O que é uma viagem visionária e porque fazê-la?

Pode parecer estranho à primeira vista, ou até exigir demasiado compromisso, mas muitos de nós teriam a ganhar com a experiência de uma vision quest.

Numa época cada vez mais caótica, sentimos, muitas vezes, a necessidade de fortalecermos a ligação connosco próprios. Por isso, são cada vez mais aqueles que procuram reaproximar-se da natureza, descobrindo ou construindo uma relação mais profunda com o ambiente natural. Não são poucos os que acabam também por participar em cerimónias como rituais de ayahuasca, experimentando que certos psicadélicos os ajudam a sentirem-se mais ligados ao mundo ao seu redor.

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Na realidade, poucas experiências proporcionam uma ligação tão revitalizante a estes valores como uma vision quest. Esta jornada permite-nos reencontrar o equilíbrio entre a nossa essência e o mundo natural, trazendo clareza e compreensão sobre as nossas verdades pessoais.

Neste artigo, exploramos os vários pontos essenciais de uma vision quest: o que realmente significa, porque deveria considerar embarcar nesta aventura, e como se preparar para essa experiência transformadora. Tentaremos transmitir uma ideia do que poderá esperar de um momento de epifania como este, sublinhando, no entanto, que cada caminhada é única à sua maneira.

O que é uma vision quest?

As vision quests são rituais de passagem praticados nas culturas indígenas norte-americanas há centenas de anos. Nestes rituais, a pessoa parte sozinha para a natureza, assinalando uma mudança marcante e significativa na sua vida — um verdadeiro ponto de viragem.

É mais comum realizar uma vision quest na transição da infância para a idade adulta, mas existem muitos outros motivos para embarcar nesta experiência.

Hoje em dia, muitos nativos americanos continuam a realizar vision quests conforme as tradições ancestrais. No entanto, as versões modernas adotadas fora destas comunidades já se afastaram um pouco das raízes originais, integrando elementos de várias outras culturas, crenças e práticas espirituais. Apesar desta evolução, a essência da vision quest permanece fortemente ligada às tradições indígenas americanas.

Participar numa vision quest pode ajudar a encontrar respostas para questões como “Quem sou eu?” ou “Qual é o meu propósito?”, mas as revelações podem surgir de diversas formas. É importante manter a mente e o coração abertos às mensagens do próprio eu interior.

Na verdade, o maior desafio não passa apenas por responder a essas perguntas, mas sim por entregar o controlo do momento à natureza e à própria vontade interior — um conceito que para muitas pessoas pode ser assustador.

Quanto tempo dura uma vision quest?

Afinal, quanto tempo dura normalmente uma jornada destas?

Na maioria dos casos, uma vision quest estende-se por dois a quatro dias. Durante este período, é comum caminhar longas distâncias na natureza, jejuar e dormir muito pouco. O isolamento da vida quotidiana e a proximidade com a natureza são aspetos fundamentais, pois ajudam a refletir e a alcançar maior clareza em relação aos seus próprios valores e propósitos.

Pode até dar-se o caso de surgirem visões ou momentos de compreensão profunda — mas é importante deixar que estas experiências aconteçam de forma espontânea.

Porque fazer uma vision quest?

Como referido acima, os motivos para participar numa vision quest são profundamente pessoais e podem variar bastante de pessoa para pessoa. Normalmente, este tipo de experiência surge perante situações novas, rituais de passagem, desafios ou mudanças importantes na vida. Entre estes momentos, incluem-se o nascimento e a morte (tanto literal como simbólica), alterações na carreira, casamento, divórcio, menopausa ou outros acontecimentos marcantes.

Uma vision quest pode ser extremamente transformadora. Tem o potencial de conceder força, humildade, inspiração e autoconhecimento em simultâneo! Através desta ligação com o espírito e a força criativa que nos habita, ajuda-nos a clarificar realmente o que desejamos da vida. O resultado final será único para cada indivíduo, mas a maioria das pessoas que realiza uma vision quest regressa com uma compreensão mais profunda de si própria e do caminho a seguir.

Quais são os benefícios de uma vision quest?

É verdade que, por vezes, as jornadas de visão podem ser exigentes e até acarretrar alguns riscos. No entanto, se está disposto a desafiar-se em busca de uma experiência pessoal marcante, pode valer muito a pena! Estes são alguns dos principais benefícios de uma jornada de visão:

• Ao movimentar-se pela natureza, fará exercício físico de forma natural.

• O ar puro e a envolvência natural podem ajudar a aliviar o stress mental que possa sentir.

• O tempo passado a sós permite-lhe refletir profundamente sobre si próprio, sobre a sua situação e sobre o que sente em relação a tudo isso.

