VIPs psicadélicos

Psychedelics VIPs

Steven Voser
Steven Voser
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As substâncias psicadélicas percorreram um longo caminho nas últimas décadas. Algumas das mais emblemáticas, como o LSD e a psilocibina, foram inicialmente sintetizadas nas décadas de 1930 e 1950, respetivamente, antes de serem rapidamente proibidas. Hoje, tanto a ciência como a cultura popular estão a redescobri-las, e as pesquisas têm apresentado resultados surpreendentes.

Vamos conhecer as principais figuras pioneiras das substâncias psicadélicas, responsáveis por liderar os avanços e a defesa destes compostos intrigantes.

Albert Hofmann

Albert Hofmann nasceu a 11 de janeiro de 1906, em Baden, na Suíça, filho de Adolf Hofmann e de Elisabeth (nascida Schenk), sendo o mais velho de quatro irmãos. Quando o seu pai, que trabalhava como operário fabril, adoeceu gravemente, Hofmann teve de ajudar no sustento da família, optando assim por um estágio comercial que viria a concluir.

Simultaneamente, preparava-se para concluir os estudos. Durante esse período, foi apoiado pelo padrinho e, em 1925, ingressou no curso de Química na Universidade de Zurique, terminando a formação com distinção quatro anos depois. Trabalhou durante mais de quarenta anos na Sandoz, em Basileia, até se reformar em 1971.

O acaso na descoberta do LSD

A descoberta acidental do LSD

Enquanto trabalhava no departamento químico-farmacêutico dos Laboratórios Sandoz, em Basileia, Albert Hofmann investigava o fungo do esporão-do-centeio com o objetivo de criar um estimulante para a circulação e respiração. Em 1938, sintetizou vários derivados amídicos do ácido lisérgico. O vigésimo quinto composto revelou-se inquietante para os animais testados, mas, não parecendo ter interesse relevante, acabou por ser posto de lado. Esta substância só voltou a ser considerada a 16 de abril de 1943, quando Hofmann decidiu voltar a sintetizar o LSD.

Durante esta experiência, Hofmann começou a sentir inquietação, mal-estar e ligeira tontura, o que o forçou a interromper o trabalho. Pegou na bicicleta e foi para casa. Ao chegar, deitou-se e fechou os olhos, incomodado com a intensidade da luz do dia. Durante as duas horas seguintes, teve a imaginação profundamente estimulada, "vendo" uma sucessão constante de padrões caleidoscópicos, imagens fantásticas e formas impressionantes. No seu livro "LSD – O Meu Filho Problemático", Hofmann admite que provavelmente terá absorvido o LSD acidentalmente através dos dedos.

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No dia 19 de abril de 1943, pelas 16h20, Hofmann ingeriu propositadamente 250 microgramas de LSD, uma dose que atualmente se sabe ser entre três a cinco vezes superior à quantidade efetiva recomendada. E não, esta hora específica não está relacionada com a origem do termo "420" usado pelos consumidores de canábis.

O que é o "Dia da Bicicleta"?

Três dias depois, Albert Hofmann registou o que sentiu após ter ingerido LSD 25 numa experiência em si mesmo. Escreveu que por volta das 17h começou a sentir ligeira tontura e ansiedade, visão distorcida, paralisia e uma vontade incontrolável de rir. Acrescentou que as sensações e percepções eram semelhantes às do dia anterior, mas significativamente mais intensas.

Já quase sem conseguir escrever, com grande esforço conseguiu pedir ao assistente de laboratório para o acompanhar até casa – de BICICLETA! Durante este percurso, Hofmann sentiu que mal se movia, embora o assistente mais tarde tenha relatado que, na verdade, foram bastante rápidos.

O seu olhar sobre o mundo tinha-se alterado por completo e Hofmann sentiu-se ameaçado pelo estado em que estava, porque aquilo que lhe era familiar tornara-se estranho e parecia ganhar vida própria, tudo à sua volta se mexia. Quando se cruzou com a vizinha, a senhora R., viu-a como uma bruxa má e traiçoeira, com uma expressão distorcida e colorida.

Já em casa, a sensação de vertigem e desmaio intensificou-se de tal forma que teve de se deitar no sofá. Perto do final da experiência, começou a apreciar aquilo que sentia, pois não só "via" um fluxo de imagens fantásticas que giravam em espiral e explodiam em fontes de cor com os olhos fechados, como também a sua percepção auditiva parecia sintonizada com esse fluxo, e cada som influenciava as imagens.

