
Os medicamentos para estudo são eficazes?
Os chamados "medicamentos para estudar" podem parecer uma solução simples quando se aproxima uma tarefa exigente. No entanto, apesar de estimularem o cérebro, nem sempre o fazem da forma mais benéfica. Nesta secção, analisamos os fármacos de estudo mais conhecidos, os efeitos pretendidos e os potenciais efeitos secundários, avaliando até que ponto são realmente úteis para a maioria das pessoas.
Seja pela aproximação dos exames ou por um volume de trabalho acumulado, seria óptimo se existisse um comprimido capaz de nos dar um desempenho quase sobre-humano e ajudar a cumprir todas as tarefas. Muitos recorrem a esses chamados estimulantes para estudar, também conhecidos como nootrópicos, com resultados que variam bastante de pessoa para pessoa.
Enquanto uns garantem que estes medicamentos aumentam a concentração, outros relatam precisamente o oposto: dificuldade em manter o foco, menor capacidade para executar tarefas exigentes e um desconforto geral. Afinal, o que são realmente estes estimulantes para estudo e como funcionam? Vamos explorar estas questões e perceber se realmente valem a pena.
O que são estimulantes para estudar?
"Study drugs" não são uma categoria farmacológica oficial. Em vez disso, é uma expressão usada para descrever vários tipos de substâncias que as pessoas, frequentemente de forma ilegal, consomem como apoio ao estudo. Estes fármacos são especialmente populares em ambientes universitários e acredita-se que ajudam a aumentar o foco e prolongar o tempo de concentração. Na maioria dos casos, tratam-se de estimulantes, embora existam exceções.
O uso destas substâncias também pode ocorrer em ambientes profissionais, embora seja menos frequente. Apesar do nome, costumam facilitar a execução de tarefas rotineiras e repetitivas, mas em grande parte dos casos podem prejudicar o raciocínio complexo e a memória.
Para que são prescritas as "study drugs"?
Os primeiros medicamentos conhecidos como "study drugs" foram o Adderall e a Ritalina, ambos derivados das anfetaminas, receitados sobretudo para tratar casos de défice de atenção (TDAH). A lógica simples seria pensar: se ajudam quem tem TDAH a concentrar-se, funcionarão com toda a gente para melhorar o foco, certo?
No entanto, a questão não é assim tão linear. Quem sofre de TDAH costuma ter níveis de dopamina mais baixos, o que dificulta a concentração. Estimulantes aumentam a dopamina no cérebro, ajudando estas pessoas a atingir um estado mais propício ao foco. Já nos indivíduos sem TDAH, os níveis de dopamina costumam ser suficientes; aumentar esta substância pode até ter o efeito oposto e dificultar a aprendizagem.
Por sua vez, o aniracetam é normalmente receitado em casos de demência ou após um AVC, uma vez que se acredita que pode reforçar a memória e a função cognitiva. O modafinil, outro "study drug" bastante popular, é utilizado para tratar a narcolepsia, já que atua como estimulante que promove o estado de alerta.
Apesar das diferenças, estes medicamentos têm em comum o facto de serem prescritos para reforçar ou melhorar algum aspeto da função cognitiva.
Quais são os diferentes tipos de smart drugs?
De seguida, vamos analisar alguns dos smart drugs mais comuns que existem atualmente. Provavelmente já ouviu falar de alguns destes — ou até já experimentou algum.
Atenção: Todos os efeitos listados abaixo dizem respeito ao uso legítimo sob prescrição médica. Os resultados podem variar bastante se estes medicamentos forem utilizados fora desse contexto.
Adderall
O Adderall, um medicamento bem conhecido para o tratamento do TDAH, é o nome comercial de uma combinação de quatro sais de anfetamina. Este fármaco já foi prescrito mais de 34 milhões de vezes nos Estados Unidos e é extremamente popular — muitos defendem mesmo que em excesso. Devido ao seu fácil acesso nos EUA e na Europa, tornou-se bastante utilizado como estimulante para estudar e também como potenciador de desempenho físico.
Quando administrado em doses baixas para tratar o TDAH, apresenta um baixo risco de dependência e não costuma causar danos ao cérebro ou aos nervos. No entanto, em doses mais elevadas, os riscos aumentam significativamente.
Efeitos
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Estado de alerta aumentado
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Alteração da líbido
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Melhor controlo cognitivo
-
Maior resistência ao cansaço
-
Aumento da força e da resistência física
Os possíveis efeitos secundários incluem:
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Ansiedade
-
Boca seca
-
Dificuldade de concentração
- Insónias
Aniracetam
O aniracetam não é um dos fármacos mais comuns utilizados para estudar, pois é de difícil acesso. Nos Estados Unidos, não está aprovado pela FDA, contudo, na Europa, é prescrito para tratar demência e para recuperação após AVCs. Nestes contextos, demonstrou efeitos positivos na memória e na capacidade cognitiva.
Efeitos
-
Memória reforçada
-
Capacidade de aprendizagem otimizada
Possíveis efeitos secundários:
-
Irritabilidade
-
Ansiedade
- Insónias
Metilfenidato (Ritalina, Concerta)
Para além do Adderall, talvez o medicamento para estudo mais conhecido seja a Ritalina, também comercializada sob o nome Concerta. Ambos são marcas do estimulante metilfenidato, amplamente usado entre estudantes e outros que procuram melhorar o desempenho cognitivo. Tal como o Adderall, este medicamento é de fácil acesso, tornando-se bastante popular nestes contextos.