• Desta forma, conseguirá tomar decisões mais adequadas ao que está a viver e, acima de tudo, fiéis a si mesmo e às suas emoções.

Como se preparar para uma jornada de visão

Antes de avançarmos, é importante referir que este guia tem como objetivo dar-lhe uma noção geral do que é uma vision quest. No entanto, os fatores individuais que envolvem esta experiência podem variar significativamente.

Decida como irá abordar a sua vision quest

Por exemplo, pode optar por uma abordagem mais tradicional — sozinho — ou recorrer ao apoio de um guia. Pode ainda escolher realizar a sua experiência com enteógenos ou sem quaisquer substâncias, ou até contactar uma das várias empresas e organizações que oferecem ambientes controlados para este tipo de jornadas.

Jejue e medite previamente

O jejum e a meditação são práticas que exigem treino e não deve deixá-las para explorar apenas quando estiver isolado na natureza. O ideal é começar por praticar o jejum em casa, habituando-se primeiro a passar meio dia sem comer e, gradualmente, prolongar esse período consoante se vá sentindo confortável. Da mesma forma, pode treinar a meditação: sente-se durante meia hora numa primeira fase, depois aumente para uma hora, duas, e assim sucessivamente.

Se não estiver devidamente preparado, estas práticas podem causar-lhe desconforto ou confusão e afetar negativamente a experiência. No entanto, com algum treino, tornam-se poderosas ferramentas para aceder às verdadeiras descobertas interiores que procura.

Prepare a mente, o corpo e os essenciais

Antes de embarcares numa busca de visão, é importante que te acostumes a jejuar, que te sintas confortável a acampar ao ar livre durante alguns dias e que consigas lidar bem com a solidão. Experimenta fazer pequenas excursões de apenas um dia, depois dois, e vai aumentando gradualmente o tempo, de modo a preparares-te para algo mais prolongado.

Deverás também preparar todo o equipamento essencial: saco-cama, vestuário adequado à estação do ano, água em quantidade suficiente para todos os dias da tua jornada, assim como um caderno e lápis para registares as tuas experiências. Ter alguns conhecimentos básicos de primeiros socorros pode ser uma mais-valia, caso te magoes durante a aventura ou precises de ajudar alguém.

E quanto a comida "de emergência" ou psicadélicos?

Consoante aquilo que procura alcançar na sua jornada de descoberta interior, pode optar por ajustar alguns elementos — talvez prefira excluir ou incluir algo consoante as suas necessidades. Por exemplo, há quem leve consigo frutos secos, chocolate ou frutos desidratados para lidar melhor com a fome. No entanto, é importante lembrar que saber que tem comida à mão pode dificultar a experiência do jejum. Tudo depende do local, da duração da sua jornada, se vai sozinho ou acompanhado, entre outros fatores.

Se pretende utilizar enteógenos ou alucinogénios, deve, naturalmente, levá-los consigo. Cogumelos mágicos, cactos de mescalina, DMT ou ayahuasca podem aprofundar as visões e enriquecer a experiência, mas uma jornada pode ser igualmente significativa sem qualquer auxílio externo. LSD também pode proporcionar uma experiência interessante, mas quanto mais natural for a substância, melhor, já que o objetivo passa por se reconectar com a natureza e consigo próprio — os fármacos sintéticos podem desviar desse propósito.

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Como realizar uma jornada de visão

A realização deste ritual envolve vários pontos essenciais. Estás sozinho num ambiente natural (solidão), jejua (esvaziamento), estás exposto aos elementos (vulnerabilidade) e tens de confiar apenas em ti próprio (autoconfiança). Vais sentir-te cansado, com fome, e permanecerás num estado de meditação quase constante. No entanto, é através deste estado de foco e privação que acabarás por ter percepções e visões profundas.

Aventurar-se na Natureza Selvagem

Para iniciares esta jornada, deves reunir o essencial, sair de casa e dirigir-te para um lugar selvagem. Não é obrigatório ser numa floresta, deserto, montanha ou outro ambiente específico. O importante é que seja um cenário natural, isolado e suficientemente amplo para te proporcionares afastamento do quotidiano.

Dedica tempo à meditação

Assim que começares a apreciar a beleza do que te rodeia, procura locais ao longo do caminho onde possas sentar-te e meditar. Não existe qualquer limite de tempo ou duração mínima que tenhas de cumprir. Podes meditar durante cinco minutos ou cinco horas, retirando algo de valioso de qualquer uma dessas experiências.

O mais importante é estares verdadeiramente empenhado no momento em que decides meditar. Naturalmente, o telemóvel deve estar desligado, sem música ou outras distrações ao teu redor. O objetivo principal desta prática é voltares-te para dentro, ouvindo o que a tua mente e espírito têm para dizer nesses instantes.