A atitude de Hofmann em relação aos psicadélicos

MORNING GLORY (IPOMOEA TRICOLOR)
Ipomoea tricolor

Desde que iniciou os seus estudos sobre substâncias psicadélicas como o LSD e a psilocibina, tornou-se um defensor da sua utilização em psicanálise e da legalização para fins de investigação científica. Criticou o uso indevido destas substâncias pela contracultura dos anos 60 e a proibição global do LSD-25. Sempre manteve a esperança de que fossem aplicadas de forma responsável e com propósito genuíno.

Hofmann mostrou também interesse nas sementes da Turbina corymbosa, uma espécie mexicana de morning glory que contém LSA, amida do ácido lisérgico, um composto que identificou como próximo do LSD.

Em 1962, Hofmann assumiu a direção do departamento de produtos naturais da Sandoz e já tinha investigado os compostos alucinogénios presentes nos cogumelos mágicos mexicanos. Isolou e sintetizou a psilocibina, e, juntamente com a sua esposa, viajou para o sul do México em busca de "Ska Maria Pastora" (Folhas de Maria Pastora), planta que mais tarde ficaria conhecida como Salvia divinorum. Conseguiu amostras desta espécie, mas nunca chegou a identificar o seu princípio ativo, o diterpeno salvinorina A.


Terence McKenna

Terence Kemp McKenna nasceu a 16 de novembro de 1946, em Paonia, Colorado, nos Estados Unidos, uma localidade conhecida pela criação de gado e pela extracção de carvão, onde cresceu sob a influência do pai, um vendedor itinerante católico irlandês, e da mãe, uma dona de casa episcopaliana de origem galesa. Foi o tio que lhe despertou o interesse pela geologia e, cedo, Terence desenvolveu aquela que chamou ser "a sua primeira obsessão": procurar fósseis sozinho nos vales secos próximos de casa. Esta paixão, conjugada com uma imaginação fértil, levou-o a cultivar uma profunda admiração artística e científica pela natureza.

Em 1962, com 16 anos, a família mudou-se para Los Altos, na Califórnia, e foi em Lancaster que terminou o secundário. Segundo o próprio Terence, começou a experimentar cannabis pouco depois de completar 17 anos, em 1963, hábito que rapidamente se tornou regular. Nesse mesmo ano, descobriu o universo literário dos psicadélicos através de The Doors of Perception and Heaven and Hell, de Aldous Huxley.

A sua primeira experiência psicadélica

Terence McKenna: A Sua Primeira Experiência Psicadélica

Em 1965, Terence McKenna ingressou na Universidade da Califórnia em Berkeley para estudar História da Arte. No verão de 1966, McKenna viveu durante algum tempo no mesmo corredor que um "rapaz estranho, cujo apartamento tinha as janelas tapadas e todas as lâmpadas pintadas de vermelho". Este passava os dias a tocar os acordes de "Freight Train" na guitarra. Viria a ser este jovem, Barry Melton, guitarrista principal dos Country Joe and the Fish, que o iria introduzir no universo dos ácidos.

Segundo o próprio Terence, a primeira experiência psicadélica teve "qualidades únicas que nunca mais se repetiram", descrevendo ainda que passou "cerca de uma hora entre lágrimas de deslumbramento e risos incontroláveis".

O interesse de McKenna pelo mundo psicadélico mantém-se

Em 1967, enquanto frequentava a universidade, descobriu a religião popular tibetana e começou a dedicar-se ao seu estudo, o que o acabou por conduzir ao xamanismo — fase a que chamava de "opium e cabala". Em 1969, o seu fascínio pela pintura tibetana e pelo xamanismo com recurso a substâncias alucinogénias era tal que decidiu viajar até ao Nepal para aprender a língua tibetana.

Chegou ainda a tentar a sorte como contrabandista de haxixe, mas quando uma das suas remessas foi apanhada pelas autoridades alfandegárias dos EUA, viu-se forçado a fugir à justiça e começou a vaguear pelo Sudeste Asiático. Por lá, visitou ruínas, coleccionou borboletas na Indonésia e até deu aulas de inglês em Tóquio. Após estas aventuras pelo Oriente, regressou a Berkeley para prosseguir os estudos em biologia, a que chamava de "primeiro amor".

