os comestíveis de THC e CBD poderão ser consumidos publicamente, de forma variada, saborosa e muito mais saudável.

Steven Voser

Steven Voser é um jornalista independente especializado em canábis, com mais de seis anos de experiência a escrever sobre todos os aspetos da planta: desde os métodos de cultivo, às melhores formas de consumo, passando ainda pelo dinâmico setor e pelo complexo enquadramento legal que o envolve.

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