Monta acampamento

Assim que chegares ao local onde pretendes iniciar a tua jornada, aproveita para explorar durante o máximo de tempo que a luz do dia e as condições meteorológicas permitirem. Contudo, mais cedo ou mais tarde, será necessário encontrares um bom sítio para montar o teu acampamento. Podes escolher qualquer área plana, mas deves ter em mente a exposição aos elementos naturais e a presença de animais da zona.

Nesse sentido, optar por uma zona ligeiramente abrigada, como uma caverna ou um recanto protegido, pode ser uma excelente decisão. Lembra-te, porém, que outros animais podem também usar esse abrigo, por isso mantém-te atento e respeita sempre o espaço deles. Afinal, és tu quem está a descansar e a atravessar o território deles.

Com o acampamento montado, estás pronto para te dedicares a períodos mais longos de meditação, aproveitando para refletir sobre a tua experiência até ao momento e sobre os pensamentos que foste tendo desde o início da tua caminhada.

Jejum

O jejum pode ser a parte mais difícil deste processo. Prepare-se para sentir muita fome, sobretudo se nunca fez jejum antes. Há quem opte por fazer uma dieta específica até 40 dias antes de iniciar a experiência, para melhor se preparar. Ainda assim, é importante referir que o jejum pode trazer vários benefícios, como efeitos anti-inflamatórios, melhor controlo dos níveis de açúcar no sangue e um aumento do metabolismo.

Abra-se a novas visões

Quando todos estes elementos se juntam e te encontras sozinho com o mundo, num estado de cansaço e fome, podes começar a ter visões.

Por vezes, essas visões podem fazer todo o sentido naquele momento, trazendo clareza e respostas para questões que tens em mente. Noutras ocasiões, pode ser necessário algum tempo para refletir sobre o significado dessas imagens e o que te querem transmitir.

Lembra-te de que não existe uma visão certa ou errada, e não deves forçar o desenrolar da experiência. Naqueles instantes, o teu espírito e o universo vão mostrar-te exatamente aquilo que precisas de saber.

Segue em frente depois da busca

Após alguns dias de isolamento e introspecção, chega o momento de terminar a sua jornada ou, consoante o tipo de busca espiritual que está a realizar, regressar à sua comunidade e reencontrar-se com os outros. Nestas ocasiões, pode partilhar o que viveu e, possivelmente, obter novas perspetivas sobre as experiências e aprendizagens, com a ajuda dos demais.

Dito isto, aquilo que realmente sentiu e compreendeu durante a sua busca interior será provavelmente o mais difícil de expressar. Afinal, essas revelações são exclusivamente suas e dificilmente terão o mesmo sentido para quem não percorreu o mesmo caminho ou não partilha da sua forma de ver o mundo.

O que esperar durante uma busca espiritual

Como se pode ver acima, os preparativos e o ambiente da busca da visão podem ser semelhantes em muitas tradições. No entanto, o que torna esta experiência verdadeiramente única é o que acontece no teu interior—os pensamentos, as visões e os ensinamentos que surgem ao longo do processo.

No essencial, sente-se como um renascimento. É uma experiência que transforma profundamente, para melhor. Vais sentir-te desconstruído, despedaçado, reconstruído e, finalmente, renovado numa versão mais completa e aperfeiçoada de ti mesmo. A consciência e a atenção ao que te rodeia intensificam-se e podes perceber que fazes parte de algo maior, conectando-te com a essência espiritual que há em ti e no universo que te envolve.

Deste processo emergirá uma sensação de maior serenidade, gratidão, purificação e renovação interior. No melhor dos cenários, poderás ter visões reveladoras, insights, epifanias ou até alcançar um certo grau de iluminação. Isto significa que nasceste simbolicamente para uma nova etapa da tua existência. De forma subtil, a busca da visão fornecer-te-á símbolos e ensinamentos para compreender melhor a tua vida e o teu percurso. Descobres, assim, um novo sentido para o teu caminho!

Lembra-te sempre que, no final de tudo, é fundamental respeitar a busca da visão como um ritual sagrado com raízes nas tradições indígenas norte-americanas. Embora adaptes o processo à tua realidade, deves sempre encará-lo com respeito e reverência, reconhecendo a sua origem espiritual.

Luke Sholl

Luke Sholl dedica-se há mais de dez anos a escrever sobre a cannabis, o potencial dos canabinóides para o bem-estar e os benefícios naturais. Colabora com várias publicações especializadas em canabinóides, produzindo conteúdos digitais diversificados, sempre sustentados por um profundo conhecimento técnico e uma pesquisa rigorosa.

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