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Cogumelos mágicos

Magic Mushrooms

Em 1971, ele, o seu irmão mais novo Dennis e três amigos aventuraram-se na floresta amazónica colombiana em busca de uma planta chamada Oo-koo-hé, que supostamente continha Dimetiltriptamina (DMT). No entanto, em vez de Oo-koo-hé, depararam-se com a utilização de várias infusões de Ayahuasca e Yagé, bem como cogumelos da espécie Psilocybe cubensis.

Estes "cogumelos mágicos" passaram rapidamente a ser o novo centro das atenções da expedição e, em La Chorrera, ele e o irmão tornaram-se os protagonistas de uma experiência autodidacta. Segundo uma entrevista posterior com Terence, esta experiência colocou-o "em contacto com o 'Logos', uma voz divina e informativa que transmitia revelações."

Em 1972, regressaram a Berkeley e desenvolveram métodos para cultivar cogumelos com psilocibina, enquanto Terence avançava com a sua licenciatura em ecologia e conservação. Concluiu o curso em 1975 e publicou o seu primeiro livro, em co-autoria com Dennis, "The Invisible Landscape". Inspirada pelas vivências na Amazónia, esta obra foi rapidamente seguida, em 1976, por "Psilocybin".

Um autor de referência e ícone dos psicadélicos

No início da década de 1980, Terence começou a partilhar as suas reflexões sobre drogas psicadélicas e realidade virtual, dando destaque à importância da experiência vivida face às ideias preconcebidas ou doutrinas durante os seus workshops de fim de semana.

Em 1992, publicou dois livros que rapidamente o tornaram uma figura central da contracultura popular. Tanto "Food of the Gods", uma história ousada sobre a ligação entre plantas psicadélicas e a evolução da consciência, como "The Archaic Revival", uma coletânea de artigos e palestras originalmente publicados em revistas e conferências, reforçaram o seu reconhecimento dentro do movimento rave e das festas de dança.

Terence continuou a dar palestras sobre o uso de enteógenos de origem vegetal, psicadélicos, metafísica, e outros temas como xamanismo, linguagem, cronologias históricas e civilizacionais, e até as origens teóricas da consciência humana, nomeadamente a sua teoria do “macaco entorpecido”.

Enfrentar o fim

Dividia então o seu tempo entre as colinas cobertas de sequóias do condado de Sonoma, na Califórnia, e o Havai, mas em 1999 começou a sofrer de dores de cabeça cada vez mais intensas e regressou à sua casa na ilha principal do Havai. Depois de três ataques epiléticos numa só noite, foi levado de urgência ao hospital, onde lhe foi diagnosticado Glioblastoma multiforme. Nos meses seguintes, passou por vários tratamentos.

No final de 1999, Erik Davis realizou aquela que viria a ser a última entrevista com Terence. Durante a conversa, também foi abordada a questão do anúncio do seu falecimento:

"Sempre pensei que a morte me apanharia numa qualquer autoestrada, em poucos instantes terríveis, sem tempo para processar. Ter meses para olhar para essa realidade, refletir, conversar com pessoas e ouvir o que têm a dizer é, de certa forma, uma bênção. É certamente uma oportunidade de amadurecer, de ganhar clareza e colocar tudo em perspetiva. Ser informado por um médico sério e sem sorriso de que só me restam quatro meses de vida muda completamente tudo. ... Torna a vida mais rica e intensa. Quando recebi o diagnóstico, parecia que conseguia ver a luz da eternidade, como William Blake descreve, a brilhar em cada folha. Fiquei tão sensível, que até um simples inseto a caminhar no chão me comovia até às lágrimas."

McKenna partiu demasiado cedo, a 3 de abril de 2000, com apenas 53 anos, rodeado pela família. Deixou a sua filha Klea, o filho Finn e o irmão Dennis.

 


Alexander Shulgin

Alexander “Sasha” Theodore Shulgin sintetizou e testou pessoalmente mais de trezentos compostos psicoactivos ao longo das suas experiências, sendo uma das figuras com maior conhecimento prático e directo sobre psicadélicos. Entre as suas descobertas mais conhecidas destacam-se o DOM e o 2C-B. Na rua, o DOM era muitas vezes referido como STP ou Super LSD. Sasha publicou os resultados das suas investigações em quatro livros e mais de duzentos artigos científicos.