Efeitos
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Maior estado de alerta
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Aumento da libido
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Maior controlo cognitivo
-
Melhor desempenho físico
Possíveis efeitos secundários incluem:
-
Irritabilidade
-
Ansiedade
- Palpitações
Lisdexamfetamina
O lisdexanfetamina, comercializado sob as marcas Vyvanse e Elvanse, é um estimulante utilizado no tratamento do défice de atenção e hiperatividade (TDAH) e também nos distúrbios alimentares compulsivos, visto que reduz o apetite.
Efeitos
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Maior sensação de vigília
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Controlo cognitivo reforçado
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Capacidades físicas melhoradas
Efeitos secundários possíveis:
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Insónias
-
Irritabilidade
-
Ansiedade
- Palpitações
Modafinil
O modafinil é conhecido por estimular o estado de vigília, sendo sobretudo utilizado no tratamento da narcolepsia. Embora também seja popular entre estudantes, a investigação indica que, apesar de demonstrar eficácia em pessoas privadas de sono, tem impacto reduzido em indivíduos devidamente descansados (Minzenberg e Carter, 2008).
Efeitos
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Maior sensação de alerta
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Concentração aprimorada
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Melhor desempenho cognitivo
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Memória fortalecida
Possíveis efeitos secundários:
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Ansiedade
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Dores de cabeça
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Náuseas
- Nervosismo
Cafeína
Por fim, mas não menos importante, temos aquela que é provavelmente a substância para estudar mais utilizada e que poucos consideram sequer uma droga: cafeína. Trata-se de um estimulante que provoca efeitos bastante semelhantes aos dos outros exemplos referidos. A grande diferença é que, ao contrário de muitos produtos deste tipo, pode ser adquirida facilmente em cafés e supermercados, sem necessidade de receita médica. Se, para alguns, esta facilidade a torna menos interessante, para outros revela-se extremamente prática!
Efeitos
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Maior estado de alerta
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Capacidade de concentração melhorada
-
Mais energia
Os possíveis efeitos secundários incluem:
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Ansiedade
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Agitação
-
Dificuldade em concentrar-se
-
Irritabilidade
- Dor de cabeça
Deve recorrer a medicamentos para estudar?
Se não tem um diagnóstico de uma condição que comprometa significativamente as suas capacidades cognitivas, provavelmente não precisa recorrer a medicamentos psicoestimulantes para estudar — ou pode simplesmente ficar-se pelo café. A eficácia destes medicamentos é duvidosa e há numerosos estudos que indicam que podem provocar ansiedade e dificultar a concentração em muitas pessoas.
A maioria destes fármacos são potentes estimulantes psicotrópicos e, por isso, devem ser encarados com cautela. Não são substâncias "mágicas" que tornam as pessoas mais inteligentes — simplesmente ativam o sistema nervoso e aumentam a velocidade a que o cérebro trabalha, o que nem sempre significa que passe a funcionar melhor.
Pense, por exemplo, em conduzir um automóvel: existe uma velocidade ideal para chegar ao destino de forma eficiente e mantendo o controlo. Ir além desse limite tende a deixar tudo mais instável! Assim, mesmo que certos estimulantes possam ajudar alguns, nada supera um cérebro bem descansado, sóbrio e equilibrado para conseguir aprender ou executar tarefas exigentes.
Quais são os riscos e efeitos secundários dos medicamentos para estudar?
As chamadas drogas de estudo, por serem geralmente estimulantes, apresentam riscos consideráveis. Além dos efeitos secundários já mencionados, existe o potencial para abuso destas substâncias — afinal, muitas são derivados anfetamínicos. Essas situações podem comprometer o processo de aprendizagem e, nos casos mais graves, conduzir a comportamentos desinibidos ou ao desenvolvimento de dependência. Este perigo agrava-se ainda mais se precisar de conduzir ou realizar tarefas que possam colocar outros em risco.
Adicionalmente, se tiver condições de saúde física ou mental pré-existentes, estas drogas podem desencadear reações inesperadas e, em casos extremos, podem mesmo ser fatais. Por último, caso esteja a tomar medicação prescrita para questões físicas ou psicológicas, evite combinar com drogas de estudo, pois podem ocorrer interações prejudiciais.
Drogas de estudo: ajudam ou prejudicam?
Para a maioria das pessoas, os chamados "medicamentos para estudar" não são necessários. Longe de serem substâncias milagrosas para desenvolver capacidades cognitivas excepcionais, estas drogas têm, muitas vezes, um efeito semelhante ao de uma cafeína potente: podem dar-te um impulso ocasional, mas dificilmente te vão transformar num génio.
Se perceberes que resultam muito bem contigo, pode ser sinal de que tens um caso de ADHD não diagnosticado, já que algumas pessoas com esta condição reagem positivamente aos estimulantes. Em alternativa, o melhor mesmo é descansares bem durante a noite e manteres-te hidratado!
- Minzenberg, Michael J, Carter, & Cameron S. (2008, Junho). Modafinil: A Review of Neurochemical Actions and Effects on Cognition - https://www.nature.com
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