
O que é a morte do ego e como se sente?
A morte do ego é uma das experiências mais intensas que se podem atingir com o uso de psicadélicos. Por isso, não deve ser encarada de ânimo leve. Para além do simples entretenimento, a morte do ego representa estados de consciência desconcertantes, que tanto podem ser fascinantes como perturbadores. Vamos explorá-los em mais detalhe.
O termo "morte do ego" é frequentemente utilizado, muitas vezes acompanhado de conselhos pouco fundamentados. Aqui, vamos analisar o verdadeiro significado da morte do ego e em que situações — ou se — deve ser procurada.
A dissolução do ego é uma experiência intensa; não se trata de um simples passatempo, nem é necessariamente positiva em todos os casos. No entanto, pode ser um processo transformador e, sem dúvida, capaz de alterar profundamente a forma como vemos a vida, muitas vezes para melhor. Vamos aprofundar o tema.
O que é o ego?
Antes de explorarmos o conceito de dissolução ou morte do ego, é importante perceber o que realmente é o ego – ou seja, aquilo que está a ser questionado ou desfeito. Ao contrário do que se pensa frequentemente, o ego não se refere à arrogância de uma pessoa. Em psicologia, entende-se o ego como a nossa perceção do "eu" – o sentido de identidade individual.
Esta perceção abrange dados pessoais (nome, idade, etc.), a autoestima e as crenças que formam a nossa identidade. Dito de outra forma, o ego é o que permite distinguir-nos dos outros e afirmar-nos como indivíduos separados do mundo à nossa volta – algo essencial para o funcionamento do nosso dia a dia.
Ter ego é natural e necessário. O ego filtra o que nos rodeia, dá-nos referências para interpretar o mundo, protege-nos psicologicamente e ajuda-nos a funcionar como seres autónomos. Contudo, esta estrutura tem também as suas desvantagens: pode tornar-se frágil, inflexível e propensa a preconceitos.
Mas será que o ego é uma realidade concreta? A resposta é: em parte. Aceita-se hoje que a "central de comando" do ego reside na rede neural de modo padrão (DMN) no cérebro, responsável por grande parte do nosso pensamento consciente. Esta rede filtra informações e experiências, simplificando-as para criar a nossa perceção do quotidiano. Embora este processo seja útil, elimina grande parte dos pormenores do mundo e dá origem a uma vivência muito subjectiva.
Ao dissolver o ego, libertamo-nos desses preconceitos e padrões adquiridos, o que pode ter consequências tanto positivas como negativas!
Morte do ego: O que significa afinal?
A chamada morte ou dissolução do ego traduz-se numa atenuação da Rede de Modo Padrão (DMN), permitindo que o mundo exterior preencha a mente de forma desfiltrada. Durante este processo, a sensação de identidade desvanece, levando a que o indivíduo se sinta completamente integrado no universo à sua volta. Esta experiência de união é total e pode, por vezes, ser desconcertante. Embora possa ainda conseguir identificar-se, esse conceito perde qualquer relevância. Todas as distinções deixam de ter significado.
A morte do ego permite ver a realidade sem os preconceitos e as ideias adquiridas sobre nós próprios e sobre tudo o que nos rodeia. Trata-se de um estado profundamente inibidor. De facto, quem atravessa esta experiência normalmente pouco mais consegue do que permanecer deitado, deixando-se absorver totalmente pelo momento. Falar torna-se extremamente difícil, quando não impossível.
Este fenómeno é bastante difícil de descrever ou definir, mas iremos abordar este tema novamente mais adiante.
Que substâncias podem provocar a morte do ego?
Substâncias psicadélicas são geralmente a forma mais rápida e acessível para se vivenciar a morte do ego, especialmente para quem não possui grande experiência com práticas avançadas de meditação.
Entre as principais drogas capazes de induzir este estado, destacam-se:
- LSD (ácido)
- Psilocibina (cogumelos mágicos)
- DMT
- Mescalina
Outras práticas podem induzir morte do ego?
As drogas psicadélicas não são a única forma de dissolver o ego. Na verdade, anos de preparação e meditação podem até ser uma via mais saudável para atingir esse estado. Diversas práticas espirituais espalhadas pelo mundo têm como objectivo induzir a chamada morte do ego — sendo, por vezes, o propósito supremo dessas tradições.
No essencial, diferentes estilos de meditação podem conduzir à dissolução do ego. Não importa propriamente qual seja o método escolhido. Existem práticas específicas no Budismo, Hinduísmo e Islão que podem levar àquilo a que muitos chamam "morte do ego".
Como é realmente a experiência da morte do ego?
Descrever o que se sente durante a morte do ego é, provavelmente, uma das tarefas mais desafiantes. Imagine ser inundado por estímulos sensoriais e, ao mesmo tempo, ter a sensação de que o teu "eu" simplesmente deixou de existir. É como experienciar a morte e o renascimento em simultâneo.
Trata-se de um acontecimento profundamente avassalador, ao qual só é possível render-se, sem resistência. Não há um elemento único que possa ser isolado; tudo acontece ao mesmo tempo, afetando todos os sentidos de forma intensa. É precisamente para filtrar e regular estas experiências que existe a denominada DMN – a Rede Neuronal Padrão. Quando esta deixa de atuar, desaparecem as fronteiras e distinções normalmente presentes.