Os primeiros anos

Alexander nasceu a 17 de junho de 1925, em Berkeley, Califórnia, filho de Theodore Stevens Shulgin e Henrietta D. Shulgin. O seu pai, natural de Orenburg, Rússia, mudou-se para os Estados Unidos em 1923, enquanto a sua mãe nasceu no Illinois. Ambos eram professores do ensino público no condado de Alameda.

Em 1941, Alexander iniciou os seus estudos em química orgânica na Universidade de Harvard, mas em 1943 abandonou o curso para integrar a Marinha dos EUA, onde iria ter o seu primeiro contacto com fármacos psicotrópicos. Antes de uma cirurgia, uma enfermeira militar deu-lhe um copo de sumo de laranja, que Alexander pensou estar misturado com alguma substância psicoativa.

Pouco depois de beber o sumo, adormeceu rapidamente, apenas para descobrir no dia seguinte que, afinal, lhe tinha sido dado um placebo. Este episódio despertou o seu interesse pela psicofarmacologia, pois ficou impressionado com o facto de "uma fracção de um grama de açúcar o ter deixado inconsciente."

Após servir na Marinha, regressou a Berkeley, onde concluiu o doutoramento em bioquímica em 1954. Nos anos seguintes, realizou investigação pós-doutoral nas áreas de psiquiatria e farmacologia na Universidade da Califórnia em São Francisco. Depois de uma breve passagem pela Bio-Rad Laboratories, iniciou funções como químico sénior de investigação na Dow Chemical Company.

Auto-experimentação com psicadélicos

peyote Lophophora williamsii
Lophophora williamsii

No final da década de 1950, teve a sua primeira experiência com mescalina e "percebeu que havia muito por descobrir dentro de si próprio". A verdadeira oportunidade de explorar mais a fundo os efeitos dos psicadélicos surgiu depois de desenvolver o primeiro pesticida biodegradável, o Zectran.

O Zectran revelou-se uma patente altamente lucrativa, o que levou a Dow Chemicals a conceder-lhe liberdade para realizar investigação independente sobre novas drogas e os seus efeitos. Alexander começou então a testar as substâncias em si mesmo, publicando posteriormente os seus resultados em revistas científicas do seu tempo, como o Journal of Organic Chemistry e a Nature.

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Durante a década de 60, um pequeno grupo de amigos juntou-se às suas sessões de testes. Todos os resultados das experiências com fenetilaminas e, mais tarde, com triptaminas, foram cuidadosamente documentados. No entanto, após a polémica mediática em torno do consumo de drogas recreativas, a Dow Chemicals proibiu Alexander de publicar as suas experiências e resultados enquanto lá trabalhasse, receando uma reação negativa por parte do público. Em 1965, Alexander deixou a Dow Chemicals para dar aulas no Hospital Geral de São Francisco e em universidades locais.

Entretanto, Alexander e o seu círculo de amigos criaram a Escala de Avaliação de Shulgin para medir as experiências e efeitos de cada substância, elaborando relatórios detalhados sobre centenas de compostos psicadélicos.

Shulgin e o MDMA

Alexander Shulgin And MDMA

Em 1967, na San Francisco State University, Alexander Shulgin teve o seu primeiro contacto com o MDMA através de um estudante de pós-graduação do grupo de química medicinal que orientava.

O MDMA, mais conhecido como Ecstasy ou "E" entre os utilizadores, foi inicialmente sintetizado e patenteado pela Merck em 1912. No entanto, esta substância permaneceu praticamente intocada até que Alexander desenvolveu um novo método de síntese e, em 1976, entregou a substância a Leo Zeff, um psicólogo de Oakland, Califórnia. Zeff passou então a utilizar pequenas doses de MDMA com os seus pacientes, como complemento à terapia, e deu a conhecer a substância a centenas de psicólogos em todo o país.

Enquanto autor publicado, Shulgin entra em conflito com a DEA

Alexander Shulgin atuou como perito e colaborou com a DEA, fornecendo amostras farmacológicas. Em 1988, publicou o manual "Controlled Substances: Chemical & Legal Guide to Federal Drug Laws". Para exercer estas funções, recebeu uma licença Schedule I, o que lhe permitiu criar um laboratório analítico e trabalhar legalmente com substâncias controladas sintetizadas por ele próprio.

Em 1991, juntamente com a mulher, lançou "PiHKAL - Uma História de Amor Química", título que significa "Phenethylamines I Have Known and Loved". A obra é composta por dois volumes: o primeiro narra a história entre um farmacologista e a sua esposa; o segundo apresenta instruções detalhadas para a síntese de mais de 200 compostos psicadélicos — muitos deles descobertos pelo próprio Shulgin —, além de bioensaios, dosagens e comentários especializados.

Em 1994, a DEA exigiu a devolução da licença de Shulgin devido a alegadas violações e invadiu o seu laboratório. Nos 15 anos que antecederam a publicação do PiHKAL, duas inspeções agendadas não detetaram irregularidades, mas, mesmo assim, Shulgin foi multado em 25.000 dólares pela posse de amostras analíticas.

Richard Meyer, porta-voz da delegação da DEA em São Francisco, afirmou que "aqueles livros eram praticamente manuais de receitas para fabricar drogas ilegais" e referiu ainda que agentes encontraram cópias daquelas obras em laboratórios clandestinos alvo de rusgas. No entanto, Alexander e Ann continuaram a desenvolver e a estudar novas substâncias psicoativas, sempre dentro dos limites da lei, e em 1997 publicaram "TiHKAL - A Continuação".

O título "TiHKAL" significa "Tryptamines I Have Known and Loved" e refere-se a uma família de drogas psicoativas chamadas triptaminas. Tal como o PiHKAL, divide-se em duas partes: a primeira continua a autobiografia ficcional de um farmacologista; a segunda reúne ensaios sobre temas que vão da psicoterapia, à mente segundo Jung, à prevalência do DMT na natureza, Ayahuasca e a guerra às drogas.

Com o apoio de Tania Manning e Paul F. Daley, Shulgin publicou, em março de 2011, a aguardada compilação "The Shulgin Index", uma referência abrangente sobre psicadélicos conhecidos.

Alexander Shulgin faleceu em 2014, de forma pacífica, na sua casa no norte da Califórnia.

A defender a educação, não a criminalização

Alexander defendia que o governo não devia criar leis que interfiram nos comportamentos pessoais das pessoas e que tudo depende das motivações, da finalidade, da forma e da frequência com que as drogas são consumidas. Ao invés disso, fornecer orientações claras sobre uma utilização responsável poderia realmente ajudar a evitar abusos. Como acontece com o café, o álcool, o sal ou a gordura, a moderação é essencial.

 


Doña María Sabina  

De acordo com R. Wasson, etnomicologista e banqueiro norte-americano, Doña María Sabina nasceu a 17 de março de 1894. No entanto, a sua mãe, María Concepción, afirmava que a filha tinha nascido no dia dedicado à Virgem Madalena, que se celebra a 22 de julho.

O pai de Doña María, Crisanto Feliciano, faleceu de doença quando ela tinha apenas três anos de idade, levando a mãe a mudar-se com ela e com a irmã mais nova, María Ana, para a Sierra Mazateca, no sul do México, onde passaram a viver na casa dos avós maternos.

Primeiro contacto com os cogumelos mágicos

A Doña María teve o primeiro contacto com os cogumelos mágicos ainda em criança. Recorda-se de, aos sete anos, brincar com a irmã mais nova enquanto tomavam conta dos animais da família e reparar num grupo de cogumelos fascinantes a crescer debaixo de uma árvore. Reconheceu, de imediato, que eram os mesmos cogumelos usados pelo curandeiro local, Juan Manuel, nos seus rituais de cura. Decidiu então apanhar alguns e comê-los, convidando a irmã a fazer o mesmo. Pouco depois, ambas sentiram os efeitos místicos destes cogumelos.

Ao longo dos meses seguintes, continuaram a consumir os cogumelos mágicos em várias ocasiões. Apesar de a mãe, certa vez, ter percebido que algo se passava — pois as irmãs riam e cantavam cheias de alegria —, nunca houve qualquer repreensão pelo consumo dos cogumelos.

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Doña María e o poder da psilocibina

O Poder da Psilocibina

Quando tinha apenas oito anos, o tio de Doña María adoeceu gravemente. Diversos curandeiros das serras próximas à sua aldeia tentaram de tudo com as suas ervas, mas em vez de melhorar, o estado dele só se agravava. Lembrou-se, então, dos cogumelos que já tinha tomado anteriormente, que lhe tinham prometido auxílio sempre que precisasse.

Foi buscar alguns desses cogumelos sagrados e tomou-os. Sob o efeito deles, pediu aos cogumelos orientação sobre como poderia ajudar o tio a recuperar a saúde. Os cogumelos revelaram-lhe que teria de lhe dar uma erva especial, capaz de expulsar o "espírito maligno" que se tinha alojado no sangue do tio e o possuía.