A morte do ego pode ser assustadora ou maravilhosa – tudo depende da capacidade de cada um para se entregar à experiência. Resistir é como tentar nadar contra a corrente de um rio caudaloso (és facilmente arrastado), enquanto deixar fluir é como se deixares levar pelas águas, sem saber ao certo onde vais dar. O primeiro cenário é angustiante; o segundo pode ser libertador e apaziguador, se conseguires render-te. Seja como for, serás levado pela intensidade do momento até que, gradualmente, regresses a águas mais calmas e, por fim, a ti mesmo.
Quais são os efeitos da morte do ego?
A dissolução do ego pode ter diversos efeitos, tanto benéficos como menos positivos. Alguns destes efeitos manifestam-se apenas durante a experiência, enquanto outros perduram ao longo do tempo.
Os aspetos positivos da dissolução do ego
Alguns dos possíveis efeitos positivos da dissolução do ego incluem:
- Maior sensação de unidade e conexão
- Reinício mental
- Sensação libertadora de desapego
- Sensação simultânea de clareza e misticismo
- Empatia intensificada
- Capacidade de quebrar antigos padrões
- Nova perspetiva
Os aspetos negativos da morte do ego
No entanto, nem tudo é positivo, sobretudo se não conseguir entregar-se à experiência. Entre os possíveis efeitos negativos incluem-se:
- Medo da morte ou de psicose
- Sensação de desconfiança em relação à própria existência
- Sentimento persistente de irrealidade do mundo
- Medo intenso
- Alteração profunda da perceção do eu
- Inibição total
As fases da dissolução do ego
Timothy Leary definiu a experiência da morte do ego em três fases principais. Embora não seja obrigatório seguir este modelo para reconhecer o valor deste fenómeno, ele é suficientemente abrangente para refletir a maioria das vivências deste tipo. As três fases são:
- Chikhai Bardo: Perda do ego, uma "transcendência total" do eu
- Chonyid Bardo: Período de alucinações
- Sidpa Bardo: Regresso à realidade quotidiana e ao sentido de identidade
Como saber se está a experienciar a morte do ego?
Sinceramente, se durante o processo pensa "Estou a ter uma morte do ego", é provável que não esteja, pois não existe um "eu" presente durante a morte do ego. No momento, estará completamente absorvido pela experiência e deixará de ter pensamentos usuais.
Mas, afinal, como reconhecer se já passou por uma morte do ego? Uma vez vivida, é impossível confundir; contudo, sem experiência prévia, poderá enganar-se e pensar que viveu algo que não foi realmente uma morte do ego. O principal sinal é a dissolução total do "eu" e a sensação absoluta de união com tudo o que existe. Não se trata de pensar ou perceber que é um só com o universo, mas sim de o viver plenamente e sem reservas.
A morte do ego é uma vivência desprovida de pensamentos. Se sentir orgulho ou satisfação por finalmente estar a alcançar um estado desejado, então ainda não está a experienciar a dissolução do ego – pois é justamente o "ego" que se sente satisfeito por conquistar algo.
No fundo, saberá se já viveu esta experiência. Se não sentiu o seu entendimento do mundo profundamente abalado e transformado, provavelmente ainda não atingiu esse estado.
Deve procurar a morte do ego?
A morte do ego não é um "troféu" a conquistar. Não é sinal de que alguém seja um verdadeiro explorador da mente, ou algo do género. Trata-se, sim, de uma experiência transformadora, mas não há motivo para se vangloriar disso; na verdade, nunca deve servir para alimentar o próprio ego.
Não há necessidade nenhuma de a perseguir propositadamente. Nunca se deve procurar viver uma morte do ego apenas pelo desejo de atingir um estado mais intenso. Também não é uma solução para quem se sente em baixo ou procura um remédio milagroso — pode ajudar, como pode piorar drasticamente as coisas.
Estas experiências são mais adequadas a quem sabe entregar-se em situações extremas e está disposto a ver as suas crenças fundamentais sobre si próprio e o mundo abaladas. A morte do ego não é uma experiência radical de drogas a ser perseguida por diversão. No momento errado, pode ser altamente perturbadora e exigir um longo trabalho de recuperação para restaurar o equilíbrio.
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A morte do ego: Uma das experiências mais estranhas
A morte do ego é, sem dúvida, uma das experiências mais invulgares que se pode viver. No entanto, determinar se é "a melhor" depende de cada pessoa, da fase em que se encontra na vida e do contexto em que essa dissolução acontece. Por estranho que pareça, ter uma identidade firme e segura é fundamental para quem atravessa a morte do ego e pretende regressar a si mesmo. Quando existe essa segurança interior, é possível enfrentar a experiência sem consequências negativas; por outro lado, uma identidade fragilizada pode tornar-se ainda mais vulnerável.
Se decidires embarcar nesta viagem, informa-te antes. Consulta conselhos de membros da comunidade psicadélica e de outras áreas. Não tentes antecipar de que forma tudo se irá desenrolar — isso é impossível —, mas procura orientações sobre como te preparares, como te entregares ao processo, e como cuidar de ti depois, porque algum acompanhamento será necessário. Boa sorte, e lembra-te: vais voltar a reencontrar-te.
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