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Os cogumelos disseram-lhe ainda que seriam necessárias outras folhas — diferentes das que os xamãs tinham usado —, e que as encontraria num local das montanhas onde a água do ribeiro era límpida e as árvores cresciam altas. Sabendo exatamente o sítio a que os cogumelos se referiam, correu para lá, colheu a erva, preparou um remédio e deu-o ao tio. Poucos dias depois, ele estava curado.

Foi este episódio que fez Doña María perceber qual seria o seu destino. Com o passar dos anos, tornou-se uma "Sabia" — uma mulher de sabedoria — respeitada e admirada na sua aldeia. Dezenas e dezenas de pessoas enfermas e aflitas procuraram o seu auxílio ao longo das décadas em que realizou cerimónias de cura.

O mundo descobre uma curandeira especial

Em 1955, o pequeno povoado de Huautla de Jiménez, no estado mexicano de Oaxaca, recebeu a visita do primeiro ocidental. R. Gordon Wasson, um etnomicologista e banqueiro norte-americano, viajou até à terra natal de Doña María e tornou-se o primeiro estrangeiro a participar numa velada com ela. Wasson levou esporos para Paris, onde a espécie foi identificada como Psilocybe mexicana. Em 1958, o químico suíço Albert Hofmann conseguiu isolar e sintetizar os seus principais compostos ativos.

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Ainda que Wasson tivesse tentado manter o anonimato de Doña María, a história da curandeira Mazateca e as experiências proporcionadas pelos seus cogumelos mágicos rapidamente se espalharam pelo Ocidente, sobretudo depois de ter publicado o seu relato sobre Doña María e as suas cerimónias na revista Life, em maio de 1957.

Em pouco tempo, milhares de curiosos, cientistas e entusiastas começaram a rumar à Serra Mazateca. Entre eles contavam-se celebridades dos anos 60, como John Lennon, Bob Dylan, Mick Jagger, Keith Richards, e até mesmo agentes da CIA que, de forma disfarçada, procuravam recolher amostras destes cogumelos mágicos.

Arrependimento e atenção indesejada

Doña María afirmou:

"Antes de Wasson, ninguém consumia os cogumelos sagrados simplesmente para encontrar Deus. Eram sempre usados para curar os doentes."

Outra citação notável demonstra o seu pesar por ter revelado os seus segredos a Wasson:

"Desde que chegaram os estrangeiros, as 'crianças sagradas' perderam a sua pureza. Perderam a força, ficaram estragadas. A partir de agora, já não vão funcionar. Não há solução para isso."

Cada vez que concedia aos visitantes aquilo que buscavam e cada vez que realizava as suas cerimónias, entregava um pouco de si própria.

Não demorou até que a polícia mexicana desconfiasse de que ela estaria a vender drogas aos estrangeiros, o que trouxe uma atenção indesejada e alterou profundamente a dinâmica social da comunidade mazateca, pondo em risco todo o costume ancestral. A comunidade responsabilizou Doña María, acabando por expulsá-la e incendiar a casa onde sempre vivera.

Doña María Sabina, a curandeira mais famosa e respeitada do mundo, faleceu a 23 de Novembro de 1985.

 


Alex Grey

Alex Grey, reconhecido artista visionário e filósofo, destacou-se pelas suas pinturas psicadélicas multidimensionais. Movido por uma profunda curiosidade sobre a consciência, as suas obras retratam visões sobre a vida, a morte e o espaço intermédio. Grey ganhou notoriedade pelos seus retratos dos sistemas energéticos do corpo humano e o seu significado espiritual.

Primeiros anos

Nasceu a 29 de novembro de 1953, em Columbus, Ohio, sendo o filho do meio numa família de classe média. Desde cedo, Alex revelou uma paixão pela arte, incentivada pelo pai, que era designer gráfico. Logo nas primeiras criações, começavam já a emergir os temas da morte e transcendência que mais tarde definiriam o seu estilo único.

Aos 18 anos, Alex entrou na Columbus College of Art and Design com uma bolsa de estudos integral, mas acabou por abandonar o curso aos 21. Passou então a pintar painéis publicitários para uma empresa local, mas rapidamente se desiludiu com a rotina, mantendo-se nessa função apenas durante um ano.

Primeiros contactos com psicadélicos

Em 1974, Alex aceitou um cargo como assistente de estúdio em Boston, onde estudou sob a orientação do artista conceptual Jay Jaroslav na School of the Museum of Fine Arts. Foi precisamente aqui que Alex atingiu o auge do seu desenvolvimento artístico. Pouco depois de assumir o posto, conheceu Allyson, a sua futura esposa.

Juntos, começaram a experimentar LSD e outras substâncias psicadélicas, na tentativa de expandir as suas mentes. Esta vivência foi decisiva para que Alex passasse de uma perspetiva existencial agnóstica para um transcendentalismo radical. Esta foi uma descoberta que ambos continuaram a explorar em conjunto, aprofundando a ligação consigo próprios e com o universo.

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Trabalhar com anatomia humana

A trabalhar com anatomia humana

Mais tarde, Alex aceitou um emprego na Universidade de Harvard, no departamento de Anatomia, onde preparava cadáveres para dissecação. Esta função permitiu-lhe estudar o corpo humano de perto, aperfeiçoando ainda mais a sua técnica. Ainda em Harvard, colaborou com o Dr. Herbert Benson e a Dr.ª Joan Borysenko como tecnólogo de investigação, conduzindo estudos sobre energias de cura.

Embora não pareça uma escolha óbvia para um artista, o contacto com a anatomia teve um impacto significativo no realismo e no nível de detalhe que Alex hoje integra nas suas pinturas anatómicas. Os médicos de Harvard ficaram tão impressionados com o rigor das suas obras que lhe ofereceram trabalho como ilustrador anatómico para a universidade.

Na etapa seguinte da sua vida, Alex dedicou-se a aprofundar a carreira académica, conjugando o conhecimento adquirido em Harvard com o seu talento artístico. Durante a década seguinte, leccionou Anatomia Artística e Escultura de Figura Humana na Universidade de Nova Iorque, para além de orientar workshops de arte em várias cidades dos EUA. Tanto Alex como a sua esposa, Allyson, continuam atualmente a liderar workshops da Mystic Artists Guild International (MAGI) na Chapel of Sacred Mirrors, em Wappinger, Nova Iorque.

A Capela dos Espelhos Sagrados

Capela dos Espelhos Sagrados

Capela dos Espelhos Sagrados

Ao longo da sua vida, Alex Grey criou uma série de pinturas de tamanho real intituladas Espelhos Sagrados. Iniciada em 1979, esta coleção tornou-se o núcleo da sua capela. Cada obra convida os visitantes a embarcar numa viagem introspectiva, explorando o corpo, a mente e o espírito, e ajudando-os a alcançar uma conexão mais profunda com a sua própria espiritualidade e divindade interior. Depois de concluir os Espelhos Sagrados, Alex aplicou a sua perspectiva multidimensional a outras experiências fundamentais da vida, como a oração, o nascimento e a morte.

Em 1996, Alex co-fundou a Fundação para a Capela dos Espelhos Sagrados Ltd, uma organização dedicada a inspirar criatividade, compaixão e sabedoria integral em todos aqueles que a procuram. Com o aumento do seu reconhecimento e impacto, especialmente enquanto referência em práticas espirituais, celebrações e cerimónias sagradas, a entidade foi oficialmente reconhecida como uma religião em 2008.

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Desde então, tanto Alex como a sua mulher conquistaram ainda maior relevância no mundo espiritual; Alex é atualmente considerado um dos 20 líderes espirituais mais influentes da atualidade pela Watkins Review, figurando ao lado de nomes como o Dalai Lama e Eckhart Tolle. A organização Temple of Understanding reconheceu ambos os Grey como dois dos 50 líderes inter-religiosos mais importantes do mundo.

Alex reside atualmente na Capela dos Espelhos Sagrados, que foi transferida para uma propriedade de 40 acres em Wappinger, Nova Iorque, quando passou a ser oficialmente uma religião. Hoje, este espaço serve de retiro espiritual para quem o procura, oferecendo jardins luxuriantes, espelhos de água, cerimónias espirituais, workshops místicos, uma biblioteca extensa e áreas de convívio comunitário. É um verdadeiro centro de despertar espiritual.

Steven Voser
Steven Voser
Steven Voser é um jornalista independente especializado em canábis, com mais de seis anos de experiência a escrever sobre todos os aspetos da planta: desde os métodos de cultivo, às melhores formas de consumo, passando ainda pelo dinâmico setor e pelo complexo enquadramento legal que o envolve.
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